quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

MOTHER TERESA DE CALCUTÁ



Teresa de Calcutá foi sem dúvida a grande presença cristã na Índia. “Mother Teresa”, como é conhecida, nasceu em Skopje, na Yugoslávia, em 1910. Desde cedo sua vocação religiosa manifestou-se através de um chamado interno para o serviço e a dedicação aos semelhantes. Tendo sido enviada para a Índia a fim de fazer o noviciado na congregação de Nossa Senhora de Loreto, a jovem irmã fez os votos de pobreza, castidade e obediência, em caráter de prova. Dedicou-se no início do magistério como professora do St. Mary’s High School de Calcutá. Um dia, viajando de trem de Calcutá para Darjeeling, irmã Teresa impressionou-se vivamente com a pobreza da Índia. Através das janelas do trem as cenas de pobreza desfilavam diante de seus olhos. Aspirando dedicar-se totalmente ao serviço social, irmã Teresa deixou suas atividades de educadora, para entregar-se de corpo e alma aos humildes. Ela cuidou daqueles que não tiveram teto para se abrigarem do frio, da chuva e das adversidades.
Nas ruas de Calcutá sentimos muito fortemente a sua presença, recolhendo crianças, leprosos e moribundos. Os mais pobres entre os pobres, são também os que sofrem o desprezo da sociedade. A fama de Mother Teresa estendeu-se pelo mundo. Agraciada com o Prêmio Nobel, ela destinou o dinheiro recebido às suas instituições de caridade.
Ultrapassando todos os preconceitos de casta ou qualquer fanatismo religioso, as missionárias de caridade, lideradas por Teresa, enxergaram no pobre o próprio Cristo. “O que fizerdes a um destes pobres e pequenos, a mim o fareis.”
Mother Teresa tem grande respeito pelas crenças alheias. Sua tolerância religiosa é sustentada pela certeza de que Deus é o mesmo e pode ser encontrado através de qualquer religião.
A grandeza de atuação das missionárias de caridade alcança uma dimensão mais alta e mais abrangente, onde a separatividade dos conceitos mentais não tem entrada. Nesse espaço sem limites do Amor, as diferenças religiosas não existem. Todos são acolhidos como seres humanos na casa do Pai.
Há alguns anos atrás, quando um vendaval desceu sobre Bangladesh e matou centenas de pessoas, as missionárias de caridade, como um pequeno exército de anjos, vieram ajudar a enterrar os mortos.
Em 1979, quando estivemos em Calcutá, procuramos conhecer de perto o trabalho de Mother Teresa. As irmãs nos receberam com simpatia e as crianças da creche se acercaram de nós pedindo colo. Fomos ver o berçário. Haviam 100 crianças, algumas encontradas nas ruas, outras filhas de mães solteiras. Ali chegavam crianças com problemas de alimentação, desnutridas. As jovens noviças substituíam o carinho materno que faltou a essas criancinhas. Havia uma alegria contagiante na fisionomia das irmãs e era justamente essa alegria que irradiava e enchia de Luz o ambiente. À tarde, quando as luzes da cidade começavam a se acender, elas reuniam-se para cantar Vésperas. Entramos por corredores enormes em direção à capela, onde as irmãs cantavam. Oitenta moças sentadas no chão, em cima de tapetes rústicos, vestidas com saris brancos, fizeram-nos sentir de perto as nossas origens cristãs. O verdadeiro espírito cristão ali estava e uma força invisível preenchia o ambiente de Energia e Luz.

*Fotos da internet

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

THOMAS MERTON, CRISTIANISMO E BUDISMO

 Os inúmeros templos de Bangkok são famosos no mundo inteiro. A experiência de vê-los de perto, em seu deslumbrante lirismo, despertou-nos uma emoção quase musical. A mesma motivação que em um país inspira a sobriedade, em outros manifesta-se como uma explosão colorida. A arquitetura dos templos de Bangkok parece uma festa de cores. Há unidade comovente dentro da multiplicidade de enfeites e formas rebuscadas. As torres são apelos para o estado supremo de iluminação pretendido pelo Budismo. Subimos escadas estreitas que lembram os degraus da difícil ascese do homem em direção ao desapego, à paciência e a renuncia. Lá embaixo, monges budistas com cabeças raspadas, vestidos de túnicas alaranjadas, seguiam o exemplo de Buda, o príncipe Sidarta, que renunciou  à vida de conforto e riqueza para realizar o seu propósito. A renúncia para eles significa a busca pela libertação e o encontro com o Nirvana. É o dissipar  da ilusão, a permanente vigilância e a plena atenção ao momento presente.
A suntuosidade dos tempos, as flores de porcelana incrustadas nas torres, formavam um contraste com a humildade dos monges.

