sexta-feira, 21 de maio de 2010

O CONSTRUTIVISMO BRASILEIRO E A ARTE DOS ÍNDIOS

No momento em que a arte construtiva brasileira está sendo mostrada em Houston nos Estados Unidos com o maior sucesso, convém lembrar nossas origens indígenas.
“Eu nunca te encontraria se já não estivesses comigo”. Esta frase de Saint Exupery nos mostra a força de uma tradição que aflorou na década de 50, conduzindo artistas, pintores, desenhistas, escultores, designers, arquitetos, poetas, para a busca da ordem e do equilíbrio dentro da arte.
Esta ordem interna sempre foi buscada pelos índios em todas as suas manifestações culturais que se estendiam para a vida da comunidade.
A arte dos índios, em seus padrões geométricos, repetitivos e disciplinados, remete a outros domínios do pensamento, constituindo meios de comunicação e modos de conceber, compreender e refletir a ordem social e cosmológica. Modelando a argila ou pintando o próprio corpo eles se harmonizam com a natureza, integrando-se ao seu meio.
Segundo os irmãos Villas Boas, famosos indigenistas brasileiros, temos muita coisa a aprender com os índios. Para eles a natureza conserva-se a mesma. O ano é dividido em dois períodos distintos: o inverno ou o tempo das águas, começando em outubro e terminando em março; e o verão, período seco, de abril a setembro. O ritmo de vida do índio acompanha o ritmo da natureza. Quando chegam as chuvas, ele se retrai silenciosamente para dentro das malocas, cuidando de trabalhos miúdos. Deixa de pintar o corpo e de se enfeitar. Suas atividades são mais serenas. Espera pacientemente as águas crescerem, os rios invadirem as matas, para deixar a maloca em busca dos peixes que já estão à espera dos primeiros frutos caídos das árvores. De acordo com o verão e o inverno, denominações que têm correspondência exatamente oposta à nossa, vive uma vida ativa ou retraída, caçando, pescando ou cuidando de trabalhos menores.

No Museu do Índio, no Rio de Janeiro, procurei observar com atenção os caracteres geometrizados em todo artesanato indígena nas cestarias, cerâmicas e até na pintura corpórea. Muito antes da chegada dos europeus, mergulhados nas florestas, seguindo o ritmo natural da vida, os índios buscavam o equilíbrio também em suas manifestações artísticas.
Observavam a pele dos animais, onças, lagartas e dali partiam para a busca da ordem e da simetria em seus padrões geométricos.
Nossos antepassados se manifestavam de forma construtiva, um construtivismo orgânico e espontâneo.

O construtivismo brasileiro também buscou alcançar este equilíbrio e ordem. O movimento construtivista que se propagou pelo Brasil na década de 50 foi uma integração perfeita do que veio da Europa com o que já existia dentro de nós.

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