quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

MEU ENCONTRO COM O MONGE BENEDITINO BEDE GRIFFITHS


Saí de Bangalore para Mysore, sul da Índia, com meu filho Maurício, com intenção de parar no caminho para conhecer o ashram (mosteiro) fundado por Bede Griffiths.
Foi uma tarde memorável que passamos em sua companhia. Ele me pareceu um ser humano fora do comum. Ali pudemos escutar um pouco da sua história e de seus ensinamentos holísticos.
Já à tardinha, quando nos preparávamos para tomar chá, avistamos no horizonte o ônibus que deveríamos tomar. Apressamo-nos nas despedidas.
A grande surpresa foi quando já estávamos assentados para  partir, Bede Griffiths acenou para o motorista aguardar.Vinha com duas xícaras do chá que acabara de preparar para nos oferecer.
O motorista, pacientemente, esperou...”    

Seguimos viagem pensando na possível integração do Oriente com o Ocidente, fruto da nossa conversa com Bede Griffiths.

Nascido perto de Londres, numa típica família inglesa de classe média, Bede Griffiths foi educado dentro da Igreja Anglicana.

Mais tarde, ao cursar a Universidade de Oxford, perdeu a fé religiosa inicial e tornou-se um agnóstico. Como tantos de sua geração, desiludiu-se com a sociedade industrial capitalista da época e, em 1930, lançou-se com um grupo de colegas numa experiência de vida comunitária numa aldeia inglesa, abandonando luxos e confortos.

Foi então que começou a ler a Bíblia e outros livros religiosos e voltou à oração, assentando sua fé em bases novas e mais profundas. Redescobriu o cristianismo, depois de longo conflito interior; vencendo os  preconceitos anticatólicos que ainda existiam na Inglaterra, entrou para a comunidade beneditina da Abadia de Prinknash e chegou a ser prior da Abadia de St. Michael.

Foi pioneiro em sentir a atração da filosofia da India, muito antes da onda de orientalismo que levou tantos jovens a buscar e seguir gurus.
Em 1955, partiu para a Índia onde contribuiu para a fundação do ashram de Kurisumala, que tinha sido iniciado por dois monges franceses.

Criou depois o Ashram de Saccidananda, uma experiência bem-sucedida de combinar o culto e tradições católicas com as práticas e filosofia da Yoga indiana.
 Seu trabalho pioneiro tem sido seguido por muitos. Em Londres há um grupo ecumênico (Inter-Faith) promovido pelo Arcebispado de Westminster, que estimula a prática da meditação por vários caminhos e a cooperação com religiosos hindus, budistas e de outras religiões. Lá existem freiras católicas que praticam Yoga e há toda espécie de combinações inspiradoras entre os vários caminhos espirituais.

Anos depois, participei de uma meditação nesse ambiente, onde repetíamos o mantra “maranata”, que significa em aramaico, Jesus Cristo.

Em seu livro “O Coração de Ouro” (1954), Griffiths conta a história de sua vida e conversão. Em seu outro livro “Retorno ao Centro: o conhecimento da verdade, o ponto de reconciliação de todas as religiões” (1992), considerado um clássico moderno da espiritualidade, ele nos oferece uma visão ecumênica, que leva até as últimas conseqüências a abertura às outras religiões. Esta visão ecumênica foi aprovada pelo Vaticano II em “Nostra  Aetate”:
“Além de ser cristão, eu preciso ser um hindu, um budista, jainista, sikh, muçulmano e judeu. Só assim poderei conhecer a Verdade e encontrar o ponto de reconciliação de todas as religiões... É esta revolução que tem de se processar na mente ocidental. Há séculos ela se volta para fora, para o mundo dos sentidos e perde-se no espaço exterior. Precisa agora aprender a voltar-se para dentro e descobrir seu ser: empreender aquela jornada longa e difícil para o CENTRO,  a profundidade interior do SER”.

(Resumo editado e extraído do livro Retorno ao Centro, IBRASA, S.P,1992 por Cecília Caram após depoimento de viagem de M.Helena Andrés).

*Fotos da internet


Um comentário:

  1. Que linda história desse monge! Parabéns pela postagem.

    José Marcos

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