A Editora C/Arte acaba
de lançar seu mais recente livro do Circuito Atelier, desta vez dedicado ao
mestre Guignard. O livro é pequeno, ilustrado com desenhos de sua autoria dedicados
à Amalita, Anita e Lola, figuras femininas que lhe deram inspiração. O livro é
todo uma canção de amor à vida e à arte, mostrando aspectos ainda não
conhecidos da vida do grande pintor, educador e pensador que foi Guignard.
Organizado com muito carinho por Marília Andrés e Jacqueline Prado, este
livrinho é uma joia que nos permite ter acesso ao processo de criação do mestre,
suas aspirações, suas ideias e, principalmente, seu amor a Minas Gerais e a
Ouro Preto. Gosto de livros pequenos que nos permitem viajar com as ideias,
levá-las para onde caminhamos. Os livros grandes ficam em casa, em cima da mesa
e dificilmente conseguimos carregá-los. O livrinho de Guignard está me
acompanhando para onde vou.
Ali está concentrado
seu pensamento, suas aspirações e os depoimentos de artistas e críticos sobre
sua vida e obra. Procuramos destacar algumas palavras do mestre, através de pensamentos
que ele transmitia em seus depoimentos.
“Sou um apaixonado por
Leonardo da Vinci, pintor e desenhista...” nos dizia ele.
Em suas aulas na Escola
do Parque, na década de 40, em Belo Horizonte, Guignard colocava nas paredes da
sala as estampas dos grandes mestres europeus tais como Da Vinci, Miguel
Ângelo, Boticelli, Dürer. Anos depois, durante uma viagem à Florença, constatei
nos desenhos de Boticelli, uma afinidade muito grande com os desenhos de
Guignard.
Sua orientação para observarmos a natureza antes
de começarmos a desenhar, permitia uma educação do olhar e nos conduzia a um
encontro com esses grandes mestres do passado.
Guignard sempre
valorizou o desenho como forma indispensável para a realização de qualquer obra
de arte.
Voltamos ao seu
depoimento onde ele focaliza a educação do olhar através da observação da
natureza.
“Há em todo individuo
sinais de sensibilidade pela pintura. Não se manifesta, muitas vezes, tal
sensibilidade, porque não foi convenientemente observada e aproveitada. Para
que vamos à Escola? Não é para aprender a ler e escrever? Da mesma forma
poderíamos todos aprender a desenhar. Esteja certo: uns determinados maus
gostos que ainda existem nesse mundo, são o resultado da falta de educação mais
apurada e enérgica no desenho. E essa educação consiste em apurar a acuidade
dos nervos óticos. É um exercício longo, eu confesso, mas dá excelentes
resultados”.
Como ex-aluna de
Guignard tive a oportunidade de acompanhar o mestre nesses exercícios de
atenção que muitas vezes se assemelham ao treinamento de um discípulo da
meditação vinda do Oriente.
“Minhas exigências são
três”, nos dizia Guignard: “Faço questão de que meus discípulos tenham esses
atributos – disciplina, tenacidade e amor à arte, o resto vai bem pois o meu
ensino consiste em demonstrações práticas tanto no desenho quanto na pintura.
Porque – digamos a verdade – desenhar não é brincadeira. É uma arte muito séria
e nela, só chegaremos a resultados, que podem ser ótimos, com uma grande força
– na observação e na perseverança. Mas não se deve forçar o entusiasmo: ele
nasce de si mesmo ou... não chega a nascer. Mas já entrei em contacto com a
maioria dos meus futuros alunos mineiros, e estou confiante no êxito do meu
curso. Tenho certeza de que, para coroar vitoriosamente os trabalhos deste ano,
com resultados práticos, poderei fazer uma bela “mostra”. Vocês hão de ver-me
trabalhar! O meu obstinado interesse pelo desenho chega, muitas vezes, a tal
concentração visual e do espírito, que me esqueço de tudo mais...até do
almoço.”
Este entusiasmo o
Guignard conseguiu passar para seus alunos e aqueles que continuaram e
desenvolveram seu próprio caminho receberam do mestre um entusiasmo pela arte
que o tempo não conseguiu apagar.
Guignard gostava de
pintar ouvindo música. Numa entrevista com Frederico Morais ele evidencia o seu
gosto pela música:
“A música é mais divina
e muito mais importante porque é como um pássaro, está no ar, em todo lugar. E
sempre age assim. (...) a música é a verdadeira arte, a única que tem
possibilidade de expansão. A pintura pertence a um público restrito, apenas àqueles
que freqüentam as exposições.”
Segundo o comentário de
Frederico, “quando Guignard ministrava na escola de Belas Artes de Belo
Horizonte queria a todo custo que os alunos comprassem uma vitrola – e eles não
tinham dinheiro nem para tinta- e queria discos para poder pintar e ensinar
pintura. Achava que só poderia ensinar com música. Não foi atendido”.
Com todas as
dificuldades enfrentadas por sua escola, Guignard conseguiu estimular seus
alunos para considerar a música uma companheira inseparável da pintura.
Fotos do Acervo da
Escola Guignard
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Muito bom, o livro do Circuito e a sua opinião sobre Guignard!
ResponderExcluirMuito bom, o livro do Circuito e a sua opinião sobre Guignard!
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