sábado, 18 de janeiro de 2014


ECOLOGIZAR, O VERBO DA VEZ

Recebi de Maurício Andrés o texto sobre ecologia, que transcrevo abaixo:

O antropólogo,sociólogo e filósofo das ciências francês Bruno Latour deu uma entrevista (O Globo, 28-12-2013), na qual falou que ‘ecologizar’ é o verbo da vez: “Ecologizar é dizer: já que, de fato, não separamos questões de natureza e de política, já que a História recente dos humanos na Terra foi o embaraçamento cada vez mais importante das questões de natureza e de sociedade, se é isso que fazemos na prática, então que construamos a política que lhe corresponda em vez de fazer de conta que há uma história subterrânea, aquela das associações, e uma história oficial, que é a de emancipação dos limites da natureza. Ecologizar é um verbo como modernizar, exceto que se trata da prática e não somente da teoria. É preciso inovar, descobrir novas formas, e isso se parece com a modernização. Mas é uma modernização que aceita seu passado. E o passado foi uma mistura cada vez mais intensa entre os produtos químicos, as florestas, os peixes, etc. Isso é “ecologizar”. É a instituição da prática e não da teoria.”
Até 2007, esse verbo ainda não existia em dicionários em português, mas existia em castelhano. Em 2007, ele foi incluído na enciclopédia global Wikipédia, depois de um período de debates sobre a pertinência de inclui-lo.  Ver link http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecologizar. Em outubro de 2007, a pesquisa do termo ecologizar no Google apresentava 9.670 registros. Em abril de 2009 havia 20.500 registros e em janeiro de 2014, 22.200 registros em português. Em francês, para o verbo ecologiser, havia 9.970 resultados.
Definições do verbo ecologizar podem ser encontradas em alguns dicionários, porém de modo ainda rudimentar. No Aulete, é definido como “Conscientizar para a importância dos princípios ecológicos”. Tal definição ressalta o aspecto da consciência, mas não o de sua aplicação prática.
Uma professora da cidade de Salta, na Argentina, fez um dicionário de verbos. Meninas de 9 a 12 anos foram convidadas a defini-lo e ilustrá-lo. Um dos que elas definiram foi o verbo Ecologizar. As definições dadas pelas crianças argentinas refletem com clareza a variedade de concepções. Elas focalizam o mundo animal e vegetal; relacionam o ser humano com o ambiente; chamam a atenção para a responsabilidade humana por cuidar da Terra e do ambiente. Uma delas expressou as ameaças relacionadas com os desequilíbrios ecológicos e climáticos (Pensar que no futuro não existiremos); outra mostrou a importância da consciência ecológica (Usar a cabeça para proteger o meio ambiente); outra, ainda, chamou a atenção para a unidade entre o ser humano e o mundo, cujos destinos se entrelaçam (Pensar que se algo ocorre com a Terra, também acontecerá com o homem); outra enfatizou a importância de conhecer o aspecto original da ecologia, que relaciona bichos e plantas com seu ambiente (Inventar uma “plantologia” e uma “animalogia”); a relevância da ação humana (Fazer de nosso mundo um lugar melhor). Outras definições apontaram o poder do sentimento, do amor, do afeto, do cuidado com o planeta (Sentir o meio ambiente em suas mãos e cuidar dele); (Unir-se com a vida. Amar o mundo onde vives); (Dar um grande abraço no planeta). As meninas expressaram ideias relacionadas com o medo, com as consequências para o ser humano em sua relação com o meio ambiente, a importância da ciência e do pensamento.
No livro O verde é negócio, Hans Jöhr mencionava a “ecologização” da empresa, do escritório, da fábrica, do processo, do comércio internacional. Alguns pioneiros, como Edgar Morin, propuseram ecologizar o pensamento.
De minha parte, defino ecologizar como a ação de aplicar em todos os campos da vida os conhecimentos das ciências ecológicas. Ainda existe um déficit de compreensão do que seja ecologia. Entendimentos rudimentares a associam a bichos, plantas e sua relação com o ambiente em que vivem. Alguns a associam com a concepção biológica, pois a ecologia se originou nas ciências naturais no século XIX. Entretanto, ao longo do século vinte ela se ramificou em inúmeros campos – ecologia humana, ecologia cultural, ecologia política, ecologia social, ecologia energética, ecologia profunda ou do ser etc. Cada um desses campos tem seu conjunto próprio de conhecimentos e práticas. Ecologizar é um verbo e verbo é ação. Ecologizar é ativar o modo de ação ecológica necessário para direcionar o rumo da evolução. Da mesma forma como a sociedade se informatizou rapidamente no final do século XX, precisa rapidamente se ecologizar no inicio do século XXI.
Por acreditar na fecundidade desse verbo e das potencialidades de sua aplicação, escrevi em 1998 o livro Ecologizar. Em sua 4ª edição, em 2009, o livro desdobrou-se numa trilogia: o primeiro volume aborda os princípios para a ação; o segundo volume aborda os métodos para a ação. E o terceiro volume aborda os instrumentos para a ação. Como alguém que em sua vida profissional atuou na gestão ambiental, aprendi que o campo da gestão ambiental é um campo de gestão de conflitos, de construção de consensos possíveis e de criação de uma cultura de paz. Naquele mesmo ano de 1998, Bruno Latour perguntava em artigo “Modernizar ou ecologizar? essa é a questão”. Ele abordava o tema a partir de uma visão da ecologia política, de gestão de conflitos de interesses que se manifestam em vários dos temas ecológicos.
É preciso saudar o fato positivo de que ecologizar esteja sendo hoje proposto por Latour como o verbo da vez.

