domingo, 8 de julho de 2012

EYMARD BRANDÃO NA ÍNDIA


Visitei a exposição de Eymard Brandão na Galeria da C/Arte, na Pampulha, em Belo Horizonte. Num espaço muito próprio para seus quadros, onde se destaca a busca do aproveitamento de recursos da terra, fui relembrando acontecimentos que, de certo modo, marcaram a arte de Eymard.
Sua viagem à Índia em 1979 certamente contribuiu para esse trabalho contemplativo que busca na terra a sua referência. Eymard tem seu atelier em Nova Lima e, nessa região onde as mineradoras estão sempre em busca do lucro extraído da terra, Eymard, serenamente dela extrai sua arte. Recolhe tintas e pedras do chão de Minas e, como alquimista, vai construindo painéis coloridos que, vistos em seu conjunto, alinhados na exposição livro-objeto, me recordam os sáris da índia. A Índia está presente nessa exposição também no depoimento do próprio artista em seu livro da série Circuito Atelier. Transcrevo em seguida trechos desse texto:
“A ecologia não surgiu em meu trabalho. Foi sendo a ele incorporada gradativamente, por uma série de fatores externos e internos. Estava me preparando para fazer o curso de pós graduação em Londres, no Royal College of Arts, quando assisti a uma palestra de Maria Helena Andrés. Nessa palestra ela abordava, entre outros assuntos, uma escola que conheceu no sul da Índia chamada World Academy of Wonder ( a palavra wonder significa uma forma específica de percepção na arte). Essa escola era uma das unidades de uma universidade que englobava diversas áreas como arte, literatura, música, fotografia, dança, teatro, etc. Mudar os referenciais e viver esse encontro de Oriente e Ocidente através da arte passou a me atrair profundamente. Enviei o currículo e recebi uma resposta promissora, juntamente com a explanação dos cursos oferecidos. Consegui uma bolsa de estudos e tive, naquele país, uma experiência de arte e de vida extremamente gratificantes.”
“Estudantes do mundo inteiro conviviam nessa escola, com novas possibilidades de lidar com seu potencial. Estruturas circulares eram desenvolvidas dentro de padrões milenares e, ao mesmo tempo, contemporâneas, para o trabalho realizado nas formas de ensino ali experimentadas. A história da arte era abordada pelo aspecto psicológico. E as cores da natureza eram relacionadas com nossas emoções, para depois serem aplicadas no papel, na tela ou em formas na terceira dimensão. Com folhas e flores, construíamos belas mandalas. Uma estrada pela floresta levava a um grande e bonito lago. Em frente a ele, subindo para a montanha, uma placa de madeira indicava a entrada da escola. Nela, sugestivas palavras nos convidavam a deixar as sombras de nossos egos para trás e lidar com as formas de estudo ali propostas, onde conviver com os ritmos e mistérios da natureza eram um ensinamento diário, por ser o universo em si, como um próprio campo no qual o jogo cósmico da arte vem acontecendo desde tempos imemoriais.”
Relembrando minhas viagens à Índia, vou encontrando referências também na arte de Eymard Brandão que é, sem dúvida, uma manifestação de seu próprio self de artista. A palavra self, usada por Jung para significar o centro psicológico do “ser” tem diferentes denominações nas diversas religiões do mundo. Significa o Cristo interno dos cristãos, o Atman dos hindus, a Luz interna de Krishnamurti.
O verdadeiro “eu” se encontra na parte interior, mais profunda de nosso ser, nos disse Sri Aurobindo em seus ensinamentos.

*Fotos de Maurício Andrés

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