ESCOLA GUIGNARD MANGABEIRAS
Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 28 de abril de 2009
ESCOLA DE BELAS ARTES NO PARQUE MUNICIPAL - BH (1944)
A escola de Belas Artes Guignard, situada no bairro Mangabeiras, aos pés da Serra do Curral, tomou no momento um visual majestoso: escadarias, salões, salas envidraçadas e um imenso pátio onde os jovens se encontram e trocam idéias.
Adequada à contemporaneidade, a escola continua a ser ponto de encontro de ações criativas.
Dia 14 de abril foi inaugurado o acervo de papéis antigos do mestre Guignard: cartas, documentos oficiais, rascunhos de aula, desenhos e fotos da época.
Este acervo afetivo – cultural está sendo colocado à mostra no grande Salão de Exposições da escola.
Alguns ex-alunos foram convidados a prestarem depoimentos. Éramos sete convidados, cada um representando a sua época, mas unidos pelo mesmo fio condutor que impulsionou o ensino de arte em Minas. Naquela ocasião (década de 40), a escola foi considerada pelo grande artista Portinari como a melhor escola do Brasil.
Foi emocionante a espontaneidade dos depoimentos. Quando um de nós terminava a sua fala, o outro dava continuidade, focalizando novos aspectos. Lembramos o passado cheio de lutas e quase sufocado pela falta de recursos econômicos (em 1965 a escola esteve a beira de ser fechada, mas os ex alunos imediatamente se prontificaram a trabalhar de graça até que a escola se estruturasse), todos tínhamos à frente como bandeira a chama de entusiasmo iniciada por Guignard.
Observou-se que cada aluno ali presente seguira o seu próprio caminho, sem se prender ao estilo do mestre. Isso veio testemunhar o respeito que Guignard tinha pela individualidade e expressão artística de seus alunos.
Testemunhamos a ênfase dada pelo mestre ao desenho como fundamento de todas as artes plásticas. Conquistava-se a disciplina no desenho de observação feito com lápis duro, e a liberdade nos croquis rápidos, que buscavam a essência do movimento e da forma.
Esses dois fatores contribuíram para o nosso desenvolvimento nos caminhos da arte.
Considero de grande importância esse encontro de gerações, pois é através do depoimento das gerações anteriores que se pode compreender o caminho percorrido e o seu resultado no presente.
terça-feira, 21 de abril de 2009
O Despertar dos Sons
Alexandre, meu neto, é compositor e a música brota para ele como água de fonte, muito límpida, pura.
Assisti a um despertar de sons. O jovem músico faz vibrar o violão e de seus dedos vão surgindo os primeiros acordes.
O processo é semelhante ao do pintor que se encontra diante de uma tela vazia.
Para Alexandre, o violão realiza o encontro dos sons que vão surgindo espontâneos, sem interferência da mente, com a sua própria voz, cantando sem palavras, sem objetivos determinados ou títulos, apenas cantarolando.
O canto se une ao som do violão, e a nova música vai surgindo, como uma viagem por um mar desconhecido.
A fonte da criatividade é uma só, e para alcançá-la é importante se despojar dos conceitos. Deixar fluir em 1º lugar a emoção criadora, sem bloqueios, seguindo uma ordem interna, para depois direcioná-la para uma ordem externa – primeiro a intuição, depois o raciocínio.
A intuição vem do vazio, esse vazio é necessário, e também o silêncio em torno. Algumas vezes a intuição criadora surge no meio do barulho, da confusão, o que é necessário é o vazio interno, um despojamento do excesso de informações.
“Vó sempre começo da melodia, hoje comecei da harmonia”.
Deixei-o sozinho na sala e ele ficou, pela noite adentro, compondo uma nova música. A base já estava pronta, faltavam detalhes, colocação de outros instrumentos: flauta, piano, percussão...
O letrista é convocado para dar a palavra certa para cada nota.
Outros músicos são chamados, alguns jovens como Alexandre outros companheiros de Artur, seu pai.
A idéia inicial continua viva, mas se enriquece com novas idéias, cuja finalidade é ampliar o campo auditivo.
