quarta-feira, 13 de novembro de 2013

GUERRA E PAZ

O Cine Brasil me lembra a infância, quando foi inaugurado na década de 30. Vestíamos roupas domingueiras, chapéu na cabeça, para assistir às matinês de domingo, com os filmes desfilando aos nossos olhos: Marlene Dietrich, Greta Garbo, Robert Taylor, Tyrone Power e Shirley Temple com seus sapateados. Entrei até para uma aula de sapateado com Natália Lessa, professora de dança das meninas do society belorizontino.
Agora restaurado pela Vallourec, o Cine Brasil está proporcionando ao público da cidade uma exposição monumental da obra de Cândido Portinari, um documentário maravilhoso de um dos maiores pintores brasileiros.
O catálogo Rasoné desfila o seu itinerário em projeções de desenhos, estudos, a caminhada longa e muitas vezes dolorosa do artista de Brodowski. Consegui permanecer sentada por muito tempo porque a obra do mestre é realmente grande e empolga os espectadores mais interessados em sua curta caminhada por este planeta. É um exemplo de tenacidade e persistência na arte, a seriedade em preparar cada painel com estudos, croquis, até chegar ao resultado final já com cores.
Portinari morreu pela arte, intoxicado por tinta. Foram apenas 53 anos de vida, deixando uma obra que se prolonga no tempo com a força e a energia de um grande artista.
Conheci-o pessoalmente, como aluna de Guignard, fiquei horas diante do painel da Igrejinha da Pampulha, vendo Portinari, ajudado por uma equipe de bons artistas vindos do Rio, preparando as tintas, misturando cores para a realização de um mural que é hoje um símbolo para todos nós de Belo Horizonte.
Naquela ocasião João Cândido era criança, mas o acompanhava sempre em suas viagens, em seu trabalho. Hoje João Cândido é também artista, coordenando e promovendo a obra de seu pai. Elaborou o Projeto Portinari e organizou o Catálogo Rasoné, com toda a trajetória do mestre.
Agora, no Cine Teatro Brasil, o público acompanha os passos dos dois painéis pertencentes à ONU, com o desdobramento dramático da Guerra e da Paz.
Assisti Portinari pintar Guerra e Paz no Rio de Janeiro, hoje aqui estou, admirando o itinerário histórico do artista.
Guerra e Paz continua a ser o tema do momento, sua mensagem é perene e não tem fronteiras. Guerra e Paz nos emociona porque está presente, dentro de cada um de nós em cada momento, enquanto percorremos nossa trajetória de vida no planeta.
No 5° andar do Cine Brasil, pode-se apreciar uma releitura da obra de Portinari realizada em bordados pelo grupo Matizes Dumont de Pirapora. O drama e a poética do mestre continua inspirando artistas tais como Sérgio Campos, formado pela UFMG, que há dez anos se dedica ao estudo da obra de Portinari.

Selecionei alguns trechos do catálogo, sobre os painéis “Guerra” e “Paz”:
“Portinari não identifica guerra alguma, como se afirmasse que em sua essência todas se equivalem no desencadeamento de horror e animalidade... Figuras em grupo compacto, genuflexo, braços levantados com as mãos espalmadas e rostos voltados para o céu, nesse cenário de morte deixam transparecer uma aragem de força e vida, de condenação à própria existência da guerra”
“O que emana do painel “Paz” nos enleva e encanta, mais que a idéia de paz, é a própria paz que nos invade ao contemplá-lo. É a sensação de penetrarmos num universo de paz, de comunhão fraterna no trabalho produtivo, num reino mágico de cores reluzentes, do som da ciranda de jovens num canto universal de fraternidade e confiança, ou da candura dos folguedos infantis. Com todos esses tons dourados, alegres, crepitantes de vida, o pintor parece nos dizer: a paz é possível. Dia virá em que a humanidade desfrutará da paz sem limites no espaço e no tempo.”

*Fotos de arquivo

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