*Fotos de arquivo


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014


AMÍLCAR DE CASTRO, REPETIÇÃO E SÍNTESE

Escrevo num guardanapo no pátio do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) em Belo Horizonte. Enquanto espero, vejo grupos de teatro interpretando histórias de BH, os tempos imemoriais da rua da Bahia, a boemia da Gruta Metrópole, as meninas olhando o bonde passar.
Lá dentro, nos salões do CCBB, maravilhosamente reformados para este espaço cultural, uma exposição histórica e cultural acontece. É a retrospectiva com mais de 500 obras, de meu amigo e grande artista Amílcar de Castro. Felizmente ainda estou aqui na Terra para ver os colegas famosos sendo visitados, estudados e pesquisados pelo público interessado em arte. Amílcar começou a estudar arte à sombra do Parque Municipal, rodeado de alunos e alunas do Mestre Guignard. Saímos juntos para exposições e, lado a lado, aprendemos a usar o lápis duro e a linha contínua.
Amílcar aproveitou as lições do mestre, desenvolveu sua própria técnica, criou uma direção nova para a escultura mineira. O ferro tornou-se arte, uma arte de síntese como ele mesmo denominou, síntese e repetição. As formas são múltiplas e crescem em dimensões diferentes, alcançando o espaço com força e coragem.
 Amílcar, na sua trajetória, conquistou um nome nacional e internacional
A escultura contemporânea requer uma equipe para sua realização. Esta equipe necessariamente deve ser de grande competência e Amílcar encontrou o caminho certo no arquiteto Allen Roscoe, seu assessor. A exposição no CCBB vem comprovar o quanto de esforço foi exigido do jovem arquiteto para que estas esculturas monumentais pudessem existir. Hoje Allen trabalha para vários artistas, inclusive artistas do Rio e São Paulo. Allen Roscoe foi também fundamental para a realização de minhas esculturas.
Amílcar costumava frequentar a Oficina 5, atelier dirigido por Thais Helt, esposa de Allen, onde ele e vários artistas podiam trabalhar em pedras litográficas. Thais preparava as pedras e cada artista se expressava a seu modo. Muitas gravuras ali realizadas por Amílcar, estão presentes nesta exposição. O atelier de Thais era um ponto de encontro de artistas e ali podíamos também conversar e trocar idéias. Nesta equipe de trabalho, acrescento a participação de Márcio Teixeira, que acreditou na potência de Amílcar e patrocinou suas esculturas, bem como a excelente curadoria de Evandro Salles.
Reproduzo aqui alguns textos do catálogo da exposição:
“Com curadoria de Evandro Salles, a exposição reúne mais de 500 obras entre pinturas, esculturas em aço, madeira, vidro e mármore, coleção inédita de projetos de esculturas e uma grande coleção de litografias, muitas delas de grandes dimensões e nunca antes vistas em exposições.”
“O mineiro Amílcar de Castro foi um dos criadores – ao lado de Lígia Clark, Lígia Pape e Hélio Oiticica, entre outros- de vertente fundamental do movimento construtivo brasileiro, o Neoconcretismo. Esse movimento configurou-se no Rio de Janeiro, no final da década de 1950 e seus principais teóricos foram os críticos Mario Pedrosa e Ferreira Gullar.”
“Amílcar foi fundamentalmente escultor, desenhista e artista gráfico. Como artista gráfico, foi autor de uma das mais importantes reformas gráficas da imprensa brasileira: a reforma do Jornal do Brasil, realizada em 1957.”
“A grande invenção escultórica de Amílcar foi seu método construtivo denominado de “corte e dobra”, que consiste em, a partir de um plano, inscrever uma forma e lançá-la ao espaço de três dimensões. (Evandro Salles)

*Fotos de arquivo

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA