domingo, 18 de maio de 2014

REALIDADE E SONHO

 A França, desde o século XIX tornou-se o principal centro das artes e a maioria dos movimentos artísticos do modernismo teve início em Paris e ali se desenvolveu. Contra a arte decadente e imitativa das academias de Belas Artes, começaram a germinar na França as primeiras ideias revolucionárias. Dali surgiu o movimento moderno de renovação. Foi na primavera de 1874 que jovens pintores hoje considerados mestres, tais como Renoir, Monet, Pizarro, Sisley, Degas, Cézanne, inauguraram em Paris a primeira exposição de arte moderna. A denominação impressionista dada pejorativamente ao grupo por um crítico mais exaltado foi adotada.
Hoje em Montmartre os turistas se aglomeram entre mesinhas, cavaletes e tintas. Querem ver os artistas pintando. Atualmente, quase todos são acadêmicos, atendendo ao gosto dos clientes, em contraste com os primeiros modernistas, que se reuniam naquele mesmo local e que romperam com as normas do passado para trazer o novo, o criativo. Sofrendo a incompreensão da crítica, passavam fome, não vendiam seus quadros, recusavam condecorações.
Hoje, suas telas são disputadas por preços astronômicos, pertencem aos grandes colecionadores e fazem parte do acervo dos melhores museus do mundo.
Van Gogh morreu pobre, era sustentado pelo irmão, nunca vendeu um só quadro. Hoje, suas telas valem milhões de dólares. O mercado de arte num plano internacional tornou-se uma bolsa de valores.
 Os intermediários disputam entre si o privilégio de vendas, daqueles que muitas vezes sofreram privações para realizar suas obras.
Guignard foi um deles. Viveu de forma simples, morreu pobre. Dava os quadros de graça para os amigos, era generoso também em seus ensinamentos. Não guardava segredo de nada. Pintava na frente de seus alunos, para que eles aprendessem a sua maneira de pintar, mas não exigia seguidores. Respeitava as tendências individuais dos jovens. Era admirado por intelectuais.  Viveu numa época em que os artistas plásticos tinham a liberdade de criar dos poetas e por isso mesmo Guignard foi um poeta das cores. Pintava livremente como cantam os pássaros celebrando a beleza dos céus de Minas, das ruas e montanhas de Ouro Preto.
Cecília Meireles em seu artigo “Estrela Breve” registra de forma sensível a trajetória de Guignard e sua morte repentina, no momento em que poderia desfrutar de uma vida mais confortável. Num domingo, ela recebeu a notícia de que Guignard seria finalmente amparado por uma Fundação, teria casa própria, automóvel, motorista e segurança para trabalhar. “Com a Fundação Guignard tinham acabado aquelas incertezas que afligiram o artista ao longo de sua existência”.
Em seu livro, continua Cecília: “No Domingo, refletíamos sobre o mistério da vida: um homem passa a maior parte da existência em sofrimento, abandono, miséria. De repente, brilha sobre ele uma nova estrela e tudo muda. No domingo, despedimo-nos contentes porque uma estrela bondosa viera iluminar o destino por tanto tempo melancólico do pintor Guignard. Na segunda feira, veio a noticia de que o grande pintor morrera.”
 Isso nos faz refletir sobre a condição da arte e dos artistas. A mesma história se repete ao longo dos tempos.
Na sociedade capitalista em que vivemos tudo vira mercadoria.
Esta visão imediatista e consumista muitas vezes constitui um embaraço para pesquisas históricas que poderiam ser feitas em torno daquele artista.
Esquece-se que uma obra de arte autêntica nascida de um contato direto com o ser interno do artista merece ser divulgada, conhecida e estudada.
O valor de um trabalho artístico, suas qualidades expressivas, não se limita a números e cifrões, mas atinge um espaço que lhe assegura realmente a permanência no tempo e sua equiparação com as demais artes.
Este espaço, fora do circuito mercadológico , os artistas conseguiram alcançar em vida e é justo que eles possam servir de exemplo para outros.

*Fotos da internet
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