Maurício me enviou o texto abaixo, dando continuidade à postagem “Oásis
Terra.”
“Florestas e árvores são grandes aliadas de quem precisa de água, ou
seja, de todos nós. Ao regular o clima, absorver gás carbônico e ajudar na
infiltração da água no solo, as árvores e as florestas realizam processos
vitais e prestam valioso serviço. A
erosão nos solos e o escoamento superficial de água em áreas sem cobertura
vegetal é muitas vezes maior do que aquela que ocorre em áreas protegidas por
vegetação. Com o desmate, os rios são
assoreados e há perda de qualidade das águas, a redução dos lençóis
subterrâneos, a perda de solos.
Na ausência de florestas, necessita-se de mais obras estruturantes e há menor segurança hídrica. Assim, por
exemplo, quando o desmate e mau uso do solo prejudicam a qualidade da água, as
empresas de saneamento passam a gastar mais com produtos químicos no tratamento
de água, pois a vegetação filtra metais e matérias em suspensão na água,
reduzindo a necessidade de tratamento. Os mais penalizados por esses custos são
as populações mais pobres e vulneráveis. Preservar os serviços ambientais
prestados pelas arvores e florestas é, portanto, também uma questão de justiça
social e de equidade.
No Brasil, serviços de regulação do clima são prestados em escala macro
pela floresta Amazônica, sobre a qual chove a umidade vinda do oceano
Atlântico. As árvores bombeiam de volta à atmosfera uma parte dessa umidade,
que chove novamente sucessivas vezes em direção ao oeste. Ao encontrar a
barreira da cordilheira dos Andes, esse ar carregado de umidade, em verdadeiros
rios voadores, se dirige para o sul, umedecendo o centro-oeste e o sudeste
brasileiros. Não fosse essa umidade, o clima nessas regiões seria muito mais
seco e possivelmente haveria desertos. Sem a floresta amazônica, a agricultura
no Brasil central e do sudeste será seriamente prejudicada. Antonio Donato Nobre (No vídeo Tem um rio em cima de nós, no YouTube http://www.youtube.com/watch?v=HYcY5erxTYs&feature=player_embedded) nos ensina que a Amazônia pode ser vista como usina de serviços
ambientais que realiza gigantescas transferências de energia, ao
promover a evaporação de 20 bilhões de toneladas de água por dia, sendo um
poderoso motor do clima global. Caso esse volume de água tivesse que ser
evaporado por aquecimento, seriam necessárias 50 mil usinas do porte da
hidrelétrica de Itaipu.
Culturalmente,
a floresta é vista como algo sujo, a ser extirpado. As expressões da língua
revelam tal tipo de pensamento: limpar o mato, visto como sujeira; campo limpo
e campo sujo significam respectivamente uma área sem vegetação e uma na qual a
vegetação tenta se regenerar; quebrar o galho não é um ato negativo de destruição
da vegetação, mas uma forma de ajudar um amigo. Até mesmo os quintais urbanos
são cimentados, pois a vegetação
é vista como um estorvo que dá trabalho para limpar, que atrai bichos e
doenças. Nessa visão cultural, vegetação,
mato e floresta são sujeiras a serem removidas. Ainda não se valoriza
suficientemente o fato de que as florestas prestam serviços ecossistêmicos,
tanto em escala macro como em escala local.
Uma mudança de percepção cultural sobre a natureza, as águas e as
florestas é necessária para que o comportamento em relação ao ambiente passe a
ser mais amigável e menos agressivo. A valorização dos serviços ambientais
prestados pelas florestas e árvores, bem como a valorização da água como algo
essencial à vida, são atitudes positivas. Árvores e florestas são aliadas do ser humano na
gestão das águas do oásis Terra.
Maurício Andrés é autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia WWW.ecologizar.com.br
*Fotos de Euler Andrés e Luciano Luppi
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