As escadas dos templos de Bangkok fizeram-me refletir sobre a ascese das diversas doutrinas, consideradas como degraus para se alcançar o infinito. Lá embaixo, os pequenos sinos vendidos nas barracas tocavam festivos ao sabor do vento. Tinham a mesma configuração das torres. Eram leves e pareciam querer levantar vôo. As escadas circundando o templo, a forma de sino de algumas torres, a hierarquia das religiões, lembraram-me um outro monge cujos passos ressoaram nessas pedras. Vestia-se como os trapistas cristãos ocidentais e trazia ao oriente a mensagem de Cristo. Veio em missão de paz, buscando, naquelas terras distantes, a harmonia com seus ideais de perfeição. Descobriu que os diversos caminhos eram apenas linguagens diferentes, mas em suas camadas mais profundas, continham a mesma verdade. Esteve no oriente procurando nos mosteiros o entrosamento com suas inspirações ocidentais.

Thomas Merton, conhecido monge cristão, autor dos livros: Homem algum é uma lha, Montanha dos sete patamares e Zen e as aves de Rapina, morreu subitamente em Bangkok. Sua visita aos mosteiros orientais, seus estudos sobre o Taoísmo apresentando ao ocidente A Via de Chuang Tzu , revelaram-nos o Thomas Merton interessado profundamente na aproximação de diversos caminhos.
            O grande pensador cristão sentiu-se atraído pela profundidade do pensamento oriental e de certo modo precedeu a atual busca da unidade de todas as religiões. Ele nos mostrou que o simples fato de nos apegarmos a uma visão parcial e tentarmos colocar nossos condicionamentos como a única verdade significa obscurecer a verdade. As considerações de Thomas Merton para o livro taoísta De Chuang Tzu estão acima das limitações impostas pelo radicalismo religioso. Não existem regras matemáticas para a vida. Dentro de nós há uma energia que é comum a todos os nossos irmãos. No entanto as buscas diferem como diferem as situações e a intensidade dos impulsos.
Thomas Merton, através de seus livros buscou uma aproximação com seus irmãos orientais, sem querer  modificá-los ou converte-los ao cristianismo.   

 *Fotos da internet



sábado, 8 de janeiro de 2011

MÚSICA INDIANA E MÚSICA EUROPÉIA

Um passado de mais de 5000 anos de cultura transparece através dos grandes monumentos de arte, e a história da Índia é contada nos entalhes feitos diretamente nas pedras, nas esculturas, nas pinturas dos templos e das grutas, na arte erudita e na arte popular. A grande vocação espiritual do povo indiano manifesta-se através de uma filosofia onde os ensinamentos dos Vedas se entrosam com crenças populares.

“Anteriormente julgava-se que a história começava com a Grécia, até que se descobriu que o povo advindo das margens do Cáspio, tinha-se desmembrado, indo um ramo para a Índia e outro para a Grécia e Europa Ocidental, através da Pérsia.”

Romila Thapar, em seu livro “A History of India” escreve: “Europeus, estudiosos da língua sânscrita, descobriram semelhanças entre o Sânscrito, o Latim e o Grego. Essa descoberta veio reforçar a teoria da existência, no passado, de uma língua comum usada pelos Indo-Europeus.”

“A música da Índia, pouco a pouco apurada e simplificada, espalhou-se pela Europa. Há um certo parentesco entre a música do Oriente e a música da Grécia Antiga, variando as escalas pela colocação dos meios tons. A música do Oriente tem caráter melódico e desconhece a polifonia, que é conquista moderna da arte musical européia.
A cultura milenar da Índia remonta à época dos Vedas, em que se cantavam os hinos sagrados durante os sacrifícios que se celebravam ao ar livre. Esses hinos eram composições dos Rishis, transmitidos oralmente de geração em geração.” (Dr Antonio Menezes, Panjim, Goa)

Os Vedas são um conjunto de livros que contêm as revelações dos Rishis. Combinando a religião com a filosofia e a arte, os hindus buscam um ideal de perfeição onde a clareza do filósofo une-se à devoção do santo e ao senso estético do artista.

Há grande afinidade entre a música religiosa indiana e o canto gregoriano, música circular repetitiva. Em seu aspecto mais popular, a música indiana faz lembrar os desafios cantados pelos violeiros nordestinos ou os cânticos do folclore brasileiro de origem africana. Na música indiana, assim como nos desafios brasileiros, há sempre uma parte estrutural que forma o arcabouço para a improvisação criada na hora, ao sabor do movimento.
Na Índia, esses desafios e improvisos se fazem através de instrumentos de percussão denominados “tablas”, sendo uma de metal e a outra de madeira. No Brasil a percussão é feita com tambores, atabaques, cabaças, agogôs, etc.
Existe todo um ritual para se criar e construir uma tabla, assim como, no Brasil, há também todo um ritual e até batismo dos instrumentos, com água benta (buscada na igreja mais próxima), na construção de um Tambor Sagrado.
Viajando pelo sertão de Minas Gerais, observei o esquentamento dos tambores, sobre um fogão de lenha, para produzir um som melhor. O som dos tambores é obtido com as mãos, como os atabaques africanos ou as tablas indianas. O ritmo de percussão tirado por mãos humanas, assemelha-se nas diferentes regiões do Globo Terrestre.

*Fotos da internet