Transcrevo abaixo este
texto do Maurício Andrés Ribeiro sobre a Índia.
“O Centro de Estudos
Indianos da UFMG promove palestras mensais sobre temas da Índia. Fui convidado
para falar sobre as riquezas da Índia para a evolução humana. O público era
jovem, interessado, fez muitas perguntas sobre castas, ecofeminismo, multiculturalismo,
meditação. Ao final foi servido lassi e samosa, partes da cultura culinária
indiana.
Falei que o ser humano
está em evolução, em transição entre o que já foi desde o início da espécie até
o homo sapiens de 160.000 anos e até os nossos dias do antropoceno, o período
da história em que nossa espécie tem uma influência e provoca um impacto
crescente no planeta e no clima. O rumo da evolução daqui para diante será cada
vez mais influenciado pelo comportamento de nossa espécie e, em última
instancia por sua consciência. Se ela pressionar num rumo de ecocídio, poderá
provocar seu próprio colapso. Se tomar juízo e relacionar-se de modo amigável e
harmônico com o ambiente e o planeta, a mãe terra, poderá ter um futuro
promissor. Nesse contexto é que se inserem as riquezas da Índia para a evolução
humana. Riquezas de um povo não são apenas econômicas, financeiras, materiais,
mas também e principalmente as riquezas imateriais e intangíveis que criou e
codificou, com as quais se guia na sua passagem pela terra. São riquezas
filosóficas, de pensamentos e ideias, de práticas e cuidados com a saúde
pessoal e ambiental. A Índia foi uma das duas grandes civilizações (a outra é a
chinesa) que duraram mais de 4000 anos. Teve uma grande capacidade de
resiliências, de responder positivamente às sucessivas ondas de invasões que
sofreu em sua história. Desenvolveu um espírito de tolerância para com as
diferenças, anfitrionando numerosos hospedes que se instalaram no fértil
subcontinente indiano. Cultivou a unidade na diversidade, a consciência da
unidade humana e dali brotaram diversas tradições sapienciais e espirituais.
Para promover a coexistência pacifica entre esses diversos grupos, formulou e
colocou em pratica o princípio da não violência, ou ahimsa, aplicado por Gandhi
para alcançar pacificamente a independência do país em 1947. A psicologia
indiana é muito sofisticada e o vocabulário de psicologia em sânscrito é muito
mais rico do quer aquele em grego ou em inglês, permitindo descrever estados de
consciência de modo mais acurado. A cosmovisão indiana é abrangente e ampla e
sua cosmologia e mitos perduram por milênios. Sua concepção do que é o ser
humano, com sua materialidade, suas emoções, sentimentos, intelecto, a sua
valorização do amplo espectro da consciência, do infra ao ultra consciente, são
riquezas imateriais valiosas num mundo em conflito, limitado em seus recursos
naturais. Por meio do Yoga consegue-se
sintonizar um estado de consciência mais lúcido e a meditação ajuda a
compreender de modo mais abrangente o mundo e a si mesmo. O dharma é a missão
ou tarefa que cada indivíduo ou povo tem a desempenhar em sua vida. Ele não
opõe direitos e deveres, que são ideias ocidentais e a dharmacracia é um modo
de governo que aplica o dharma. Uma visão mundialista na política faz
transcender os nacionalismos e o auto interesse estreito, colocando em primeiro
lugar a saúde da mãe terra. O grande símbolo da Índia é a flor de lótus, que se
alimenta do esgoto e do lodo embaixo, mas também da luz do sol que vem de cima.
Sendo os dois maiores
países tropicais do mundo, Brasil e Índia podem compartilhar muitos
conhecimentos e o Brasil pode se beneficiar da sabedoria de sua irmã mais velha
e experiente. A capacidade antropofágica de digerir as influências de fora, o
jeitinho ou jugaad, o clima a
ecologia tropical e o ambiente, a capacidade de criar e improvisar a partir de
uma base material precária, a criatividade, alegria, espiritualidade e
inteligência espiritual são fatores que aproximam esses dois povos” (Maurício Andrés é autor de "Ecologizar" e "Tesouros da Índia")
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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