Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
domingo, 18 de outubro de 2020
MEMÓRIAS DE PRÊMIOS
Antigamente, os artistas faziam suas carreiras participando de Salões e Bienais. Enviavam seus trabalhos que teriam de se submeter a um júri nacional ou internacional, como nas primeiras Bienais de São Paulo.
No
momento, recordo a minha participação no Rio de Janeiro, no Salão Nacional de
Belas Artes, quando comecei a minha carreira, aos 18 anos. Revejo a minha
alegria e surpresa ao me ver incluída entre os artistas de Rio e São Paulo e
também de outros estados do Brasil.
Sempre
havia uma surpresa, uma alegria e a confirmação de que eu estava andando para a frente.
Na
minha fase figurativa, eu fazia retratos, solicitando às pessoas da família ou
às empregadas da casa para servirem de modelo. O tema de retratos foi uma
constante.
Às
vezes o meu nome saía nos jornais do Rio.
-
“Tem caráter, fala, a Portuguesa de
Maria Helena”.
Guardei
esta frase na memória, porque me senti prestigiada com a crítica e a Menção
Honrosa que ela me deu. Ficou só na memória, porque o quadro foi doado a quem
posou para mim, a lavadeira de minha casa... Em geral, os retratos não ficam
com a gente.
Assim,
fui percorrendo o caminho da arte, tentando sempre participar dos Salões de
Minas e do Rio.
Teria
de afrontar um júri que poderia tranquilamente me recusar, mas foi com esta
disposição de transpor obstáculos que mantive aceso o meu caminho. Uma
conquista, um recuo, um passo à frente, e a volta para casa, já projetando
ganhar mais espaço no difícil universo das artes.
E
eu fui vivendo a minha vida de dona de casa, mãe de seis filhos e a vida
profissional. O importante era não parar .
Hoje
vou relatar dois fatos de prêmios de viagem.
O
primeiro foi no Salão Nacional de Arte Moderna do Rio.
Eu
estava na minha fase construtiva, mergulhada na rigidez dos quadrados coloridos
e nas linhas paralelas. Os quadros saíam do meu ateliê da Rua Santa Rita Durão,
situado num barracão de fundo.
Dali
eu podia pintar e ao mesmo tempo, pela janela, ver as crianças brincando entre
as árvores do meu fundo de quintal. Ali, consegui realizar a minha série
concretista que começou a ser vista no Salão de Arte Moderna do Rio e nas
Bienais de São Paulo.
Mario
Pedrosa me visitava em Belo Horizonte, dava força para eu seguir adiante.
Sempre vinha ao meu ateliê acompanhado de Franz Weissmann, meu amigo e colega.
Um
dia, depois de enviar duas telas para o Rio, onde estiveram expostas no Salão, recebi
um telefonema de Weissmann.
-
“Maria Helena, você é forte candidata ao prêmio de à viagem à Europa, mas
querem saber se você está em condições de viajar. É uma candidata muito forte “.
Naquele
momento eu não hesitei e agradeci:
-
“Pode dizer à Comissão Julgadora que não posso viajar e
me afastar por dois anos de minha família”.
Foi
assim que eu desisti do Prêmio de Viagem à Europa, tão ambicionado por todos!
Na
década de 1960 eu estava como professora da Escola Guignard, atuando na área do
ensino de arte e ao mesmo tempo participando de Salões.
Naquela
ocasião, recebi um convite para visitar os Estados Unidos, num programa de Leaders and Specialists. Eu teria de me ausentar
do país por quatro meses. Pretendia recusar novamente a oportunidade de viajar,
mas o meu marido Luiz me deu a maior força.
-
“Você recebeu um convite, não vai recusá-lo.
Esta viagem é importante para a sua carreira, pode deixar que eu cuido
das crianças”.
E
foi assim que eu saí do Brasil por alguns meses, deixando uma família para
trás, muito bem cuidada por meu marido e a sua família.
Foi
difícil decidir, mas acabou sendo uma lição de vida muito importante para todos
nós.
Meus
quadros sofreram mudanças. Houve uma transformação gradativa das Cidades Iluminadas, construtivas, para uma
pintura mais livre, gestual, que deu início à fase de Barcos referente à minha primeira viagem para fora do Brasil.
