Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
domingo, 18 de maio de 2014
REALIDADE E SONHO
A França, desde
o século XIX tornou-se o principal centro das artes e a maioria dos movimentos
artísticos do modernismo teve início em Paris e ali se desenvolveu. Contra a
arte decadente e imitativa das academias de Belas Artes, começaram a germinar
na França as primeiras ideias revolucionárias. Dali surgiu o movimento moderno
de renovação. Foi na primavera de 1874 que jovens pintores hoje considerados
mestres, tais como Renoir, Monet, Pizarro, Sisley, Degas, Cézanne, inauguraram em
Paris a primeira exposição de arte moderna. A denominação impressionista dada
pejorativamente ao grupo por um crítico mais exaltado foi adotada.
Hoje em Montmartre os
turistas se aglomeram entre mesinhas, cavaletes e tintas. Querem ver os
artistas pintando. Atualmente, quase todos são acadêmicos, atendendo ao gosto
dos clientes, em contraste com os primeiros modernistas, que se reuniam naquele
mesmo local e que romperam com as normas do passado para trazer o novo, o
criativo. Sofrendo a incompreensão da crítica, passavam fome, não vendiam seus
quadros, recusavam condecorações.
Hoje, suas telas são
disputadas por preços astronômicos, pertencem aos grandes colecionadores e
fazem parte do acervo dos melhores museus do mundo.
Van Gogh morreu
pobre, era sustentado pelo irmão, nunca vendeu um só quadro. Hoje, suas telas
valem milhões de dólares. O mercado de arte num plano internacional tornou-se
uma bolsa de valores.
Os
intermediários disputam entre si o privilégio de vendas, daqueles que muitas
vezes sofreram privações para realizar suas obras.
Guignard foi um
deles. Viveu de forma simples, morreu pobre. Dava os quadros de graça para os
amigos, era generoso também em seus ensinamentos. Não guardava segredo de nada.
Pintava na frente de seus alunos, para que eles aprendessem a sua maneira de
pintar, mas não exigia seguidores. Respeitava as tendências individuais dos
jovens. Era admirado por intelectuais. Viveu numa época em que os
artistas plásticos tinham a liberdade de criar dos poetas e por isso mesmo
Guignard foi um poeta das cores. Pintava livremente como cantam os pássaros
celebrando a beleza dos céus de Minas, das ruas e montanhas de Ouro Preto.
Cecília Meireles em
seu artigo “Estrela Breve” registra de forma sensível a trajetória de Guignard
e sua morte repentina, no momento em que poderia desfrutar de uma vida mais
confortável. Num domingo, ela recebeu a notícia de que Guignard seria
finalmente amparado por uma Fundação, teria casa própria, automóvel, motorista
e segurança para trabalhar. “Com a Fundação Guignard tinham acabado aquelas
incertezas que afligiram o artista ao longo de sua existência”.
Em seu livro,
continua Cecília: “No Domingo, refletíamos sobre o mistério da vida: um homem
passa a maior parte da existência em sofrimento, abandono, miséria. De repente,
brilha sobre ele uma nova estrela e tudo muda. No domingo, despedimo-nos
contentes porque uma estrela bondosa viera iluminar o destino por tanto tempo
melancólico do pintor Guignard. Na segunda feira, veio a noticia de que o
grande pintor morrera.”
Isso nos faz
refletir sobre a condição da arte e dos artistas. A mesma história se repete ao
longo dos tempos.
Na sociedade
capitalista em que vivemos tudo vira mercadoria.
Esta visão
imediatista e consumista muitas vezes constitui um embaraço para pesquisas
históricas que poderiam ser feitas em torno daquele artista.
Esquece-se que uma
obra de arte autêntica nascida de um contato direto com o ser interno do
artista merece ser divulgada, conhecida e estudada.
O valor de um
trabalho artístico, suas qualidades expressivas, não se limita a números e
cifrões, mas atinge um espaço que lhe assegura realmente a permanência no tempo
e sua equiparação com as demais artes.
