Dando
continuidade aos artigos dos críticos de arte que escreveram sobre o meu
trabalho, publico aqui um depoimento de
Jacques do Prado Brandão, conhecido intelectual mineiro:
“O primeiro traço marcante da
personalidade de Maria Helena Andrés é sua extrema sensibilidade. Em seus
desenhos e quadros, nas linhas que se desenvolvem marcando planos, nos
contrastes de cores, sutis e delicados, encontramos a artista voltada sempre
para o mundo exterior, sensível à inteligência da linha e ao inefável poder
emocional da justaposição de dois matizes distintos.
Quando das primeiras exposições do
Grupo Guignard, que dividiu as artes plásticas em Minas num antes e num depois
definitivo, aprendemos a distinguir os seus trabalhos pela exatidão minuciosa
de seu lápis
Em Guignard, mais do que um professor,
Maria Helena Andrés encontrou a liberdade, a sua liberdade, podendo deixar que
suas linhas seguissem em harmonia com a imaginação e o pincel, preso quase
completamente ao anedótico, um campo mais amplo do domínio da cor. Desde então
sua evolução foi rápida e segura. Trabalhando intensamente - onde quer que vá a
pintora leva consigo lápis e papel para esboços e estudos - logo se projetou
como um dos principais elementos do grupo e, em breve, via seus trabalhos
premiados no Salão Nacional.
Em exposições coletivas do
Grupo Guignard e numa exposição com Marília Gianetti Torres, apresentou-se
Maria Helena Andrés sempre com uma grande variedade de quadros que, para o
observador não atento ao desenvolvimento da artista, poderiam sugerir um
temperamento inquieto e sujeito às mais diversas tendências da pintura atual.
No entanto, é bem o contrário o que sucede. Maria Helena Andrés é desses
artistas que preferem seguir os impulsos naturais de seu temperamento do que
submeter-se a tendências e escolas. Prefere trabalhar no sentido de um
aprimoramento mais interior, evoluindo naturalmente, de acordo com sua
sensibilidade, de um quadro para outro, do que tentar aprender fórmulas
avançadas do momento. Naturalmente, sua fina sensibilidade não deixa de
conhecer o que de autêntico existe nas mais variadas experiências estéticas,
mas a artista refugia-se no trabalho, defendendo-se assim das influências
estranhas ao seu temperamento.
A unidade que existe nas diversas fases
de sua pintura é bem uma prova do que acabamos de dizer. Comparando dois
períodos de sua pintura, aparentemente os mais diversos, vemos ressaltar as
qualidades próprias da artista: o sentido de cor e de forma, o equilíbrio da
composição a mais audaciosa.
Sua fase lírica inicial, onde eram
ainda bem visíveis os ensinamentos de Guignard, nas manchas de cor largas e
colocadas em vibração, principalmente nas paisagens tendo por tema o Parque
Municipal de Belo Horizonte, se a compararmos com uma fase bem posterior, de
atmosfera noturna, já completamente livre da presença do mestre, onde a artista
raspava a superfície do quadro e fazia
predominar os amarelos e os marrons, podemos distinguir as relações de uma fase
com outra, no domínio da composição e na segurança pessoal do tratamento. E se
observarmos os seus desenhos, esta unidade ainda mais se destaca, nos dando a
linha evolutiva de sua carreira até hoje.
Desde os trabalhos iniciais, sob a
direção de Guignard, Maria Helena Andrés vem caminhando de um grafismo de
contornos exatos para uma caligrafia ideal dos objetos, que se revela
inicialmente nos seus estudos da vida rural. Rápidos esboços, feitos na fazenda
onde a pintora passa as suas férias, que servirão de incentivo primeiro para as
mais ousadas abstrações. Esses desenhos, onde a mão acostumada a uma disciplina
severa acompanha o objeto presente num traço firme e sensível, servem de base à
criação de mundo de formas, onde a imaginação da pintora pode se expandir
livremente dentro dos limites exatos da tela.
Pois, Maria Helena Andrés parte sempre,
mesmo nos quadros de puro jogo formal de cores e planos, de dados observados
diretamente da realidade, extraindo deles oculta beleza e submetendo-os aos
ritmos próprios de sua composição. Profundamente
ligada à sua terra e à sua gente, com um raro conhecimento artesanal, delicada
e sensível, Maria Helena Andrés é um dos valores novos de Minas, uma pintora de
invulgar talento que se vai projetando firme e poderosamente como uma das
expressões plásticas do Brasil." (Jacques do Prado Brandão, em “Maria Helena
Andrés vista por Jacques do Prado Brandão”. Correio
do Dia, Belo Horizonte, 20 de setembro de 1953)
*Fotos
de arquivo
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TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
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