domingo, 22 de setembro de 2013

DA FIGURA AO ABSTRATO

Dando continuidade aos artigos dos críticos de arte que escreveram sobre o meu trabalho, publico aqui um depoimento  de Jacques do Prado Brandão, conhecido intelectual mineiro:

         “O primeiro traço marcante da personalidade de Maria Helena Andrés é sua extrema sensibilidade. Em seus desenhos e quadros, nas linhas que se desenvolvem marcando planos, nos contrastes de cores, sutis e delicados, encontramos a artista voltada sempre para o mundo exterior, sensível à inteligência da linha e ao inefável poder emocional da justaposição de dois matizes distintos.
         Quando das primeiras exposições do Grupo Guignard, que dividiu as artes plásticas em Minas num antes e num depois definitivo, aprendemos a distinguir os seus trabalhos pela exatidão minuciosa de seu lápis
         Em Guignard, mais do que um professor, Maria Helena Andrés encontrou a liberdade, a sua liberdade, podendo deixar que suas linhas seguissem em harmonia com a imaginação e o pincel, preso quase completamente ao anedótico, um campo mais amplo do domínio da cor. Desde então sua evolução foi rápida e segura. Trabalhando intensamente - onde quer que vá a pintora leva consigo lápis e papel para esboços e estudos - logo se projetou como um dos principais elementos do grupo e, em breve, via seus trabalhos premiados no Salão Nacional.
                   Em exposições coletivas do Grupo Guignard e numa exposição com Marília Gianetti Torres, apresentou-se Maria Helena Andrés sempre com uma grande variedade de quadros que, para o observador não atento ao desenvolvimento da artista, poderiam sugerir um temperamento inquieto e sujeito às mais diversas tendências da pintura atual. No entanto, é bem o contrário o que sucede. Maria Helena Andrés é desses artistas que preferem seguir os impulsos naturais de seu temperamento do que submeter-se a tendências e escolas. Prefere trabalhar no sentido de um aprimoramento mais interior, evoluindo naturalmente, de acordo com sua sensibilidade, de um quadro para outro, do que tentar aprender fórmulas avançadas do momento. Naturalmente, sua fina sensibilidade não deixa de conhecer o que de autêntico existe nas mais variadas experiências estéticas, mas a artista refugia-se no trabalho, defendendo-se assim das influências estranhas ao seu temperamento.
         A unidade que existe nas diversas fases de sua pintura é bem uma prova do que acabamos de dizer. Comparando dois períodos de sua pintura, aparentemente os mais diversos, vemos ressaltar as qualidades próprias da artista: o sentido de cor e de forma, o equilíbrio da composição a mais audaciosa.
         Sua fase lírica inicial, onde eram ainda bem visíveis os ensinamentos de Guignard, nas manchas de cor largas e colocadas em vibração, principalmente nas paisagens tendo por tema o Parque Municipal de Belo Horizonte, se a compararmos com uma fase bem posterior, de atmosfera noturna, já completamente livre da presença do mestre, onde a artista raspava a superfície do  quadro e fazia predominar os amarelos e os marrons, podemos distinguir as relações de uma fase com outra, no domínio da composição e na segurança pessoal do tratamento. E se observarmos os seus desenhos, esta unidade ainda mais se destaca, nos dando a linha evolutiva de sua carreira até hoje.
         Desde os trabalhos iniciais, sob a direção de Guignard, Maria Helena Andrés vem caminhando de um grafismo de contornos exatos para uma caligrafia ideal dos objetos, que se revela inicialmente nos seus estudos da vida rural. Rápidos esboços, feitos na fazenda onde a pintora passa as suas férias, que servirão de incentivo primeiro para as mais ousadas abstrações. Esses desenhos, onde a mão acostumada a uma disciplina severa acompanha o objeto presente num traço firme e sensível, servem de base à criação de mundo de formas, onde a imaginação da pintora pode se expandir livremente dentro dos limites exatos da tela.
         Pois, Maria Helena Andrés parte sempre, mesmo nos quadros de puro jogo formal de cores e planos, de dados observados diretamente da realidade, extraindo deles oculta beleza e submetendo-os aos ritmos próprios de sua composição.      Profundamente ligada à sua terra e à sua gente, com um raro conhecimento artesanal, delicada e sensível, Maria Helena Andrés é um dos valores novos de Minas, uma pintora de invulgar talento que se vai projetando firme e poderosamente como uma das expressões plásticas do Brasil." (Jacques do Prado Brandão, em “Maria Helena Andrés vista por Jacques do Prado Brandão”. Correio do Dia, Belo Horizonte, 20 de setembro de 1953)

*Fotos de arquivo

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