Morar em Minas Gerais,
para qualquer tipo de arte, significa persistência e dedicação ao trabalho,
apesar de todas as dificuldades e resistências.
Na década de 1950,
quando uma turma de jovens artistas, alunos de Guignard, se emancipou da
pintura figurativa para abraçar o construtivismo, uma nova mentalidade se
formou em Minas. A arte não precisava necessariamente de copiar a natureza, mas
de criar uma nova idéia. Seja lá como for a denominação, vanguarda ou
neovanguarda, o fato é que a arte como idéia criadora sobrevive e se manifesta
de maneiras diversas, de acordo com a criatividade de cada um.
Essa exposição coletiva
de 5 artistas, aberta com grande sucesso na Galeria Errol Flynn, mostra em seu
conjunto a unidade na multiplicidade própria
do espírito do artista mineiro. Cada um segue o seu caminho, abraça uma idéia
diferente, mas todos revelam sua ligação com a terra e a persistência do
mineiro, fora do famoso eixo Rio-São Paulo.
A exposição merece ser
vista e estudada. Todos se harmonizam numa trilha sonora de notas diversas,
como se os sons da terra pudessem falar. Ali estão as propostas de Eymard Brandão,
tiradas das cores e pedras dos chãos de Minas. Em seguida, as obras de Paulo
Laender, em pintura, escultura e desenho, que estão ligadas à nossa tradição
barroca. O ferro, extraído da terra é a base da escultura de Jorge dos Anjos,
que faz ressurgir a inspiração dos negros em Minas. Roberto Vieira busca o solo
de Minas e dali extrai a matéria necessária para fazer as suas composições e
objetos de parede.
Mas, Minas tem também
um outro aspecto vindo da contemplação
das montanhas. As propostas de Jayme Reis ilustram bem essa necessidade de voar
mais alto, além da terra. Seus temas nos revelam a vontade de se transportar,
viajar, percorrer outras regiões. Jayme nos mostra esse tema, construindo
barcos, aviões, objetos aéreos. Estamos vivendo uma época de comunicações que
ultrapassa os limites do espaço físico.
Viajar, percorrer
outros mundos, sempre foi o sonho dos artistas. E, nessa exposição, todos já
tiveram a sua experiência de se mandar pelo mundo afora e um dia retornar.
Paulo Laender, através da internet, se comunica com o mundo e raramente expõe
em galerias. Já o encontrei na Índia, no meio de uma confusão numa rua em
Delhi. Em 1992, Paulo Laender participou de coletivas na Europa. Eymard esteve
comigo em Adyar, sul da Índia, adaptou-se tranquilamente aos hábitos do
indiano. Em 1982, Eymard participou de coletivas na Índia e de uma exposição em
Londres. Jorge dos Anjos esteve recentemente na Alemanha e Bélgica, levando o
nosso Brasil para a Europa. Roberto Vieira representou o Brasil numa coletiva
de brasileiros em Bruxelas e Jayme Reis esteve presente na Espanha e participou
de vários concursos de arte erótica em Barcelona.
Assim, cada um a seu
modo, mesmo residindo aqui nas montanhas, já teve a sua oportunidade fora do
Brasil. Viver em Minas é aproveitar o que a terra oferece, para depois trazer
de volta, em atitude de reverência, a própria inspiração da terra em forma de
arte.
Quem percorrer a
exposição descobrirá por si mesmo, a título de participação, um pouco de nossa
terra nas obras expostas.
Fotos de Tina
Carvalhaes
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