Nas ruas de Varanasi, cidade santa, as festas se sucedem. Ali as coisas acontecem simultaneamente e a vida se movimenta em mil cenas, desfilando como um filme diante dos nossos olhos.
Chegamos no dia 19 de abril, dia dos casamentos. Nas ruas, elefantes enfeitados desfilavam, seguidos de carruagens deslumbrantes, iluminadas, o noivo sentado no alto do andor com flores cobrindo o rosto. A cena acontecia entre fogos de artifício, ao som de tambores e banda de música. Parecia um conto de mil e uma noites.
Passamos por um pórtico enfeitado de pinturas. Dentro de uma casa humilde celebrava-se o casamento de uma família pobre. Convidaram-nos a entrar e fizeram-nos sentar no chão. A noiva, uma adolescente de 14 anos, recebia os convidados com chá e salgadinhos apimentados.
Bandas de música enchiam os becos de Varanasi com sons variados, fogos de artifício explodiam no espaço e andores passavam pelas ruas, como nas festividades religiosas das cidades históricas de Minas Gerais. Grandes figuras modeladas em papier-maché ou fundidas em metal prateado representavam os nobres de antigamente ou os deuses hindus. As deusas Saraswati e Parvati também acompanhavam outro cortejo, levando um jovem à casa de sua futura esposa. Tudo respirava alegria e festa.
Em Varanasi, que representa a antiga Índia, a tradição é conservada com todos os detalhes de antigamente e a força do passado é mantida pelas diversas religiões. Na Índia, os cristãos representam o Ocidente e o casamento cristão é como o nosso: a noiva entra com o pai e o noivo a espera no altar. Pelo traje de cada pessoa pode-se saber a qual religião pertence. Os cristãos usam sapatos e vestem-se de terno e gravata, os hindus usam sandálias, vestem-se de dhotis e blusões brancos. Os mulçumanos, quase sempre, estão de preto e as mulheres cobrem-se também com longos véus pretos, como irmãs de caridade.
Nas ruas estreitas de Varanasi, com pouco mais de um metro de largura, a passagem era feita somente por pedestres. As construções antigas protegiam a cidade contra o calor do verão, e, à sombra dos becos, o sol não penetrava. Por detrás das grades, moças curiosas espiavam os transeuntes passando. Vacas, bezerros e cabritos andavam sem pedir licença, empurrando quem estava na frente.
Enquanto andávamos a arquitetura das casas criava nos muros diversos cenários do passado com reis e rainhas, surgindo à soleira das portas, pintadas em cores vivas sobre o fundo branco. Moças com os pés pintados de vermelho seguiam as encruzilhadas, subindo os degraus e enveredando por becos. Surgiram numa réstea de sol, elefantes pintados, homens de turbante, colunas, pórticos, escadarias, vidros com os deuses hindus iluminados por lamparinas, roupas dependuradas nas janelas e saris coloridos jogados nas varandas.
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