segunda-feira, 4 de setembro de 2017

UNIPAZ, 30 ANOS

Paramos o carro nos arredores de Brasília. Manhã de sol, vento fresco. Numa pequena tenda organizada dentro de um container azul, serviram água de coco. À frente um painel anunciava “UNIPAZ”. A granja do Ipê foi cedida em 1987 ao professor e psicólogo Pierre Weil para realizar o seu trabalho holístico e estendê-lo a todos os que já estavam preparados. Pierre foi presidente do Retiro das Pedras, tentou iniciar o seu trabalho ali, no alto das montanhas de Minas, mas a vida o conduziu para o planalto central.

Agora, estou em frente ao meu painel pintado para o salão principal da Universidade. Lembro-me de quando foi pintado, no meu atelier da fazenda, em cima de uma lona.
Levei tempo realizando este trabalho, que viajou para Brasília enrolado numa vara de bambu.

Eu fazia muito disso. Transportava quadros enormes para São Paulo, Rio e Brasília, enrolados no bambu. Agora vou me lembrando do tempo em que viajava para Brasília a fim de participar de workshops e dinâmicas de grupo.

As aulas holísticas eram dadas anexadas sempre às atividades artísticas, um trabalho de arte coletiva que eu introduzira como forma de integração de todas as energias. Foi a melhor forma de integrar essas energias num todo harmonioso e ao mesmo tempo prazeroso. Criar uma obra coletiva, sem um autor individual, sem comando, apenas dando incentivo e permitindo que a criação surgisse por si própria. Muitas vezes eu ficava exausta porque assimilava aquele conjunto de energias, mas o resultado final era ótimo, valorizando-se mais o processo do que o resultado.

Os baluartes da paz nos chegam quando nos empenhamos num trabalho de arte. Eles nos chegam silenciosos, dentro de cada um de nós. Leio o texto da Unesco, colocado em frente ao prédio da Unipaz:
“Uma vez que as guerras nascem no espírito dos homens, é no espírito dos homens que devem ser erguidos os baluartes da paz.”
A pedido de Pierre, submeti-me a um concurso para dar aulas em Brasília, na Universidade da Paz. Entrei com o meu currículo e usei o meu livro, “Os caminhos da Arte”, como roteiro da minha atuação na Universidade. Lembro-me de todas as sequencias desse concurso.

Agora estou mais uma vez em Brasília, revendo o passado.
Passamos pela cachoeira para tirar fotos. A cachoeira fica perto de uma construção de madeira com uma varanda. Ali ministramos vários workshops e assistimos muitas aulas.
O que aprendemos começa a fazer parte de nós mesmos. Somos todos Um, não existe separatividade entre as pessoas. Energetica e espiritualmente estamos ligados a tudo que existe, à água que cai em cascata muito branca, às árvores, às plantas, à vegetação do cerrado, às montanhas, aos mares, ao vento, às nuvens. Somos todos partes de um Todo.

Pierre tentou chegar à Unidade, reunindo psicologia, ecologia, religião, filosofia. Teve o mesmo insight holístico que eu tive também no Retiro das Pedras.
Ele morava na rua de baixo, mas recebeu também, na mesma ocasião, a mesma inspiração. Era preciso divulgar a integração que existe entre os seres humanos, a natureza, o universo. O meu modo de distribuir essas ideias foi um pouco através da palavra, mas principalmente através da forma, da cor e do incentivo à criação.
As artes plásticas ajudam também e Deus nos favoreceu com este canal de difusão da Paz.

José Aparecido soube compreender a visão de Pierre e aqui estamos na Granja do Ipê, frente à cachoeira, lembrando o passado e refletindo sobre o futuro.
Meu livro “Os caminhos da Arte” revela esta visão holística, este insight recebido numa madrugada em minha casa do Retiro das Pedras.

Agora me lembro: debaixo dessas árvores, sentada também num tronco de árvore, cantamos o Gayatri mantra, lembrando o workshop realizado no pátio em frente. Tingimos serragem com as cores básicas na véspera do evento.
No dia, 150 pessoas se reuniram no pátio. Seria vivenciada a dança de Shiva, o deus dançarino que criou o universo. Dividimos o grupo, distribuímos bolinhas de gude para representar as estrelas. Eram 500 bolinhas que foram divididas para os 150 participantes. Cada um segurava suas bolinhas e, ao comando de Shiva e ao toque de um tambor, elas eram jogadas no chão.
Uma pessoa riscava com giz o trajeto das bolinhas e os espaços eram preenchidos com serragem colorida. Ao final, uma grande Mandala foi criada, com dança e muita reverência. Usamos como trilha sonora a música I Ching, do grupo UAKTI.

Dançamos em torno da Mandala, e, sem nenhum comando, surgiu uma dança indígena improvisada, utilizando flechas retiradas do bambuzal em frente.
Sentir a Unidade através da arte é uma experiência fundamental.
Essas lembranças nos remetem ao passado, mas também se situam no agora, no presente.

A cachoeira continua fluindo, em cascatas, sempre seguindo o seu curso. Vai levando o passado e levará também o presente. Debaixo do bambuzal posso escrever melhor e perceber que um outro workshop holístico está sendo realizado dentro da cabana. Estamos esperando a Lydia, que já nos acenou da janela da cabana e nos fez sinal de espera. Pierre Weil já se foi para outro plano, ficou o Crema. Hoje há sempre gente trabalhando aqui, na educação, na psicologia, na espiritualidade, na arte.
A Unipaz foi uma conquista, que ela continue a dar seus frutos.
Aqui, neste lugar, sentimos florescer a paz.

*Fotos de Maurício Andrés


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