Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
domingo, 22 de novembro de 2009
DIÁLOGO ÁFRICA BRASIL
Há países de que só podemos captar a impressão momentânea, o que nos sugere o impacto do primeiro encontro. Do alto do Boeing 707 da Air France, sentimos o sol e a terra em baixo. O deserto a se perder de vista. Parece-nos ver fotografias da lua, com seus desenhos e crateras. A civilização aproxima homens e terras. Um jato super cheio sobrevoa o deserto. A conquista do espaço, neste movimentado século XX, é o sinal do domínio do homem sobre a natureza. Em baixo, continua desfilando o panorama da areia quente, ensolarada, sem vegetação, sem casas, sem animais; somente a secura e a monótona repetição do mesmo tom rosa alaranjado, tão diferente de nossa floresta amazônica, onde o verde se perde de vista, como um tapete.
A África é o próprio sol vermelho laranja. E o colorido quente do sol do deserto está repetido nas cores das mantas africanas, dos puffs de couro, das jóias populares. Um grande mural visto no restaurante do aeroporto de Dakar, sugere todo este clima que é também o calor temperamental do negro africano. O mural é imenso, tem formas redondas, sensuais. Há um relacionamento interior, a pulsação do mesmo sangue, nas linhas e cores que movimentam o painel e no balanceio erótico das danças negras. Cada país reflete em sua arte, por mais internacionalizada que seja, um espírito ligado à terra, ao sangue, às condições de vida do povo. É o regional que se liga ao universal, através de cores características, de ritmos diferenciados. Não se poderia, sem ferir a autenticidade, fazer arte pura, fria, intelectual, nesta África quente que eu vi apenas de relance, mas que me foi possível sentir na monumentalidade, no dinamismo, no ritmo do tambor e da dança, deste imenso mural do aeroporto de Dakar.
Em Zimbabué, que significa “Casa de Pedra”, existe o Museu Monte Palace que abriga a coleção Berardo de Arte com artistas africanos conhecidos internacionalmente. À frente do museu o visitante pode caminhar em um jardim oriental com vegetação exuberante, cercada de fontes, quiosques japoneses com as tradicionais pontes de madeira. Esculturas de pedra com temas africanos surgem no meio do verde, trazendo o passado ao presente.
A influência africana trazida às Américas através da escravidão, misturou-se à raça branca, e despertou vitoriosa nos Estados Unidos, no ritmo que veio do jazz à música trepidante de nossos dias, e, no Brasil, no espetáculo plástico das capoeiras da Bahia, no calor do samba brasileiro e nas comemorações do Maracatu, de grande beleza plástica. Contemplando o mural, lembro-me dos camdomblés, das histórias de Yemanjá e das cores festivas dos berimbaus.
A arte africana atravessou os mares e veio se expandir no Brasil, sendo os seus expoentes mais conhecidos os artistas plásticos Rubem Valentim, Emanoel Araújo, Mestre Didi, Maurino Araújo e Jorge dos Anjos.
Imagens:
1) Sala de exposição de Arte Contemporânea do Museu Monte Palace, Zimbabué
www.montepalace.com- acesso em 22/11/2009
2) Pintura Africana. Jou de Fête. www.saber.cultural.com.br. acesso em 22/11/2009
3) Rubem Valentim. Serigrafia, 1993. www.mauc.ufc.br acesso em 22/11/2009
4) Jorge dos Anjos. Portal da Memória. Recorte em aço, Pampulha, Belo Horizonte, 2006. Foto: Marília Andrés
A África é o próprio sol vermelho laranja. E o colorido quente do sol do deserto está repetido nas cores das mantas africanas, dos puffs de couro, das jóias populares. Um grande mural visto no restaurante do aeroporto de Dakar, sugere todo este clima que é também o calor temperamental do negro africano. O mural é imenso, tem formas redondas, sensuais. Há um relacionamento interior, a pulsação do mesmo sangue, nas linhas e cores que movimentam o painel e no balanceio erótico das danças negras. Cada país reflete em sua arte, por mais internacionalizada que seja, um espírito ligado à terra, ao sangue, às condições de vida do povo. É o regional que se liga ao universal, através de cores características, de ritmos diferenciados. Não se poderia, sem ferir a autenticidade, fazer arte pura, fria, intelectual, nesta África quente que eu vi apenas de relance, mas que me foi possível sentir na monumentalidade, no dinamismo, no ritmo do tambor e da dança, deste imenso mural do aeroporto de Dakar.
