Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
REDESCOBERTA DO EU INTERIOR
O mundo moderno, preocupado com o consumo, o lucro e
a competição, envolve-se na fumaça das glórias externas, esquecendo-se da
realidade interna, cuja existência muitas vezes não chega a vislumbrar. O
raciocínio lógico impede a abertura para a intuição. A meditação, a
interiorização, a arte, conduzem-nos a esta limiar de luz, e, portanto, trazem
consigo a paz interior.
A arte é uma das formas mais penetrantes de
redescoberta deste Eu interior, que todo homem possui, mas, muitas vezes, não
chega a perceber. Os artistas têm espontaneamente a tendência de abrir a porta
da intuição e deixar que o Eu interno fale: seja na combinação de cores, de
sons ou de palavras. Esta abertura para a intuição coloca-os de certo modo em
atitude receptiva, deixando fluir o que estava adormecido no inconsciente.
A intuição ilumina a mente durante o curso do
trabalho, ou chega de surpresa, muitas vezes de madrugada, quando tudo dorme. A
maior riqueza do artista é o diálogo silencioso que trava consigo mesmo,
superando os dias de sucesso ou de fracasso. Este diálogo significa para ele
forma de purificação e equilíbrio. Muitos artistas conseguiram este equilíbrio
e chegaram a testemunhá-lo em seus depoimentos. Mas, para isto, tiveram de se
manter na indiferença às solicitações e pressões externas, aos acenos do lucro,
da ambição e das glórias. Os prêmios e o reconhecimento público são importantes
na medida em que colaboram para o incentivo e o aumento da criatividade. A
criatividade é a chama que deve se manter acesa, em contato permanente com a
vida interior.
Mas este encontro com o Eu interior não é privilégio
dos artistas, todo ser humano é um criador em potencial, portanto nasceu com a
predisposição para entrar em contato com a realidade interna, chave de sua
integração. O trabalho feito com amor, colabora nesta integração. O homem que
segue suas tendências naturais, que se desenvolve dentro da profissão para a
qual foi chamado, está colaborando de certo modo para o seu próprio equilíbrio
e para o equilíbrio daqueles que o cercam. Sentir-se integrado naquilo que se
faz, é fator importantíssimo não só para o rendimento do trabalho, como para o
desenvolvimento e progresso do meio em que se vive. O trabalho feito em
ressonância com a vocação de cada um, do cozinheiro ao sapateiro, do camponês
ao industrial, do médico ao engenheiro, da dona de casa à modista, ajuda na
reconstrução da pessoa humana equilibrando suas energias internas e externas.
Muitas vezes nos entregamos a tarefas que não gostamos, julgando ser este o
nosso dever, não reservando um só momento para o desenvolvimento de nossa
vocação. Esquecemo-nos de que ela nos foi dada por Deus para ser desenvolvida,
e não reprimida. Por meio dela seremos livres. Desenvolver a própria vocação
não é forma de egoísmo, mas procura de totalidade.
Nesta época de massificação e desajuste social, é
necessário compreender que as energias do homem precisam se integrar, crescendo
em harmonia com suas aspirações, de acordo com suas tendências naturais. Esta
integração virá beneficiar o progresso do homem como pessoa, refletindo-se em
seu ambiente. O despertar das energias interiores através do desenvolvimento
das inclinações individuais se dará no trabalho, no esporte, na arte, no estudo
ou na reflexão.
*Fotos de arquivo e da internet
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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
GUARDANAPOS DE CARLOS STARLING
“Guardanapos” é o título do livro de Carlos Starling
, escrito ao sabor do momento, nas mesas, nos jantares, nos encontros com
amigos. Carlos Starling é médico infectologista, especialista em Medicina
Preventiva e Social, mestre e professor de Medicina, poeta, escritor, gourmet e
ciclista.
Logo de cara, me simpatizei com o livro, pois também
escrevo em qualquer papel que estiver
à minha frente. Somos escritores repentistas, do momento. Guardanapos,
escrito em guardanapos, é um depoimento sensível das vivências de um médico,
cientista, escritor, pai de família. Nada escapa à sua visão da vida, o mundo
externo provocando palavras, rimas poéticas.
O dia a dia de um poeta é registrado no seu
cotidiano, no trem que passa, nas filhas brincando, nas vivências íntimas de um
médico escritor...
Aliás, por que os médicos, de um modo geral, gostam
tanto de arte?
Meu marido, Luiz Andrés, não escrevia poemas, mas
apreciava a arte, enxergava o futuro de seus familiares artistas, dava incentivo
e preparava para mim telas enormes...
Fico pensando no quanto devo a ele o incentivo e
coragem para seguir em frente. Ele me dizia sempre:
“Artista não pode ficar parado aqui em Belo
Horizonte, tem de conhecer outros lugares. E com este incentivo tive coragem de
me aventurar pelo mundo...
Mas, voltemos ao nosso amigo Carlos, casado com
minha neta Joana.
Agora tenho nas mãos o seu livro e volto a refletir
sobre o médico poeta.
A medicina é também uma arte, a arte de cuidar do
ser humano, tornar mais leve o seu sofrimento, curá-lo.
No momento, tendo Joana ao seu lado, Carlos pesquisa
sobre o papel que está em sua frente, no restaurante, enquanto espera o almoço
chegar.
É ali, naquele momento, que a poesia vem à tona em
sua intensidade. Quantos guardanapos seriam necessários para um poema intensivo
como “Síria”?
Da sua coletânea este poema é o que mais nos toca no
momento em que a Síria está sendo destruída e arrasada pela ira dos canhões.
O problema dos refugiados, da Síria destruída ali
está registrado de forma poética.
“Guardanapos” é uma coletânea de 26 poemas de
centenas escritos por Carlos. O livro foi idealizado e produzido por sua esposa
Joana Caporali Andrés Starling. Produzido secretamente, o livro foi um presente
de aniversário de Joana para Carlos, e apresenta um pequeno recorte de décadas
de escrita.
SÍRIA
Fujo
para a vida,
Lanço
minha sorte ao mar.
Deixo
meu quintal,
Meu
parreiral,
Meus
lírios que não floriram.
Ondas
levam meus sonhos,
Meus
filhos,
Meus
álbuns de família.
Ancoro
num deserto de farta solidão,
Sou
um número,
Uma
onda dissonante,
Uma
imagem repetida.
Abro
os olhos do mundo
Para
o futuro incerto...
Amor
é o que espero,
Vida
é o que quero,
Apenas
vida.
Síria,
Síria,
Minha
Síria,
Otomana,
desértica,
Minha
Síria, Assíria, Curda, Turca,
Minha
Síria Grega, Armena,
Minha
Síria Druza,
Sunita,
Alaudita...
Bendita
Minha
Síria Yasidi,
Árabe
e Cristã.
Minha
Síria tiranizada,
Arrasada
pela ira dos canhões insensatos...
Minha
Síria milenar,
Romana,
Francesa,
Levante,
Levante...
Abrace
seus filhos com carinho.
Minha
Síria plural,
Plana,
Fertil,
Eufrates.
Onde
foram seus filhos?!
Abrace-os,
abrace-os...
Minha
Síria Damasco,
Alepo,
Latakla,
Hama,
Ama
teus filhos,
Para
onde foram teus filhos?!
Abrace-os...
Levante...
Levante...
Minha
Síria de Bana Alabed,
De
Bana e Fatermah
Pede
paz,
Paz
é o que pede Bana Alabed...
Paz Levante.
Levante
paz...
(Novembro
de 2016)
*Fotos
de arquivo
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