No imenso galpão com teto de bambu e decoração
oriental, a música vai se tornando parte de um todo que inclui a natureza
bucólica do entorno.
Neste cenário cheio de sons da natureza, outros sons
são criados dentro de um pequeno estúdio. Assisti à criação de uma trilha
sonora dedicada a um documentário intitulado “O território do brincar”.
O músico Alexandre Andrés, regula os altos e baixos
da flauta soprada por seu pai Artur, na sala ao lado, separada por uma parede
de vidro.
Durante uma hora ali fiquei assistindo à criação de
sons destinados a integrar as imagens do filme.
Aquela trilha sonora nos levava a uma experiência
única, da união entre as imagens e os sons.
No dia seguinte, conheci a educadora Renata Meireles
e o seu marido, o cineasta David Reeks que vieram de São Paulo para terminar o
vídeo. Foi armada uma tela grande onde pudemos assistir a uma sequência de
brincadeiras de criança. Segundo Renata, o documentário tem como ponto de
partida a tentativa de afirmação do olhar da criança e seu uso sobre os
brinquedos.
“Trabalhamos a ideia do brinquedo, não como suporte
de uma cultura, ou seja, o que a cultura oferece para a criança, mas
primordialmente, sobre o que a criança oferece para a cultura, e como acontece
a apropriação que as crianças fazem do brinquedo.”.
Estas palavras, retiradas de uma entrevista de
Renata Meireles, serviram de orientação para sentir de perto os objetivos do
casal de artistas pesquisadores. Conhecer o universo da criança, sua espontaneidade
em viver a liberdade de expressão de forma lúdica e prazerosa, foi o que pude
sentir ao ver o vídeo “Territórios do brincar.”
O vídeo vai nos conduzindo à nossa própria infância,
às brincadeiras de esconde-esconde, ao jogo da maré, aos carrinhos de rolimã,
onde escorregávamos pelas ladeiras de Belo Horizonte. No filme, há uma
sequência de crianças escorregando pelas dunas de uma praia, outras jogando nos
córregos barcos de papel ou construindo pequenos caminhões de madeira. Na
Avenida Afonso Pena em Belo Horizonte, havia um canal onde corriam as águas do
córrego “Acaba mundo” que desaguava no rio Arrudas. Fazíamos pequenos barcos de
papel, que jogávamos no córrego e corríamos rua abaixo, acompanhando o percurso
dos barquinhos. Os brinquedos da nossa infância eram, em sua maioria,
fabricados por nós mesmos. Lembro-me também de caleidoscópicos feitos por meu
irmão Paulo, a partir de cacos de vidros coloridos que recolhíamos nas ruas da
cidade. Brincávamos de Tarzã e Jane, habitantes das florestas, pulando de
“galho em galho” nas mangueiras do nosso quintal.
As crianças do documentário são crianças que não
possuem brinquedos comprados nos shoppings. O próprio fato de fazer o seu
brinquedo, já contribui para criar uma relação com o seu imaginário.
Brinquedos comprados não dão esta possibilidade de
pesquisar a curiosidade inerente à criança. Muitos demonstram sua curiosidade
desconstruindo e reconstruindo os brinquedos comprados.
No ano 2000 Renata Meireles, criadora do projeto
“território do brincar”, conheceu David Reeks. Juntos criaram o projeto BIRA
(Brincadeiras Infantis da Região Amazônica). Ela como educadora e pesquisadora,
ele como cineasta, percorreram 16 comunidades indígenas e ribeirinhas do Amapá,
Pará, Amazonas, Roraima e Acre. Produziram muitos filmes, premiados em vários
festivais de cinema.
Agora, com o Grupo UAKTI, fizeram uma parceria
aliando a sonoridade da flauta e da percussão aos jogos infantis, que vão
levando a alegria a espontaneidade da criança pelo Brasil afora.
*Fotos da internet
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