Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sexta-feira, 17 de julho de 2015
NOTURNOS DE SARA ÁVILA
Quando conheci Sara Ávila, nos idos tempos da Escola
Guignard, quando ainda no parque municipal, ela era uma menina de um desenho
muito sensível. Desenhava e pintava aquarelas de flores, muito apreciadas pelo
mestre Guignard. Agora, sentada numa cadeira em frente ao grande painel
“Noturno de Belo Horizonte”, fico pensando nas flores que me lembravam estrelas
e este imenso e monumental painel que me lembra o céu estrelado. Pintado pouco
antes do seu falecimento, o painel “Noturno de Belo Horizonte” é uma maravilhosa
despedida do planeta, para habitar espaços superiores, cheios de luz.
Sara, com sua fase de “flotagem”, ficou reconhecida
internacionalmente, mas não fazia uso disso, para se colocar acima dos colegas.
Era discreta ao receber convites e homenagens fora do Brasil. Pertenceu por muitos
anos ao grupo “Phases”, sediado na França e com o grupo percorreu a Europa e as
Américas.
Na Escola Guignard foi professora de desenho e de
criatividade, com um trabalho semelhante ao de Lygia Clark. Quebrar os condicionamentos
através de jogos criativos, foi sua tarefa por muitos anos na Escola Guignard,
e com isto conquistou a amizade dos jovens iniciantes nas artes.
Conversávamos muito sobre os projetos de cada uma e
Sara se tornou uma grande amiga.
Agora, contemplando o painel “Noturno de Belo
Horizonte”, exposto na sala de exposições da Escola onde ela estudou e se
tornou professora e diretora, fico pensando no grande poder que a arte tem de
transmitir vibrações de deslumbramento e alegria perante a vida.
Ao se transferir de sua residência na Savassi para o
bairro Belvedere, Sara se encantou com a cidade vista do alto, totalmente
iluminada.
Esta série de “Noturnos” está aberta à visitação
pública, na Escola Guignard e merece ser vista.
*Fotos da internet
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sexta-feira, 3 de julho de 2015
A REVELAÇÃO DO AVESSO, EXPOSIÇÃO DE FERREIRA GULLAR
Ferreira Gullar esteve em Belo Horizonte para a
inauguração de sua exposição de colagens em relevo. Não me foi possível chegar
a tempo para conhecê-lo pessoalmente, mas sua obra falou por ele. Falou de um
potencial criador que se multiplica em diversas facetas, sem perder a essência.
Segundo
o depoimento do próprio artista, todas as obras foram feitas seguindo a direção
do acaso: “Inicialmente, desenhava garrafas, bules e cálices, recortava papéis
coloridos e colocava em cima. Um dia, porém, já havia posto os recortes sobre o
desenho para em seguida colá-los, quando meu gato deu um tapa na folha de papel
e desarrumou os recortes. Colei-os tal como estavam: disso resultou que o
desenho era a ordem e os recortes coloridos, a desordem. Depois não mais
desenhava: jogava os recortes de papel e, conforme caíssem, os colava. Assim
nasceram aves, dragões, cobras e lagartos, com os quais compus livros para
criança (e para adultos também). E foi então que surgiram as colagens em
relevo.”
Ferreira
Gullar liderou o movimento neoconcretista no Rio, tendo como parceiros vindos
de Minas, os artistas Amílcar de Castro, Lygia Clark e Franz Weissmann.
O
movimento concretista surgido em São Paulo na década de 50 inspirou artistas
que não pertenciam ao famoso eixo Rio-São Paulo. De Minas Gerais um pequeno grupo
era formado por Mario Silésio, Marília Gianetti Torres, Nelly Frade e eu. Nossa
amiga e colega Mary Vieira também se entusiasmou pelo concretismo de Max Bill e
foi buscar na Suíça um aperfeiçoamento para o seu trabalho, tornando-se uma
artista de renome internacional. O grupo de Minas, considerado independente, era
ligado com grande entusiasmo às ideias concretistas nascidas na 1ª Bienal de São
Paulo. Tínhamos o apoio de Mário Pedrosa, que muitas vezes nos visitava em Belo
Horizonte. Nosso grupo foi pequeno mas
atuante. Agora, percorrendo a exposição de Ferreira Gullar, vou relembrando o
passado e refletindo sobre o presente.
Os
trabalhos de Gullar expostos na Galeria Lemos de Sá, em Nova Lima, revelam sua
origem neoconcretista retomada em nova linguagem, em 2015. Gullar é crítico e
também artista. Acompanho de longe o trabalho desse grande poeta, recentemente eleito
como imortal na Academia Brasileira de Letras. Pertencemos à mesma geração e
somos “sobreviventes” que testemunharam uma grande mudança que ocorreu no
Brasil na década de 50, e até hoje se desdobra em novas linguagens e novos
caminhos.
*Fotos
de Maurício Andrés
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quinta-feira, 2 de julho de 2015
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