Foi ao som de Noel Rosa e bossa
nova, tocando na vitrola recém-consertada, que a artista
plástica, escritora e professora Maria Helena Andrés recebeu a repórter Ana
Brant do Estado
de Minas em sua casa, no Retiro das Pedras. “O vinil tem um som
mais quente, por isso gosto de escutar e dançar. Olha que disco mais atual este
do Noel! Foi feito há muito tempo atrás. Se bobear o que produzi há 50 anos
está mais atualizado em termos de mercado do que o que produzo hoje. Igual ao
Noel Rosa”, observa Maria Helena.
Prestes a celebrar 90 anos
em agosto, ela está às voltas com seus dois blogs, Minha vida de artista (mariahelenaandres.blogspot.com)
e Memórias e viagens (memoriaseviagensmha.blogspot.com), e com a
exposição que vai marcar o seu aniversário. “Tem gente que acha fantástico
esconder a idade. Acho fantástico não esconder. No Oriente, as pessoas têm o
costume de perguntar qual a sua gloriosa idade. E tenho uma gloriosa idade.
Longevidade é bom sim, mas tem que viver
bem. Longevidade com hospital
não adianta. Vivo bem. A pessoa não pode ficar à toa. Quando a cabeça está
desocupada, só pensa coisa que não presta e aí não vale a pena”, filosofa Maria
Helena, que teve sua formação artística com Carlos Chambelland, no Rio de
Janeiro; Alberto Guignard e Edith Bhering, em Belo Horizonte ; e
Theodoros Stamos, em Nova
York.
A mostra que vai celebrar suas
nove décadas de vida e os quase 70 de trabalho vai entrar em cartaz no dia 18
de agosto na Galeria Livrobjeto, na Pampulha. Além das telas com temas
recorrentes, como os barcos e as cidades, e esculturas inspiradas em desenhos
do concretismo que ela mesmo esboçou, Maria Helena Andrés releva que vai
apresentar vários pergaminhos, simulando rolos chineses, com pinturas e textos
produzidos por ela. “Esse projeto vai
mostrar o que estou fazendo agora. Não gosto de repetir. As pessoas têm essa
mania. Gosto de ir renovando minha obra de acordo com a idade. A gente se cansa
das mesmas coisas, por isso é bom variar. Minha principal preocupação é fazer o
que sinto vontade, usar a minha criatividade, atender uma necessidade interior,
mesmo que não atenda o mercado”, preconiza a artista, que acredita que um dos
segredos de estar tão bem aos 90 anos é ter sempre as mãos trabalhando e focar
no presente. “Senão elas atrofiam. E, além do mais, não faço planos. Não se
pode preocupar só com o passado ou o futuro. Viver o presente é o que importa e
o aqui e agora é sempre mais bonito”, garante.
Vivendo há 34 anos em uma casa no Retiro das
Pedras, onde também funciona seu ateliê, Maria Helena conta que costuma passar
uma parte da semana no ‘meio do mato’ e outra em Belo Horizonte e
que esse contato com a cidade é extremamente profícuo. “Costumo passar uns dias
aqui e outro em BH. Acho
extremamente importante ter esse contato com o meio urbano. Não dá pra ficar o
tempo todo isolado. É bom para a cabeça. Tem muita coisa interessante em Belo Horizonte. Seja
nas artes plásticas ou na música. A cidade está fervilhando em várias áreas”,
pontua.
Mas, sem dúvida, é no alto das
montanhas que ela se sente plena. Seja contemplando o horizonte, sentindo a
natureza, descendo e subindo com destreza as escadas sinuosas de sua casa, a
artista plástica sequer reclama da baixa temperatura, típica da região, e que
se intensifica neste período do ano. “Dou-me muito bem com frio e vento. O
pessoal diz que sou conservada. Claro, vivo numa geladeira”, brinca, enquanto
relembra as inúmeras viagens que fez pelo mundo, principalmente para o Oriente,
como Nepal, Tibete, Japão, Tailândia e Índia, onde chegou a morar por um ano.
Boa parte das experiências vividas
nesses países está nos blogs criados por ela, que são atualizados semanalmente,
com o auxílio da filha Ivana. Maria Helena diz que é adepta das novas
tecnologias e que isso facilita seu trabalho. A última aquisição foi um
presente do neto: um iPad. “Gosto muito de mexer com ele, é bem interessante.
Essas coisas modernas ajudam muito. São importantes como informação e como
formas de comunicação com o mundo. Tenho muito contato com pessoas de fora do
país. Meu blog tem cerca de 20 mil acessos e as pessoas ficam curiosas querendo
saber sobre Guignard, sobre o construtivismo em Minas, momentos que vivenciei
bem”, justifica.
Nascida poucos meses depois da
Semana de Arte Moderna, Maria Helena Andrés acredita que ter vindo ao mundo em
uma época tão efervescente culturalmente pode tê-la inspirado de certa forma.
“Enquanto puder viver nessa Terra, que é tão bonita, cheia de cores, sons, com
uma natureza maravilhosa, vou aproveitar o máximo. É um privilégio e temos
sempre que nos manifestar de forma positiva. Se for para espalhar negativismo
não compensa. É assim que deve ser”, resume.
*Fotos de Maria Tereza Correia e
Maria Helena Andrés
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