Dentro deste ambiente harmonioso onde a colaboração constituía um fator primordial, nasceu o CD que foi lançado em outubro de 2008 em Belo Horizonte.
O título do CD, “Águaluz”, é poético e trás a energia positiva de sua relação com planos superiores.
Música brasileira, nascida da Terra, mas sempre mantendo o seu caráter universal e transcendente.
É música para se escutar e sentir seus benefícios no próprio corpo.
Música que ultrapassa as fronteiras do conhecido, para mergulhar num universo que só pode ser atingido quando nos despojamos das coisas supérfluas buscando nossa própria essência.
A carreira musical de Alexandre já se inicia com um extraordinário sucesso. Em 19 de abril passado, ele recebeu dois primeiros prêmios do BDMG-Instrumental, como melhor compositor e melhor arranjador. O concurso ocorreu no Teatro do Sesiminas onde o jovem e talentoso músico, de apenas 19 anos, apresentou suas composições de altíssima qualidade tendo sido aplaudido de pé pela platéia que lotava aquele teatro.
Alexandre, meu neto, é compositor e a música brota para ele como água de fonte, muito límpida, pura.
Assisti a um despertar de sons. O jovem músico faz vibrar o violão e de seus dedos vão surgindo os primeiros acordes.
O processo é semelhante ao do pintor que se encontra diante de uma tela vazia.
Para Alexandre, o violão realiza o encontro dos sons que vão surgindo espontâneos, sem interferência da mente, com a sua própria voz, cantando sem palavras, sem objetivos determinados ou títulos, apenas cantarolando.
O canto se une ao som do violão, e a nova música vai surgindo, como uma viagem por um mar desconhecido.
A fonte da criatividade é uma só, e para alcançá-la é importante se despojar dos conceitos. Deixar fluir em 1º lugar a emoção criadora, sem bloqueios, seguindo uma ordem interna, para depois direcioná-la para uma ordem externa – primeiro a intuição, depois o raciocínio.
A intuição vem do vazio, esse vazio é necessário, e também o silêncio em torno. Algumas vezes a intuição criadora surge no meio do barulho, da confusão, o que é necessário é o vazio interno, um despojamento do excesso de informações.
“Vó sempre começo da melodia, hoje comecei da harmonia”.
Deixei-o sozinho na sala e ele ficou, pela noite adentro, compondo uma nova música. A base já estava pronta, faltavam detalhes, colocação de outros instrumentos: flauta, piano, percussão...
O letrista é convocado para dar a palavra certa para cada nota.
Outros músicos são chamados, alguns jovens como Alexandre outros companheiros de Artur, seu pai.
A idéia inicial continua viva, mas se enriquece com novas idéias, cuja finalidade é ampliar o campo auditivo.
Dentro deste ambiente harmonioso onde a colaboração constituía um fator primordial, nasceu o CD que foi lançado em outubro de 2008 em Belo Horizonte.
O título do CD, “Águaluz”, é poético e trás a energia positiva de sua relação com planos superiores.
Música brasileira, nascida da Terra, mas sempre mantendo o seu caráter universal e transcendente.
É música para se escutar e sentir seus benefícios no próprio corpo.
Música que ultrapassa as fronteiras do conhecido, para mergulhar num universo que só pode ser atingido quando nos despojamos das coisas supérfluas buscando nossa própria essência.
