sexta-feira, 11 de maio de 2012

FLORESTAS


 Maurício me enviou o texto abaixo, dando continuidade à postagem “Oásis Terra.”

“Florestas e árvores são grandes aliadas de quem precisa de água, ou seja, de todos nós. Ao regular o clima, absorver gás carbônico e ajudar na infiltração da água no solo, as árvores e as florestas realizam processos vitais e prestam valioso serviço. A erosão nos solos e o escoamento superficial de água em áreas sem cobertura vegetal é muitas vezes maior do que aquela que ocorre em áreas protegidas por vegetação.  Com o desmate, os rios são assoreados e há perda de qualidade das águas, a redução dos lençóis subterrâneos, a perda de solos.
Na ausência de florestas, necessita-se de mais obras estruturantes  e há menor segurança hídrica. Assim, por exemplo, quando o desmate e mau uso do solo prejudicam a qualidade da água, as empresas de saneamento passam a gastar mais com produtos químicos no tratamento de água, pois a vegetação filtra metais e matérias em suspensão na água, reduzindo a necessidade de tratamento. Os mais penalizados por esses custos são as populações mais pobres e vulneráveis. Preservar os serviços ambientais prestados pelas arvores e florestas é, portanto, também uma questão de justiça social e de equidade.
No Brasil, serviços de regulação do clima são prestados em escala macro pela floresta Amazônica, sobre a qual chove a umidade vinda do oceano Atlântico. As árvores bombeiam de volta à atmosfera uma parte dessa umidade, que chove novamente sucessivas vezes em direção ao oeste. Ao encontrar a barreira da cordilheira dos Andes, esse ar carregado de umidade, em verdadeiros rios voadores, se dirige para o sul, umedecendo o centro-oeste e o sudeste brasileiros. Não fosse essa umidade, o clima nessas regiões seria muito mais seco e possivelmente haveria desertos. Sem a floresta amazônica, a agricultura no Brasil central e do sudeste será seriamente prejudicada.  Antonio Donato Nobre (No vídeo Tem um rio em cima de nós, no YouTube http://www.youtube.com/watch?v=HYcY5erxTYs&feature=player_embedded) nos ensina que a Amazônia pode ser vista como usina de serviços ambientais que realiza gigantescas transferências de energia, ao promover a evaporação de 20 bilhões de toneladas de água por dia, sendo um poderoso motor do clima global. Caso esse volume de água tivesse que ser evaporado por aquecimento, seriam necessárias 50 mil usinas do porte da hidrelétrica  de Itaipu.
Culturalmente, a floresta é vista como algo sujo, a ser extirpado. As expressões da língua revelam tal tipo de pensamento: limpar o mato, visto como sujeira; campo limpo e campo sujo significam respectivamente uma área sem vegetação e uma na qual a vegetação tenta se regenerar; quebrar o galho não é um ato negativo de destruição da vegetação, mas uma forma de ajudar um amigo. Até mesmo os quintais urbanos são cimentados, pois a vegetação é vista como um estorvo que dá trabalho para  limpar, que atrai bichos e doenças. Nessa visão cultural, vegetação, mato e floresta são sujeiras a serem removidas. Ainda não se valoriza suficientemente o fato de que as florestas prestam serviços ecossistêmicos, tanto em escala macro como em escala local.
Uma mudança de percepção cultural sobre a natureza, as águas e as florestas é necessária para que o comportamento em relação ao ambiente passe a ser mais amigável e menos agressivo. A valorização dos serviços ambientais prestados pelas florestas e árvores, bem como a valorização da água como algo essencial à vida, são atitudes positivas. Árvores e florestas são aliadas do ser humano na gestão das águas do oásis Terra.

Maurício Andrés é autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia WWW.ecologizar.com.br

*Fotos de Euler Andrés e Luciano Luppi

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