Este espaço, fora do
circuito mercadológico , os artistas conseguiram alcançar em vida e é justo que
eles possam servir de exemplo para outros.
*Fotos da internet
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OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
domingo, 4 de maio de 2014
ABRACE A SERRA DA MOEDA
Este
convite é uma mensagem incisiva feita pelos moradores das montanhas.
Famílias
inteiras, jovens, idosos, crianças, cada um levando uma bandeira branca,
subiram o morro em procissão no dia 21 de abril, dia consagrado a Tiradentes,
herói da Inconfidência.
A
mensagem de paz foi levada até o topo da montanha, na proclamação de uma nova
Inconfidência, a inconfidência ecológica.
Levar
este abraço a todas as terras castigadas pela insensibilidade dos seres
humanos, é o que desejamos neste dia 21 de abril, segunda-feira, 2014.
Daqui
a alguns anos este clamor chegará aos ouvidos dos nossos netos e bisnetos,
todos aqueles que sobreviverão à destruição acelerada de Minas Gerais.
“Minério
não dá duas safras” foram as palavras de um antigo político de Minas Gerais
atestando para o que viria a acontecer anos após.
Sim,
a zona metalúrgica de Minas está sofrendo, o desgaste é galopante e é ingente
que se escute este alerta.
Minas
está morrendo...
Viajei
para Brasília recentemente.
Sentei-me
junto à janela do avião e fui apreciando
as plantações em torno da cidade de Brasília, todas organizadas em cores
diferentes obedecendo as formas geométricas – círculos coloridos lá em baixo,
círculos repetidos a perder de vista, um verdadeiro tapete de cores – ali as
plantações celebram a festa da natureza, e na próxima safra as cores serão
diferentes.
Procurei
no “Google” informações mais detalhadas sobre estas plantações que se
assemelham aos “ Crop Circles”, lá da Europa...
As
terras do Planalto Central são férteis e agradecem esta ordem das fazendas. Na
volta olhei para nossas Terras de Minas.
O
avião foi se aproximando de Belo Horizonte e ao invés de círculos coloridos, vi
crateras, escavações, sepultando para sempre a beleza da vegetação.
Na
sua destruição sem nenhuma reconstrução as Terras de Minas parecem dizer: Aqui,
em épocas remotas, existia uma montanha linda, um riacho, uma nascente.
É
urgente que se faça um planejamento tendo em vista a sustentabilidade. É
possível defender as montanhas que ainda restam, colocando-as como Monumentos.
O
Monumento Natural tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros,
singulares ou de grande beleza cênica.
Algumas
montanhas rodeiam monumentos históricos como a Serra da Piedade ou os Profetas
de Congonhas.
Além
da beleza natural, Minas foi considerada como a caixa d’água do Brasil, em
especial a caixa d’água do sudeste brasileiro que já está também ameaçado pela
avidez dos seres humanos.
Acabar
com as nascentes de Minas, com os riachos e rios de nosso estado é afetar
também o Brasil como um todo.
Nosso
século está sendo muito egoísta para com as gerações futuras, desconhecendo por
completo que elas também têm direito à sobrevivência.
O
abraço na Serra da Moeda significou uma tomada de consciência.
Muitas
pessoas ali presentes tiveram o privilégio de beber água pura, vinda das
nascentes naturais.
É
preciso lembrar que a exploração do ferro, necessária ao progresso, não é tão
importante quanto a água que é essencial à vida.
O
abraço à Serra da Moeda se estendia para todas as outras serras e nascentes.
A
caminhada foi emocionante. Os helicópteros sobrevoavam a região registrando a
manifestação pacífica, onde crianças, adultos e idosos, caminhavam juntos com
bandeiras brancas. Havia uma mensagem de paz que se elevava aos céus, em prece
coletiva pela preservação dos rios das nascentes, das matas, dos animais
rupestres e das flores dos campos.
*Fotos de Maurício Andrés
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sexta-feira, 2 de maio de 2014
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