A carreira musical de Alexandre já se inicia com um extraordinário sucesso. Em 19 de abril passado, ele recebeu dois primeiros prêmios do BDMG-Instrumental, como melhor compositor e melhor arranjador. O concurso ocorreu no Teatro do Sesiminas onde o jovem e talentoso músico, de apenas 19 anos, apresentou suas composições de altíssima qualidade tendo sido aplaudido de pé pela platéia que lotava aquele teatro.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Domingo de Pascoa no Retiro
Um dos recantos mais bonitos do Condomínio Retiro das Pedras é o caminho que conduz à capela. Ali, costumo fazer minhas caminhadas. Enquanto ando, vou também percebendo a paisagem das montanhas se estendendo a perder de vista. As pedras parecem esculturas rebuscadas, buriladas pelos ventos. Existem há milênios e nos contam histórias de um passado longínquo, de índios gurreiros e animais silvestres. A Serra da Calçada está sendo considerada patrimônio da Unesco, com animais e plantas raras, algumas ainda não estudadas pelos pesquisadores. Nesse ambiente de paz e poesia sentimos profundamente a nossa unidade com a natureza. Ali foi realizada uma comemoração coletiva da comunidade no domingo de Páscoa. As cidades históricas de Minas têm a tradição de, durante os festejos da Semana Santa reunir a população para a realização de um trabalho coletivo de Artechão.
Aqui, no Retiro das Pedras, seguindo a tradição mineira, jovens, adultos e crianças participaram voluntariamente da criação de um grande tapete confeccionado com serragem colorida, por onde passaria o círio pascal. Todo o processo criativo foi acompanhado por música, unindo a energia dos sons às cores daquela "Artechão". Essa primeira iniciativa da nova gestão, foi impulsionada por um entusiasmo que vem trazer luz para este espaço abençoado. Entusiasmo significa "Deus dentro" e temos certeza de que foi conduzida por uma forte energia espiritual.
Aqui, no Retiro das Pedras, seguindo a tradição mineira, jovens, adultos e crianças participaram voluntariamente da criação de um grande tapete confeccionado com serragem colorida, por onde passaria o círio pascal. Todo o processo criativo foi acompanhado por música, unindo a energia dos sons às cores daquela "Artechão". Essa primeira iniciativa da nova gestão, foi impulsionada por um entusiasmo que vem trazer luz para este espaço abençoado. Entusiasmo significa "Deus dentro" e temos certeza de que foi conduzida por uma forte energia espiritual.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
O Caminho
Comecei a estudar pintura muito cedo, ainda adolescente. Desenhava retratos e caricaturas de meus familiares, nas festas de aniversário. Uma irmã do Colégio Sacre Coeur de Marie chamou um dia meus pais e recomendou: “Esta menina precisa estudar pintura”. Entrei para o curso de Carlos Chambelland, no Rio, onde tive uma formação acadêmica, copiando modelos de gessos e modelos vivos. Em 1944, Quando Alberto da Veiga Guignard foi convidado pelo então prefeito Juscelino Kubitscheck para liderar a Escola do Parque Municipal em Belo Horizonte, fui uma das primeiras a me inscrever no curso.
Guignard significou para mim a abertura para o novo, o despertar da minha energia de criatividade. Precisava largar a iniciação acadêmica e partir em busca de maior liberdade dentro da arte. Encontrei-a no convívio com os colegas, no ambiente do Parque Municipal, na poesia da natureza. Guignard abria a percepção e a sensibilidade dos alunos mostrando anjos e guerreiros nos muros velhos, mandalas nas águas do lago, e as formas abstratas que se formavam nas nuvens. “Reparem os céus de Minas Gerais, são de um azul metálico, brilhante...” Assim íamos seguindo o mestre e nos desenvolvemos à luz do seu entusiasmo. Abrir a percepção, descobrir a peculiaridade de cada aluno era seu lema constante. Guignard tinha como assistente Edith Bhering, sua ex-aluna, vinda do Rio. Entre os colegas que participaram desta primeira turma, estavam artistas hoje conceituados na arte brasileira, tais como, Mário Silésio, Amílcar de Castro, Solange Botelho, Marília Gianetti, Mary Vieira, Holmes Neves, Chanina, Wilde Lacerda, Nelly Frade, Ione Fonseca e Célia Laborne (hoje conhecida como jornalista). Permaneci na Escola Guignard somente três anos. Em 1947, casei-me com o médico Dr. Luiz Andrés Ribeiro de Oliveira, e apesar de ter uma vida de dona de casa e mãe de seis filhos, nunca parei de me dedicar a arte. Enquanto meu marido estudava e fazia concursos, constituindo a sua carreira como médico, eu elaborava também a minha como artista plástica.
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