Há países de que só podemos captar a impressão momentânea, o que nos sugere o impacto do primeiro encontro. Do alto do Boeing 707 da Air France, sentimos o sol e a terra em baixo. O deserto a se perder de vista. Parece-nos ver fotografias da lua, com seus desenhos e crateras. A civilização aproxima homens e terras. Um jato super cheio sobrevoa o deserto. A conquista do espaço, neste movimentado século XX, é o sinal do domínio do homem sobre a natureza. Em baixo, continua desfilando o panorama da areia quente, ensolarada, sem vegetação, sem casas, sem animais; somente a secura e a monótona repetição do mesmo tom rosa alaranjado, tão diferente de nossa floresta amazônica, onde o verde se perde de vista, como um tapete.
A África é o próprio sol vermelho laranja. E o colorido quente do sol do deserto está repetido nas cores das mantas africanas, dos puffs de couro, das jóias populares. Um grande mural visto no restaurante do aeroporto de Dakar, sugere todo este clima que é também o calor temperamental do negro africano. O mural é imenso, tem formas redondas, sensuais. Há um relacionamento interior, a pulsação do mesmo sangue, nas linhas e cores que movimentam o painel e no balanceio erótico das danças negras. Cada país reflete em sua arte, por mais internacionalizada que seja, um espírito ligado à terra, ao sangue, às condições de vida do povo. É o regional que se liga ao universal, através de cores características, de ritmos diferenciados. Não se poderia, sem ferir a autenticidade, fazer arte pura, fria, intelectual, nesta África quente que eu vi apenas de relance, mas que me foi possível sentir na monumentalidade, no dinamismo, no ritmo do tambor e da dança, deste imenso mural do aeroporto de Dakar.
Em Zimbabué, que significa “Casa de Pedra”, existe o Museu Monte Palace que abriga a coleção Berardo de Arte com artistas africanos conhecidos internacionalmente. À frente do museu o visitante pode caminhar em um jardim oriental com vegetação exuberante, cercada de fontes, quiosques japoneses com as tradicionais pontes de madeira. Esculturas de pedra com temas africanos surgem no meio do verde, trazendo o passado ao presente.
A influência africana trazida às Américas através da escravidão, misturou-se à raça branca, e despertou vitoriosa nos Estados Unidos, no ritmo que veio do jazz à música trepidante de nossos dias, e, no Brasil, no espetáculo plástico das capoeiras da Bahia, no calor do samba brasileiro e nas comemorações do Maracatu, de grande beleza plástica. Contemplando o mural, lembro-me dos camdomblés, das histórias de Yemanjá e das cores festivas dos berimbaus.
A arte africana atravessou os mares e veio se expandir no Brasil, sendo os seus expoentes mais conhecidos os artistas plásticos Rubem Valentim, Emanoel Araújo, Mestre Didi, Maurino Araújo e Jorge dos Anjos.
Imagens:
1) Sala de exposição de Arte Contemporânea do Museu Monte Palace, Zimbabué
www.montepalace.com- acesso em 22/11/2009
2) Pintura Africana. Jou de Fête. www.saber.cultural.com.br. acesso em 22/11/2009
3) Rubem Valentim. Serigrafia, 1993. www.mauc.ufc.br acesso em 22/11/2009
4) Jorge dos Anjos. Portal da Memória. Recorte em aço, Pampulha, Belo Horizonte, 2006. Foto: Marília Andrés
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