Enquanto o carro rodava em direção ao Retiro das Pedras, um CD também rodava, transmitindo sons de grande beleza. As estruturas sonoras crescentes criavam um estado de atenção para com o entorno. O nosso entorno naquele momento era a estrada, as montanhas, o céu estrelado e os sons da música de Philip Glass com o Grupo UAKTI. O CD, denominado Órion, foi gravado em Atenas, junto à Acrópole. A constelação de Orion foi homenageada por Philip Glass por ser a única constelação que abrange dois hemisférios – sul e norte.
A apresentação na Europa teve como cenário um teatro grego ao ar livre, Hecodicus Aticus situado dentro da Acrópole. Antigamente os gregos ali apresentavam suas peças que até hoje perduram como patrimônio da humanidade.
Philip Glass procurou reunir representantes de todos os continentes, buscando uma integração da humanidade através da música. Ali podiam ser ouvidos sons do extremo oriente, da Austrália, Ásia, África, Europa e Américas. O hemisfério norte era representado por Philip Glass e um músico canadense e todo o hemisfério sul pelo grupo UAKTI. O sitar da Índia também ecoou na Acrópole, com uma composição de Ravi Shankar e Philip Glass. Eleftheria Arvantaki, vocalista grega, entoou um canto em prol da integração do planeta. Tambores africanos, instrumentos aborígenes e chineses se integravam com os sons criados por músicos vindos dos mais diversos países, numa só voz, pedindo paz para a humanidade.
A primeira apresentação na Grécia foi debaixo de chuva, como se os céus quisessem também participar do concerto. Naquele momento, os espectadores da primeira fila subiram no palco e vieram, com guarda chuvas coloridos, proteger os músicos, criando uma festa de cores e sons. Aquele concerto ficou depois conhecido como o “Concerto dos guarda- chuvas”. Ao final do espetáculo os músicos se deram as mãos, sob os aplausos de uma platéia emocionada.
Depois de Atenas o grupo seguiu para Lyon, apresentando o mesmo espetáculo também numa teatro de arena cavado na pedra. O cenário recorda um passado de arte que se projeta cada vez mais para o futuro. A mesma emoção contagiou todos os presentes que, ao final do espetáculo se levantaram e também se deram as mãos, lembrando que a integração do planeta pode ser feita através da arte.
Uma das grandes funções da arte do século XXI é promover cada vez mais a consciência da unidade planetária e unidade cósmica. O grupo UAKTI, harmoniza os sons mais variados: conjuga ritmos brasileiros, africanos, indianos, música clássica e música contemporânea. A percussão nos recorda que pertencemos à Terra, fomos modelados pelo mesmo barro e a flauta nos eleva além das estrelas, à essência de onde viemos e para onde vamos.
* Fotos: Luciano Luppi, Alexandre Andrés e João Vargas
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