domingo, 25 de dezembro de 2011

WILSON FIGUEIREDO, O POETA

Revivendo o movimento moderno que se instalou em Minas na década de 40 com a criação da Escola de Belas Artes dirigida por Guignard, vejo a turma de jovens poetas e escritores se reunindo em baixo das árvores do parque.
Vinham da faculdade de Filosofia situada ali perto, no Instituto de Educação para assistir palestras e debates que aconteciam na Escola, sob o prestígio de Guignard. Todo um potencial de idéias novas se formava em torno do mestre. Ali no parque Municipal de BH, uma síntese das artes acontecia.
Wilson Figueiredo era um dos integrantes da turma que se reunia no parque, juntamente com Otto Lara Resende, Hélio Peregrino, Edmur Fonseca, Paulo Mendes Campos, Sábato Magaldi, etc. Wilson Figueiredo, o Figueiró, criou junto com Edmur Fonseca a revista Edifício, uma revista de vanguarda. Ali seus livros de poesia, “Mecânica do Azul” e “Poemas Narrativos”, foram editados.
Seguíamos o nosso caminho nas artes plásticas, sob o incentivo daqueles que também escreviam poemas e crônicas.
Figueiró, que naquela época tinha apenas 20 anos, fez parte do grupo de jovens que recebeu em 1944, Mário de Andrade na provinciana Belo Horizonte. O consagrado poeta paulista gostou do jovem e escreveu para ele cartas encorajando-o a continuar a linha poética.
 Wilson Figueiredo guardou suas poesias que só foram publicadas na época, mas merecem ser conhecidas. Algumas vezes costumo cobrar do meu cunhado, W. Figueiredo, casado com minha irmã Lourdes:
“Wilson, por que você não publica seus versos, você é um poeta.”
 Lembro-me de ter lido algumas vezes o livro “Mecânica do Azul” e aqui transcrevo alguns trechos:
 “Só hoje me lembro da bola de gude
Mas com alguns anos de vida
Entre esse tempo e onde
Eu desejaria estar
 Ah! Se eu pudesse ver a bola
Com a trajetória libertada
Da geometria e da física
E ignorar que feliz no jogo
É o infeliz nos amores.”
 ..............................................
 “Meu primeiro velocípede
Começa a dar voltas
Em torno do meu silêncio
Com a campainha gritando
Estrelas”
 .............................................
 “Havia no quarto da pensão
Cavalos ao luar pregados no teto
Numa geografia que me viajava
Os cavalos puxavam a virgem
Na paisagem de gesso
Sempre intocada
Por sobre o sonho e as águas.”
 ..................................................
 O tempo é a minha ferrugem
Que espraia
Atropela o silêncio
Gasta a chave, a mala
Os cartões imorais do dormitório
Os pregos na parede
E mesmo alguns retratos.”
 Naquela época eu lia “Cartas a um jovem poeta” de Rainer Maria Rilke e sob o seu incentivo continuei minha vida de artista.
 Cada vez mais venho compreendendo a integração das artes e o quanto de benefício que elas nos proporcionam.
 Mais tarde, já casado, Wilson transferiu residência para o Rio de Janeiro, que naquela época era considerada a corte brasileira, lugar onde os intelectuais e artistas poderiam se projetar com mais facilidade. Ali ele se tornou um jornalista da linha de frente, destruindo idéias arraigadas e incentivando a construção do novo. Assim foi no Jornal do Brasil e está sendo no F.S.B Comunicações, onde ele se torna, aos 87 anos “um mentor dos novos da empresa”.
 Nelson Rodrigues destacava em Wilson a veia poética, que se desdobrou ao longo de toda a sua carreira. “Não se faz jornalismo sem poesia”, dizia Nelson Rodrigues.
 Mário de Andrade, ao ler os versos do jovem Wilson de 20 anos, comentou: “Como eu sorria feliz lendo os versos dele”.
Em carta dirigida ao Wilson, Mário de Andrade continua: “Você tem a poesia dentro de si e tem o que dizer.” E continua: “Você é um poeta e sua poesia não é original por ser uma fragancia de mocidade só, é sua.”
 Esta poética, Wilson trouxe da juventude até os dias de hoje. Escreve textos e dedicatórias deixando vir à tona a sua alma de poeta. Transcrevo aqui a dedicatória que recebi no livro “E a vida continua” recém lançado no Rio de Janeiro.
 “À Helena
A irmã que conversa com o silêncio e acena às nuvens que passam rentes à sua casa, nosso agradecimento por sua assinatura artística numa página deste livro que nos reúne como prêmio da vida.
 Lourdes e Wilson.”
 Este prêmio da vida a que eles se referem são seus 4 filhos Pedro, Vanessa, Rodrigo e Andréia que serviram de modelo para um quadro de minha autoria.
*Fotos de Pepe Schettino, André Macera e do acervo FSB
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.

Um comentário:

  1. Ponderações e conselhos muito sensatos e úteis a todo ser humano.Excelente!
    CLEYDE FEU BARROCA-bisneta de Antônio Valentim da Silva Barroca,comerciante,industrial e comendador,na época do império do Brasil.

    ResponderExcluir