*FOTOS
DE ARQUIVO
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domingo, 11 de outubro de 2020
ANDRÉ SALLES COELHO
A vida é uma descoberta diária. Passo a passo ela nos mostra o novo, sem aviso prévio. Meu sobrinho André de Salles Coelho, além de músico, compositor e fotógrafo é diretor da Orquestra 415 de Música Antiga, criada em 2012 com o objetivo de oferecer ao público um espetáculo singular: a audição das obras dos compositores dos séculos XVII e XVIII com instrumentos de época (réplicas de originais tocados no período).
Isto permite ao ouvinte
uma sonoridade semelhante às audições de séculos atrás, muitas vezes executadas
dentro de igrejas ou em salões da corte. São verdadeiras joias do passado,
pedras reluzentes de mentes criativas que muitas vezes ficaram esquecidas na
distância do tempo.
André se dedica também
à pesquisa de nossas origens africanas, aos ritmos do coco e do maracatu. Há
anos ele dirige o grupo “Maracatu Lua Nova”,que participa de eventos
folclóricos tradicionais, como reizados e congados, revitalizando a tradição da
cultura afro em Minas Gerais.
André é também um
pesquisador de árvores genealógicas.
Ele descobriu que o Dom Afonso X é antepassado
de todos nós e que Ângela Vaz Leão é nossa parente por
parte de meu pai Euler de Salles Coelho.
Ouvindo as “Cantigas de Santa Maria” me lembrei da Orquestra 415, tendo como tema Dom Quixote. Naquela apresentação havia
também uma síntese das diversas artes: teatro de bonecos, música, poesia e
artes plásticas. A arte medieval veio à tona neste século XXI como forma de
reinventar a arte do nosso século.
*FOTOS DA INTERNET
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terça-feira, 6 de outubro de 2020
UM POEMA PARA AFONSO X, REI DE PORTUGAL
Nunca é tarde para aprender. Cada dia que passa aprendo algo de novo. Cada aprendizado é acompanhado de muita alegria.
Recentemente, tive
acesso ao livro de Ângela Vaz Leão, professora e pesquisadora da UFMG. Ela
escreveu o livro Cantigas autobiográficas
de Afonso X, “O Sábio”, publicado pela PUC/Minas, contando a vida de um rei
português que viveu na época medieval. Ângela organizou um grupo de estudos
sobre a obra do rei Afonso X. “Há um interesse mundial pela poesia de Afonso X,
especificamente as “Cantigas de Santa
Maria”, nos diz ela, no inicio do trabalho.” O livro me foi enviado pela
internet, página por página, através da boa vontade de Sonia Labouriau, artista
e professora da Escola Guignard.
Estou descobrindo a
vida deste rei, amante das artes e devoto de Nossa Senhora. Transformou a sua
devoção em poesia, através de lindas iluminuras medievais. A vida e a arte de
Afonso X e os costumes da época podem ser vistos e ouvidos no youtube como “Cantigas de Santa Maria”, uma integração
de música, pintura, poesia, história, religião e filosofia.
Afonso X é uma fonte de
inspiração para todos os artistas, na medida em que dava mais valor às artes do
que às armas.
Me identificando com as ideias de Afonso X,
escrevi o poema abaixo.
AFONSO X
Foi um rei de Portugal
Muito à frente
De seu tempo.
Sua voz conseguiu
Atravessar montanhas
Vales e mares.
O agora deste rei
É o nosso agora
De hoje.
Antepassado de
Todos,
Modelo de nossa história
Foi apontando o roteiro
De um futuro luminoso.
Considerado o “Rei Sábio”
Uniu a Europa
Em conflito.
Não gostava de guerras
Mas de arte.
Mecenas dos trovadores
Dos poetas
Dos cantores.
Afonso, você nos fala
Como se agora
Vivesse.
Traduzindo vários
Livros de muitas
Religiões
Apontou o ecumenismo
Como caminho
De paz.
E conduziu
Trovadores
Como
Arautos de um
Modelo de energia positiva.
E na distância
Do tempo
Você está
Vivo, hoje.
*FOTOS DA INTERNET
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