Ferreira Gullar esteve em Belo Horizonte para a
inauguração de sua exposição de colagens em relevo. Não me foi possível chegar
a tempo para conhecê-lo pessoalmente, mas sua obra falou por ele. Falou de um
potencial criador que se multiplica em diversas facetas, sem perder a essência.
Segundo
o depoimento do próprio artista, todas as obras foram feitas seguindo a direção
do acaso: “Inicialmente, desenhava garrafas, bules e cálices, recortava papéis
coloridos e colocava em cima. Um dia, porém, já havia posto os recortes sobre o
desenho para em seguida colá-los, quando meu gato deu um tapa na folha de papel
e desarrumou os recortes. Colei-os tal como estavam: disso resultou que o
desenho era a ordem e os recortes coloridos, a desordem. Depois não mais
desenhava: jogava os recortes de papel e, conforme caíssem, os colava. Assim
nasceram aves, dragões, cobras e lagartos, com os quais compus livros para
criança (e para adultos também). E foi então que surgiram as colagens em
relevo.”
Ferreira
Gullar liderou o movimento neoconcretista no Rio, tendo como parceiros vindos
de Minas, os artistas Amílcar de Castro, Lygia Clark e Franz Weissmann.
O
movimento concretista surgido em São Paulo na década de 50 inspirou artistas
que não pertenciam ao famoso eixo Rio-São Paulo. De Minas Gerais um pequeno grupo
era formado por Mario Silésio, Marília Gianetti Torres, Nelly Frade e eu. Nossa
amiga e colega Mary Vieira também se entusiasmou pelo concretismo de Max Bill e
foi buscar na Suíça um aperfeiçoamento para o seu trabalho, tornando-se uma
artista de renome internacional. O grupo de Minas, considerado independente, era
ligado com grande entusiasmo às ideias concretistas nascidas na 1ª Bienal de São
Paulo. Tínhamos o apoio de Mário Pedrosa, que muitas vezes nos visitava em Belo
Horizonte. Nosso grupo foi pequeno mas
atuante. Agora, percorrendo a exposição de Ferreira Gullar, vou relembrando o
passado e refletindo sobre o presente.
Os
trabalhos de Gullar expostos na Galeria Lemos de Sá, em Nova Lima, revelam sua
origem neoconcretista retomada em nova linguagem, em 2015. Gullar é crítico e
também artista. Acompanho de longe o trabalho desse grande poeta, recentemente eleito
como imortal na Academia Brasileira de Letras. Pertencemos à mesma geração e
somos “sobreviventes” que testemunharam uma grande mudança que ocorreu no
Brasil na década de 50, e até hoje se desdobra em novas linguagens e novos
caminhos.
*Fotos
de Maurício Andrés
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