Visitei a exposição de Eymard
Brandão na Galeria da C/Arte, na Pampulha, em Belo Horizonte. Num
espaço muito próprio para seus quadros, onde se destaca a busca do
aproveitamento de recursos da terra, fui relembrando acontecimentos que, de
certo modo, marcaram a arte de Eymard.
Sua viagem à Índia em 1979
certamente contribuiu para esse trabalho contemplativo que busca na terra a sua
referência. Eymard tem seu atelier em Nova Lima e, nessa região onde as mineradoras
estão sempre em busca do lucro extraído da terra, Eymard, serenamente dela
extrai sua arte. Recolhe tintas e pedras do chão de Minas e, como alquimista,
vai construindo painéis coloridos que, vistos em seu conjunto, alinhados na
exposição livro-objeto, me recordam os sáris da índia. A Índia está presente
nessa exposição também no depoimento do próprio artista em seu livro da série
Circuito Atelier. Transcrevo em seguida trechos desse texto:
“A ecologia não surgiu em meu
trabalho. Foi sendo a ele incorporada gradativamente, por uma série de fatores
externos e internos. Estava me preparando para fazer o curso de pós graduação
em Londres, no Royal College of Arts, quando assisti a uma palestra de Maria
Helena Andrés. Nessa palestra ela abordava, entre outros assuntos, uma escola que
conheceu no sul da Índia chamada World Academy of Wonder ( a palavra wonder
significa uma forma específica de percepção na arte). Essa escola era uma das
unidades de uma universidade que englobava diversas áreas como arte,
literatura, música, fotografia, dança, teatro, etc. Mudar os referenciais e
viver esse encontro de Oriente e Ocidente através da arte passou a me atrair
profundamente. Enviei o currículo e recebi uma resposta promissora, juntamente
com a explanação dos cursos oferecidos. Consegui uma bolsa de estudos e tive,
naquele país, uma experiência de arte e de vida extremamente gratificantes.”
“Estudantes do mundo inteiro
conviviam nessa escola, com novas possibilidades de lidar com seu potencial.
Estruturas circulares eram desenvolvidas dentro de padrões milenares e, ao
mesmo tempo, contemporâneas, para o trabalho realizado nas formas de ensino ali
experimentadas. A história da arte era abordada pelo aspecto psicológico. E as
cores da natureza eram relacionadas com nossas emoções, para depois serem
aplicadas no papel, na tela ou em formas na terceira dimensão. Com folhas e
flores, construíamos belas mandalas. Uma estrada pela floresta levava a um
grande e bonito lago. Em frente a ele, subindo para a montanha, uma placa de
madeira indicava a entrada da escola. Nela, sugestivas palavras nos convidavam
a deixar as sombras de nossos egos para trás e lidar com as formas de estudo
ali propostas, onde conviver com os ritmos e mistérios da natureza eram um
ensinamento diário, por ser o universo em si, como um próprio campo no qual o
jogo cósmico da arte vem acontecendo desde tempos imemoriais.”
Relembrando minhas viagens à
Índia, vou encontrando referências também na arte de Eymard Brandão que é, sem
dúvida, uma manifestação de seu próprio self de artista. A palavra self, usada
por Jung para significar o centro psicológico do “ser” tem diferentes
denominações nas diversas religiões do mundo. Significa o Cristo interno dos
cristãos, o Atman dos hindus, a Luz interna de Krishnamurti.
O verdadeiro “eu” se encontra
na parte interior, mais profunda de nosso ser, nos disse Sri Aurobindo em seus
ensinamentos.
*Fotos de Maurício Andrés
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