Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
JACA E OS NAVEGANTES
A
cada dia me surpreendo mais com as realizações da nova geração.
Fundado
em 2011 por um grupo de jovens tendo a frente Francisca Caporali, o Jaca vai
caminhando a passos largos, promovendo encontros, residências de artistas,
trabalhos comunitários, e uma grande contribuição para a arte contemporânea no
Brasil.
Ao
final do ano de 2014 o Jaca se apresentou na grande galeria do Palácio das Artes,
ali realizando um trabalho coletivo com artistas vindos de vários países das
Américas.
Cada
um deles trazia uma contribuição valiosa de suas experiências em diversas áreas
de arte, uma abertura de consciência para os problemas que afligem os diversos
grupos sociais.
Suas
propostas iluminavam caminhos diversos, mostrando a capacidade dos jovens de
propor situações criativas para a sociedade. Foi publicado num jornal – “A
noite branca” com relatos de diversos artistas residentes.
Hoje,
o Jaca propõe uma instalação bastante inovadora: diversos containers
superpostos e distribuídos num espaço bem planejado estão servindo de abrigo
para esta turma super criativa.
Hoje,
no panorama mundial, instalações caminharam dos espaços fechados dos museus e
galerias para o céu aberto, haja visto
as instalações de Inhotim com os módulos de Hélio Oiticica, e as esculturas
onduladas do escultor “Serra” no Gibbs
Farm (Uma fazenda na costa leste de Nova Zelândia).
Os
containers superpostos já viajaram por mares, chegaram a países, desembarcaram
cargas, fazendo o intercambio comercial como fizeram em tempos atrás os navegantes
com suas caravelas.
Agora,
condenados ao silêncio e à imobilidade, esses containers coloridos são
reutilizados para viver novas experiências. Esse grupo de jovens artistas
corajosos decidiu traçar novos caminhos para esses módulos e os utilizaram como
abrigo de um espaço de arte. Entrar em um container, tomar um chazinho feito
pelos jovens na cozinha da nova sede do Jaca é uma experiência muito
gratificante.
Procurar
novos caminhos para este tumultuado século XXI, é uma proposta corajosa que serve
de exemplo para outros artistas.
“Tudo
aqui foi feito e orientado por nós” nos informou um dos artistas residentes.
Para
mim foi uma experiência prazerosa usufruir deste projeto que de certo modo
realiza um antigo desejo meu de usar um vagão de trem para servir de galeria de
arte. Poderia ser em nossa fazenda, em Entre Rios de Minas.
Cortando a fazenda existe
uma estrada de ferro que conduz o minério para o litoral do Brasil. Até hoje
nenhum parou para me ceder o vagão.
Este
meu projeto ficou apenas no sonho, a realidade está aqui, no Jardim Canadá,
inaugurado por minha neta, Francisca.
*Fotos
da internet
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quinta-feira, 4 de junho de 2015
TRÊS PIERRES E A ECOLOGIA DO SER
Recebi de Maurício Andrés Ribeiro, o texto que transcrevo abaixo:
“O estudo da evolução da vida e da consciência assenta-se sobre algumas pedras fundamentais. Três Pierres, com visão cósmica e prospectiva, contribuíram para compreendê-la.
Pierre
Teilhard de Chardin, padre e cientista com vivência na China, estudou a
evolução e o fenômeno humano. Elaborou o conceito de noosfera, o conjunto de
energias mentais, pensamentos, informações, geradas ou captadas desde o início
da vida, que constitui uma sutil camada de consciência que circunda o planeta.
Teilhard de Chardin propõe que a evolução promove a convergência de forças
ascendentes para um ponto ômega.
Pierre Dansereau, botânico e biogeógrafo do
Quebec, no Canadá, foi um pioneiro da ecologia humana. Transportando-nos numa
viagem no tempo, ele desenhou um diagrama no qual sintetizou as várias etapas
na relação do ser humano com o ambiente. Desde a pré história até a atualidade,
houve a fase da coleta de frutos e depois a caça e a pesca; em seguida, o
pastoreio, com a domesticação de espécies animais; a domesticação dos vegetais,
na revolução agrícola. No século XVIII a revolução industrial amplificou os
impactos da ação humana sobre a natureza. Na segunda metade do século XX veio a
urbanização acelerada. Vivemos a transição entre as fases da urbanização e a do
controle climático. Como nona etapa, prospectiva, ele caracterizou a fuga
exobiológica, ou transmigração, prenunciada pelas viagens espaciais.
Sua
imaginação e inventividade estão presentes na mandala em que ele nos transporta
para uma viagem por várias escalas, do pequeno ao grande, do ser humano
interior até a família, a cidade, a região e o planeta. No centro dessa mandala
ele situou o homem interior e as diversas percepções que tem sobre as paisagens
exteriores em função de seus interesses, formações e condicionamentos
culturais. A compreensão dessa
diversidade de estágios de consciência, ou noodiversidade, é básica nos
processos de mediação de conflitos relacionados com a gestão ambiental. Pierre
Dansereau incorporou a noosfera nos diagramas em que desenhou as interações
entre a atmosfera, pirosfera, litosfera, hidrosfera, biosfera. Com isso, abriu
o campo para integrar a subjetividade e as questões psicológicas às ciências
ecológicas, para além da abordagem socioambiental.
Pierre
Weil , psicólogo francês naturalizado brasileiro, trabalhou na perspectiva
holística com a ecologia integral, que inclui a ecologia ambiental, a social e
a ecologia interior. Formulou um método de transmitir a arte de viver em paz
com a natureza, com a sociedade e consigo próprio e de reverter os
desequilíbrios. Esse método é baseado no conhecimento das emoções, do corpo e
do intelecto e no suposto de que a paz interior é fundamental para se alcançar
a paz social e com a natureza. Buscou nas tradições do budismo tibetano
elementos para trabalhar com os vários centros de energia do ser humano, os
valores a eles associados e os comportamentos destrutivos ou positivos que
derivam de tais valores.
As
contribuições desses três Pierres – Teilhard de Chardin, Dansereau e Weil -
ajudam a compreender as transformações da matéria inanimada para a vida e para
a consciência.
A
ecologia humana, a ecologia cultural, a ecologia pessoal e transpessoal e os
demais campos das ciências ecológicas que buscam compreender a consciência
humana são valiosos nesse período antropoceno da história. Esses campos,
relacionados ao ser humano interior, subjetivo, psíquico, contribuem para o
autoconhecimento sobre a espécie humana, que mostra capacidade crescente de,
com suas ações, interferir sobre o rumo da evolução no planeta”. (Maurício
Andrés Ribeiro é autor de Ecologizar, Tesouros da Índia; Meio
Ambiente&EvoluçãoHumana.ecologizar@gmail.com www.ecologizar.com.br)
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