Em Zimbabué, que significa “Casa de Pedra”, existe o Museu Monte Palace que abriga a coleção Berardo de Arte com artistas africanos conhecidos internacionalmente. À frente do museu o visitante pode caminhar em um jardim oriental com vegetação exuberante, cercada de fontes, quiosques japoneses com as tradicionais pontes de madeira. Esculturas de pedra com temas africanos surgem no meio do verde, trazendo o passado ao presente.
A influência africana trazida às Américas através da escravidão, misturou-se à raça branca, e despertou vitoriosa nos Estados Unidos, no ritmo que veio do jazz à música trepidante de nossos dias, e, no Brasil, no espetáculo plástico das capoeiras da Bahia, no calor do samba brasileiro e nas comemorações do Maracatu, de grande beleza plástica. Contemplando o mural, lembro-me dos camdomblés, das histórias de Yemanjá e das cores festivas dos berimbaus.
A arte africana atravessou os mares e veio se expandir no Brasil, sendo os seus expoentes mais conhecidos os artistas plásticos Rubem Valentim, Emanoel Araújo, Mestre Didi, Maurino Araújo e Jorge dos Anjos.
Imagens:
1) Sala de exposição de Arte Contemporânea do Museu Monte Palace, Zimbabué
www.montepalace.com- acesso em 22/11/2009
2) Pintura Africana. Jou de Fête. www.saber.cultural.com.br. acesso em 22/11/2009
3) Rubem Valentim. Serigrafia, 1993. www.mauc.ufc.br acesso em 22/11/2009
4) Jorge dos Anjos. Portal da Memória. Recorte em aço, Pampulha, Belo Horizonte, 2006. Foto: Marília Andrés
PINCELADA
O carnaval 2010 já foi lançado na Orla de Copacabana com a passagem de um trio elétrico animado por um grupo de terceira idade. Musicas carnavalescas e muita alegria se misturavam com os sons vindos do mar.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
DESENHANDO A ÍNDIA
Estou desenhando na Grande Praça de Bangalore. Em toda a Índia as praças são enormes. Este palácio é o parlamento da cidade, com escadarias e varandas monumentais. O caráter monumental das construções, das praças e da arquitetura de modo geral, é um ponto de extraordinária surpresa para quem chega de fora, acostumado ao crescimento vertical das cidades, visando a especulação imobiliária. Aqui o governo impede de todos os modos essa especulação. Quem compra um lote tem de construir e não pode vender o imóvel por 10 anos. São medidas severas que impedem o drama da aglomeração nos espaços centrais das grandes cidades como acontece no Ocidente. Todo o crescimento das cidades na Índia é feito em sentido horizontal.
Enquanto desenho, pobres se acercam com as mãos estendidas pedindo dinheiro. Mesmo que tenhamos por eles, sentimentos de amor e compaixão, o fato de dar esmolas nas ruas não resolve nada, só aumenta o número de mendigos. As crianças dão pena- são lindas, de uma ternura sem fim.Quando vêm alguém com ares de estrangeiro, se aproximam: “Mam...”e estendem as mãozinhas. E há também as velhas que se acercam estendendo os braços encarquilhados: “Mam...”
Agora estou em frente a um templo de Shiva, com meu caderno de desenho, cercada pelos pobres. Eles olham curiosos, empurram-se para ver. A velhinha me defende em linguagem local xingando as crianças. Imagino o que ela deve estar dizendo: “Deixa a dona desenhar.” A dona, apesar de aflita, continua a desenhar. Não pode espalhar rúpias pela multidão porque senão poderia criar problemas com outros pobres. Mas, sabendo que ninguém vai ganhar, eles se conformam em olhar o papel com curiosidade. E assim vou desenhando o povo deste país, os quiosques, os palácios, praças, templos...
