quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DESENHANDO A ÍNDIA

Estou desenhando na Grande Praça de Bangalore. Em toda a Índia as praças são enormes. Este palácio é o parlamento da cidade, com escadarias e varandas monumentais. O caráter monumental das construções, das praças e da arquitetura de modo geral, é um ponto de extraordinária surpresa para quem chega de fora, acostumado ao crescimento vertical das cidades, visando a especulação imobiliária. Aqui o governo impede de todos os modos essa especulação. Quem compra um lote tem de construir e não pode vender o imóvel por 10 anos. São medidas severas que impedem o drama da aglomeração nos espaços centrais das grandes cidades como acontece no Ocidente. Todo o crescimento das cidades na Índia é feito em sentido horizontal.
Enquanto desenho, pobres se acercam com as mãos estendidas pedindo dinheiro. Mesmo que tenhamos por eles, sentimentos de amor e compaixão, o fato de dar esmolas nas ruas não resolve nada, só aumenta o número de mendigos. As crianças dão pena- são lindas, de uma ternura sem fim.Quando vêm alguém com ares de estrangeiro, se aproximam: “Mam...”e estendem as mãozinhas. E há também as velhas que se acercam estendendo os braços encarquilhados: “Mam...”
Agora estou em frente a um templo de Shiva, com meu caderno de desenho, cercada pelos pobres. Eles olham curiosos, empurram-se para ver. A velhinha me defende em linguagem local xingando as crianças. Imagino o que ela deve estar dizendo: “Deixa a dona desenhar.” A dona, apesar de aflita, continua a desenhar. Não pode espalhar rúpias pela multidão porque senão poderia criar problemas com outros pobres. Mas, sabendo que ninguém vai ganhar, eles se conformam em olhar o papel com curiosidade. E assim vou desenhando o povo deste país, os quiosques, os palácios, praças, templos...

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