O texto abaixo, enviado por
Maurício Andrés é importantíssimo.
“A realização da Copa
do Mundo de futebol no Brasil testa a capacidade do país de se organizar, oferecer
mobilidade e segurança nas cidades Além disso, testa sua habilidade para receber
milhares de visitantes e turistas, aloja-los, dar-lhes condições de bem estar. Os governos são cobrados em sua
competência para realizar as obras necessárias a tempo e com custos adequados. A
sociedade se movimenta em torno do evento: alguns exaltam seu aspecto festivo, outros
criticam os gastos realizados. Ao se oferecer para sediar a Copa e ser escolhido,
o Brasil se propôs um desafio que
catalisou energias e recursos. Da mesma forma, uma cidade escolhida para sediar os Jogos Olímpicos induz
seus governantes a saírem da gestão do dia a dia; mobiliza organização,
planejamento, energias humanas e institucionais, monitoramento e fiscalização
para que tudo esteja pronto a tempo para o grande evento. O desfile de escolas
de samba no Rio de Janeiro, definido por Darcy Ribeiro como o maior espetáculo
da Terra também demanda tal capacidade.
Organizar eventos
festivos é um desafio pequeno se comparado a outros projetos coletivos. No
Brasil, a construção de Brasília foi um projeto que mobilizou vontade, determinação,
planejamento e capacidade de realização. Em Portugal no século XVI, as navegações foram cuidadosamente planejadas e
executadas com a participação da Escola de Sagres. No século XX a descida do homem
na lua foi evento que mobilizou esforço e inteligência coletiva, sob o comando
da NASA.
A construção das catedrais, das
pirâmides do Egito, da muralha da China mobilizaram vultosos
recursos econômicos, humanos, tecnológicos e de conhecimento. Foi necessário
pagar a subsistência de cada trabalhador, financiar, arrecadar e investir
recursos para que elas fossem realizadas com sucesso, durante
décadas ou séculos.
Dispor de um projeto, meta ou
mito unificador é um requisito importante para fazer convergir as energias humanas num rumo comum.
Em alguns casos, tais projetos que buscam a unificação interna são
essencialmente destrutivos e voltados para a dominação de outros povos, tais
como as grandes guerras. No sentido inverso apontam projetos de unificação politica, tal como o que se desenvolve na
União Europeia, com todos os desafios,
recuos e avanços que o caracterizam.
Para catalisar energias que levem
a um futuro promissor, a humanidade pode precisar de novos projetos e obras
unificadores. Um deles pode ser a construção de uma unidade politica planetária.
Edgar Morin em texto intitulado O grande projeto observa que “A fecundidade histórica do
Estado-Nação hoje se esgotou. Os Estados-Nação são por si mesmos monstros
paranóides incontroláveis, ainda mais sob ameaças mútuas. Uma primeira
superação dos Estados-Nação não pode ser obtida senão por uma confederação que
respeite as autonomias, suprimindo a onipotência”. “Mas nós ainda estamos na
"idade do ferro planetário": ainda que solidários, continuamos
inimigos uns dos outros e a explosão dos ódios de raça, de religião, de
ideologia, provoca sempre guerras, massacres, torturas, ódio e desprezo”. Um projeto
político ainda por se realizar é a constituição de uma Federação Planetária que
suceda a atual fase dos estados –nação e que avance em relação à Organização
das Nações Unidas, da mesma forma como essa avançou em relação à Liga das
Nações.
Um projeto unificador é necessário para lidar com a crise ecológica e climática
planetária.
Thomas Berry e Brian Swimme propõem uma obra coletiva de transitar dessa crise
para uma era em que exercitemos nossa capacidade de sustentar o mundo natural
para que o mundo natural possa nos sustentar, num processo de sustentabilidade recíproca. Eles observam que “Todos nós temos nosso trabalho particular.
Temos uma variedade de ocupações. Mas além do trabalho que desempenhamos e da
vida que levamos, temos uma Grande Obra na qual todos estamos envolvidos e
ninguém está isento: é a obra de deixar uma era cenozóica terminal e ingressar
na nova Era Ecozóica na história do Planeta Terra. Esta é a Grande Obra”. Eles
observam que “Precisamos reinventar o humano no nível da espécie porque os
temas com que estamos envolvidos parecem estar além da competência de nossas
tradições culturais atuais, seja individualmente ou coletivamente”.
A crise
climática está associada a uma crise da evolução biológica e cultural. Diante
da perspectiva de colapso planetário e da percepção dos limites da capacidade
de suporte do planeta, a busca da segurança motiva uma construção coletiva de
respostas. Um dos mitos unificadores atuais é o da sustentabilidade, que se
procura viabilizar por meio de um conjunto de iniciativas que envolvem
governos, empresas, organizações sociais e indivíduos. Imaginar um projeto
unificador, ter a determinação e mobilizar os recursos para colocá-lo em
prática numa obra coletiva é um pré-requisito para se construir um futuro
promissor.” (Maurício Andrés)
Autor de Ecologizar e de Meio Ambiente &
Evolução Humana WWW.ecologizar.com.br
ecologizar@gmail.com
*Fotos de
Maurício Andrés e de arquivo
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