Enquanto desenho, pobres se acercam com as mãos estendidas pedindo dinheiro. Mesmo que tenhamos por eles, sentimentos de amor e compaixão, o fato de dar esmolas nas ruas não resolve nada, só aumenta o número de mendigos. As crianças dão pena- são lindas, de uma ternura sem fim.Quando vêm alguém com ares de estrangeiro, se aproximam: “Mam...”e estendem as mãozinhas. E há também as velhas que se acercam estendendo os braços encarquilhados: “Mam...”
Agora estou em frente a um templo de Shiva, com meu caderno de desenho, cercada pelos pobres. Eles olham curiosos, empurram-se para ver. A velhinha me defende em linguagem local xingando as crianças. Imagino o que ela deve estar dizendo: “Deixa a dona desenhar.” A dona, apesar de aflita, continua a desenhar. Não pode espalhar rúpias pela multidão porque senão poderia criar problemas com outros pobres. Mas, sabendo que ninguém vai ganhar, eles se conformam em olhar o papel com curiosidade. E assim vou desenhando o povo deste país, os quiosques, os palácios, praças, templos...
PINCELADA
No dia 13 de novembro, o Instituto Pensarte, em São Paulo, abre a temporada da exposição itinerante "Arte Superando Barreiras", assinada pela artista mineira Kátia Santana. O projeto contempla não somente a artista plástica Kátia Santana, mas também o músico Evaldo Leoni, portador de deficiência visual. Depois de São Paulo, as telas viajam para Minas Gerais, para a Galeria do Estado de Minas, de 1 a 7 de dezembro.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
NOSSA SENHORA E O ANJO, TEMA DE GUIGNARD
Nas ruas de Florença , rememoramos os passos de Guignard ainda jovem, estudante de arte . Florença nos faz lembrar Ouro Preto, com suas ruelas escondidas, onde se sente a arte ressurgindo de um passado histórico. Em Florença viveram Miguel Ângelo, Leonardo, Botticelli, perpetuados nas praças, nas igrejas e museus da cidade. Filas enormes de turistas desfilam diante das obras de arte e pode-se ver a primeira criação de Leonardo, um anjinho pintado na tela “Batismo de Cristo” de seu mestre, Andrea de Verocchio. O gênio de Leonardo foi revelado a partir daquele anjo onde o discípulo superou o mestre em qualidade e beleza.
Guignard, estudando em Florença deve ter aprendido com as obras dos mestres renascentistas e pré- renascentistas. Guignard colocava nas paredes da escola de belas Artes reproduções de Botticelli, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci , Dürer e outros.
“Olha como eles sabiam desenhar! Nunca começavam a pintura sem uma cuidadosa dedicação ao desenho. O desenho é a base para se chegar à pintura.” E muitas vezes esses desenhos rabiscados espontaneamente, hoje não são considerados apenas estudos, mas nos ensinam como nasce a criatividade. O importante não era reproduzir o modelo de forma acadêmica ( Guignard detestava o academismo) , mas transmutá-lo de acordo com o temperamento de cada um.
Assim, caminhando através da admiração de Guignard, também aprendíamos a amar os artistas que hoje constituem o grande acervo cultural da humanidade. Os temas escolhidos por esses artistas também eram passados nas aulas de desenho e pintura. No início do curso Guignard nos dava um tema para ser ilustrado : “Nossa Senhora e o Anjo...”. Muitas vezes indaguei o porque deste tema bíblico. A resposta está na Galeria Uffizi, interpretada por Leonardo, Rafael, Filippo de Lippi , Botticelli e outros. Mergulhando no tempo, vejo Guignard se inspirando naquele tema bíblico cheio de poesia, para transmitir mais tarde aos alunos a intensidade mística de suas experiências.
