Em todos esses anos de arte pude constatar várias fases, partindo da realidade exterior para uma realidade interior do imaginário, do desconhecido. Vivenciei, ao longo de minha trajetória artística os 5 elementos da matéria: terra, água, fogo, ar e éter. A fase da terra começou com temas do cotidiano, meu mundo de família, crianças, cenas da fazenda, paisagens de Belo Horizonte, quase tudo dentro de um certo lirismo herdado de Guignard. Saía para o campo munida de pranchetas e aquarelas, afim de captar diretamente da natureza sugestões para a minha pintura. Os filhos estavam em volta, também desenhando, meu marido ajudava-me no preparo das telas. Considero pertencente a esta fase, também os quadros concretistas, que são “cidades iluminadas” e aqueles que têm uma referência a temas bíblicos, inclusive o símbolo da cruz.
O elemento terra cedeu lugar ao elemento água, mas o símbolo da cruz ainda continuou nos mastros dos veleiros. A forma já não era estática e geométrica, sugeria o movimento e transparências. Os veleiros anunciaram-me as primeiras viagens internacionais, numa necessidade de conhecer o mundo, de conscientizar-me de novos caminhos, novas experiências. Conheci nos EUA um grupo da Action Painting. Experimentei a espontaneidade da pintura gestual, ligada ao Zen budismo, a forma direta de se perceber o “aqui e agora”.
O terceiro elemento da matéria, o fogo, explodiu em 1965, na Fase de Guerra, representando a destruição e a purificação pelo fogo, para atingir novos planos mais elevados. Os mastros dos navios tornaram-se agressivos, ponteagudos, e a fase de guerra, em preto e branco, motivada pela tensão política da época, durou um ano. Foi uma denúncia à violência, opressão e ao medo. Daí veio a necessidade de paz, a própria agressividade da fase de guerra, influenciando as primeiras madonas barrocas, num retorno ao nosso barroco de Minas Gerais. As primeiras madonas eram agressivas, guerreiras, para depois tomarem a direção dos céus, anunciando a fase dos astronautas. As madonas barrocas, ligadas à nossa tradição, foram uma porta entre a Terra e o Céu, entre a Guerra e a Paz. Elas me conduziram para novos caminhos.
O quarto elemento da matéria, o ar, manifestou-se em 1966 com a série de naves interplanetárias. Veio a conquista do espaço, a tecnologia humana vencendo as barreiras e desvendando o cosmos. Os quadros desta fase chegaram ao Rio, numa exposição no Copacabana Palace, ao mesmo tempo que o homem pisava na Lua pela primeira vez.
O quinto elemento, o éter, é representado na minha trajetória com a forma circular da Mandala, que em termos orientais, corresponde a uma necessidade de integração, de criar uma gestalt, uma forma inteira, onde todos os lados são iguais. A partir de então comecei a me interessar pelas filosofias orientais e por estudos comparativos entre as culturas do Oriente e do Ocidente.
São poucas pessoas nesse mundo que podem nomear todas as pedras que passaram pelo seu caminho. Mais poucos ainda, são os que têm coragem de pisar sobre elas, beber a água que cai da chuva, emquanto caminha , ascender ao fogo enquanto sente a brisa fria do amanhecer.
ResponderExcluirSão pessoas especiais porque querem ser o comum. Se conhecem como poucos, talves apenas como Sócrates, ou como a arte, que prova que a estética é também a alma do auto conhecimento.
Aqui, como na Ìndia, se encontra isso.
nesse caminho da vida, temos nossas fases, assim como nossos medos, nossas glórias, nossos tempos de terra, agua, ar, fogo e eter.
ResponderExcluirAfinal somos humanos, demasiadamente humanos... e isso é tão lindo...
Se soubermos que somos passageiros e aprendizes em tudo, o amor floresce muito mais forte na alma.