quinta-feira, 18 de junho de 2015


JACA E OS NAVEGANTES

A cada dia me surpreendo mais com as realizações da nova geração.
Fundado em 2011 por um grupo de jovens tendo a frente Francisca Caporali, o Jaca vai caminhando a passos largos, promovendo encontros, residências de artistas, trabalhos comunitários, e uma grande contribuição para a arte contemporânea no Brasil.
Ao final do ano de 2014 o Jaca se apresentou na grande galeria do Palácio das Artes, ali realizando um trabalho coletivo com artistas vindos de vários países das Américas.
Cada um deles trazia uma contribuição valiosa de suas experiências em diversas áreas de arte, uma abertura de consciência para os problemas que afligem os diversos grupos sociais.
Suas propostas iluminavam caminhos diversos, mostrando a capacidade dos jovens de propor situações criativas para a sociedade. Foi publicado num jornal – “A noite branca” com relatos de diversos artistas residentes.
Hoje, o Jaca propõe uma instalação bastante inovadora: diversos containers superpostos e distribuídos num espaço bem planejado estão servindo de abrigo para esta turma super criativa.
Hoje, no panorama mundial, instalações caminharam dos espaços fechados dos museus e galerias  para o céu aberto, haja visto as instalações de Inhotim com os módulos de Hélio Oiticica, e as esculturas onduladas do escultor  “Serra” no Gibbs Farm (Uma fazenda na costa leste de Nova Zelândia).
Os containers superpostos já viajaram por mares, chegaram a países, desembarcaram cargas, fazendo o intercambio comercial como fizeram em tempos atrás os navegantes com suas caravelas.
Agora, condenados ao silêncio e à imobilidade, esses containers coloridos são reutilizados para viver novas experiências. Esse grupo de jovens artistas corajosos decidiu traçar novos caminhos para esses módulos e os utilizaram como abrigo de um espaço de arte. Entrar em um container, tomar um chazinho feito pelos jovens na cozinha da nova sede do Jaca é uma experiência muito gratificante.
Procurar novos caminhos para este tumultuado século XXI, é uma proposta corajosa que serve de exemplo para outros artistas.
“Tudo aqui foi feito e orientado por nós” nos informou um dos artistas residentes.
Para mim foi uma experiência prazerosa usufruir deste projeto que de certo modo realiza um antigo desejo meu de usar um vagão de trem para servir de galeria de arte. Poderia ser em nossa fazenda, em Entre Rios de Minas.
Cortando a fazenda existe uma estrada de ferro que conduz o minério para o litoral do Brasil. Até hoje nenhum parou para me ceder o vagão.
Este meu projeto ficou apenas no sonho, a realidade está aqui, no Jardim Canadá, inaugurado por minha neta, Francisca.

*Fotos da internet

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quinta-feira, 4 de junho de 2015


TRÊS PIERRES E A ECOLOGIA DO SER


 Recebi de Maurício Andrés Ribeiro, o texto que transcrevo abaixo:                                   

 “O estudo da evolução da vida e da consciência assenta-se sobre algumas pedras fundamentais. Três Pierres, com visão cósmica e prospectiva, contribuíram para compreendê-la.

Pierre Teilhard de Chardin, padre e cientista com vivência na China, estudou a evolução e o fenômeno humano. Elaborou o conceito de noosfera, o conjunto de energias mentais, pensamentos, informações, geradas ou captadas desde o início da vida, que constitui uma sutil camada de consciência que circunda o planeta. Teilhard de Chardin propõe que a evolução promove a convergência de forças ascendentes para um ponto ômega.
 Pierre Dansereau, botânico e biogeógrafo do Quebec, no Canadá, foi um pioneiro da ecologia humana. Transportando-nos numa viagem no tempo, ele desenhou um diagrama no qual sintetizou as várias etapas na relação do ser humano com o ambiente. Desde a pré história até a atualidade, houve a fase da coleta de frutos e depois a caça e a pesca; em seguida, o pastoreio, com a domesticação de espécies animais; a domesticação dos vegetais, na revolução agrícola. No século XVIII a revolução industrial amplificou os impactos da ação humana sobre a natureza. Na segunda metade do século XX veio a urbanização acelerada. Vivemos a transição entre as fases da urbanização e a do controle climático. Como nona etapa, prospectiva, ele caracterizou a fuga exobiológica, ou transmigração, prenunciada pelas viagens espaciais.
Sua imaginação e inventividade estão presentes na mandala em que ele nos transporta para uma viagem por várias escalas, do pequeno ao grande, do ser humano interior até a família, a cidade, a região e o planeta. No centro dessa mandala ele situou o homem interior e as diversas percepções que tem sobre as paisagens exteriores em função de seus interesses, formações e condicionamentos culturais.  A compreensão dessa diversidade de estágios de consciência, ou noodiversidade, é básica nos processos de mediação de conflitos relacionados com a gestão ambiental. Pierre Dansereau incorporou a noosfera nos diagramas em que desenhou as interações entre a atmosfera, pirosfera, litosfera, hidrosfera, biosfera. Com isso, abriu o campo para integrar a subjetividade e as questões psicológicas às ciências ecológicas, para além da abordagem socioambiental.
Pierre Weil , psicólogo francês naturalizado brasileiro, trabalhou na perspectiva holística com a ecologia integral, que inclui a ecologia ambiental, a social e a ecologia interior. Formulou um método de transmitir a arte de viver em paz com a natureza, com a sociedade e consigo próprio e de reverter os desequilíbrios. Esse método é baseado no conhecimento das emoções, do corpo e do intelecto e no suposto de que a paz interior é fundamental para se alcançar a paz social e com a natureza. Buscou nas tradições do budismo tibetano elementos para trabalhar com os vários centros de energia do ser humano, os valores a eles associados e os comportamentos destrutivos ou positivos que derivam de tais valores.

As contribuições desses três Pierres – Teilhard de Chardin, Dansereau e Weil - ajudam a compreender as transformações da matéria inanimada para a vida e para a consciência.
A ecologia humana, a ecologia cultural, a ecologia pessoal e transpessoal e os demais campos das ciências ecológicas que buscam compreender a consciência humana são valiosos nesse período antropoceno da história. Esses campos, relacionados ao ser humano interior, subjetivo, psíquico, contribuem para o autoconhecimento sobre a espécie humana, que mostra capacidade crescente de, com suas ações, interferir sobre o rumo da evolução no planeta”. (Maurício Andrés Ribeiro é autor de Ecologizar, Tesouros da Índia; Meio Ambiente&EvoluçãoHumana.ecologizar@gmail.com  www.ecologizar.com.br)



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