A arte, transcendendo as limitações da época, nos conduz ao mergulho no inconsciente coletivo, além do tempo e do espaço. Dante e Botticelli percorreram os caminhos da alma até a redenção final glorificada. Olhando com os olhos de Guignard ainda estudante, sentimos o quanto a poesia e transcendência de um sentimento religioso influenciou o artista que mais tarde revelaria o céu a seus alunos, num país distante e numa região cheia de poesia e de religiosidade que é a região de Minas Gerais. Guignard nos revelou a tradição cristã sem impor dogmas ou regras de conduta. Tendo como base os artistas florentinos ele nos transmitiu a grande lição que aprendeu na Europa.
Quadros:
1) “Anunciação” - Leonardo da Vinci
2) “Anunciação” - Sandro Boticelli
3) “Anunciação” - Lorenzo de Credi
4) “Anunciação” – Fra Felipo Lippi
5) “Batismo de Cristo” – Andréa del Verrocchio
6) “Batismo de Cristo” – Detalhe dos anjos- Anjo da esquerda é de Leonardo da Vinci com 13 anos de idade.
Guignard, estudando em Florença deve ter aprendido com as obras dos mestres renascentistas e pré- renascentistas. Guignard colocava nas paredes da escola de belas Artes reproduções de Botticelli, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci , Dürer e outros.
“Olha como eles sabiam desenhar! Nunca começavam a pintura sem uma cuidadosa dedicação ao desenho. O desenho é a base para se chegar à pintura.” E muitas vezes esses desenhos rabiscados espontaneamente, hoje não são considerados apenas estudos, mas nos ensinam como nasce a criatividade. O importante não era reproduzir o modelo de forma acadêmica ( Guignard detestava o academismo) , mas transmutá-lo de acordo com o temperamento de cada um.
Assim, caminhando através da admiração de Guignard, também aprendíamos a amar os artistas que hoje constituem o grande acervo cultural da humanidade. Os temas escolhidos por esses artistas também eram passados nas aulas de desenho e pintura. No início do curso Guignard nos dava um tema para ser ilustrado : “Nossa Senhora e o Anjo...”. Muitas vezes indaguei o porque deste tema bíblico. A resposta está na Galeria Uffizi, interpretada por Leonardo, Rafael, Filippo de Lippi , Botticelli e outros. Mergulhando no tempo, vejo Guignard se inspirando naquele tema bíblico cheio de poesia, para transmitir mais tarde aos alunos a intensidade mística de suas experiências.
A arte, transcendendo as limitações da época, nos conduz ao mergulho no inconsciente coletivo, além do tempo e do espaço. Dante e Botticelli percorreram os caminhos da alma até a redenção final glorificada. Olhando com os olhos de Guignard ainda estudante, sentimos o quanto a poesia e transcendência de um sentimento religioso influenciou o artista que mais tarde revelaria o céu a seus alunos, num país distante e numa região cheia de poesia e de religiosidade que é a região de Minas Gerais. Guignard nos revelou a tradição cristã sem impor dogmas ou regras de conduta. Tendo como base os artistas florentinos ele nos transmitiu a grande lição que aprendeu na Europa.
Quadros:
1) “Anunciação” - Leonardo da Vinci
2) “Anunciação” - Sandro Boticelli
3) “Anunciação” - Lorenzo de Credi
4) “Anunciação” – Fra Felipo Lippi
5) “Batismo de Cristo” – Andréa del Verrocchio
6) “Batismo de Cristo” – Detalhe dos anjos- Anjo da esquerda é de Leonardo da Vinci com 13 anos de idade.
PINCELADAS
Aconteceu em Ouro Preto, o fórum das letras, considerado um dos mais importantes acontecimentos literários do Brasil, coordenado por Guiomar da Grammond, professora da UFOP. Ali compareceram, entre outros, Frei beto, Arnaldo Antunes, Paulinho Moska e Guilherme Mansur.
Lembramos com saudade do nosso companheiro de arte Fernando Fiúza, sempre atuante no meio cultural.
Lembramos com saudade do nosso companheiro de arte Fernando Fiúza, sempre atuante no meio cultural.
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