No início
de 2013 passei alguns dias em Brasília. Logo no nosso primeiro dia ali, tivemos
a oportunidade de participar de um evento que se realizava na casa de Yara
Magalhães, uma senhora do Ceará que se estabeleceu em Brasília na década de 90.
Sua casa,
com uma sala ampla, apropriada para receber pessoas, está periodicamente aberta
ao publico interessado em cultura, arte, folclore e educação. No dia 6 de
janeiro, comemorou-se a Folia de Reis, ou Folia da Paz, da qual participam
artistas dos Bordados Dumont, da Casa de Agostinho da Silva, dos Tambores do
Paranoá e de Martinha do Coco. Esses grupos se reúnem para celebrar o Natal,
Reis e Pentecostes, trazendo a mensagem de paz para os participantes.
Houve a
alegria contagiante da dança de roda em torno da fogueira, com as pessoas de
mãos dadas, cantando as canções mais conhecidas, tais como Calix Bento e outras
canções de domínio público.
O calor
era transmitido pelas mãos dadas e pela fogueira no centro da roda, que
levantava estrelas de fogo sobre terreno de terra. Lá no alto, as estrelas
também pareciam participar daquela energia coletiva de comunicação e paz.
A paz
pode e deve ser transmitida em silêncio ou cantando uma canção coletiva, mãos
dadas por onde percorre a mesma energia de solidariedade e amor.
“Isto não
é uma festa como outra qualquer, é uma celebração, uma performance. Todos
juntos celebramos a união dos povos e a paz do mundo” . Com esse pensamento eu
pude perceber as pessoas e conhecer os cantores, os músicos, as bordadeiras, os
tambores...
Foi a
primeira impressão que tive de Brasília nesta viagem, uma impressão harmoniosa
abençoada pela festa de Reis. A folia de Reis, lá no interior de Minas Gerais,
é uma festa muito popular e reúne pessoas de diversos grupos sociais que
ensaiam o ano todo para se apresentarem com as famílias, maridos, filhos,
noras, sobrinhos. Saem de casa em casa cantando, como os trovadores de
antigamente.
Em
Brasília, vejo estandartes representando Jesus menino, anjos e outras figuras
bíblicas. O catolicismo incentivou a criação desses grupos que vieram de uma
tradição portuguesa e ainda vigoram até os nossos dias.
Yara abre
as portas de seu mirante porque acredita na união das pessoas em torno da arte.
Ela estuda as idéias de Sri Aurobindo e sempre está disponível para aprender e
divulgar o grande pensador indiano e gostaria de saber melhor o trabalho de
yoga integral de Sri Aurobindo. Forneci a ela dados sobre as minhas visitas às
escolas de Sri Aurobindo não somente em Pondicherry, como em Auroville, (cidade
Aurora) e em Delhi, no Sri Aurobindo Ashram.
Seguem aqui textos de Rolf Gelewsky, seguidor de Aurobindo e grande
educador e dançarino: “Educar é revelar, trazer para fora,
tornar patente o imenso potencial latente que aguarda as condições adequadas
para se tornar manifesto. É, segundo Aurobindo, extrair de si o melhor e
torna-lo perfeito para um uso nobre. Disso pode resultar uma vivencia tão
autentica e de tal força que desperte uma identificação cada vez mais profunda
do ser humano com seu caminho, um interesse cada vez mais total pela
humanidade, pela condição humana, pelo objetivo e destino de todos nos.” Educar
para o futuro, 1978 (adaptado).
Segundo Aurobindo, “educar, podemos dizer, significa
ajudar a acordar, ajudar a encontrar no próprio ser o ímpeto, a vontade de
movimentar-se e buscar e descobrir, de crescer, de progredir (...) significa
também aprender a lutar, aprender a intensificar a existência e cumpri-la com
decisão e consciência. Educar, basicamente é ajudar a assumir a vida; é levar o
ser a procurar e a aspirar à verdade, a sentir e chamar a luz e a força
encobertas nele mesmo; faze-lo perceber
a grande possibilidade que a vida é , o que com ela recebemos, e aprender,
conscientemente, a querê-la, vive-la , dá-la.”
“Privar o ser humano do que lhe é próprio e
característico, negar ou desconsiderar as oportunidades para a sua individuação
é “causar-lhe um mal permanente, mutilar o seu crescimento e deformar sua
perfeição. Isto é um ferimento à Nação que perde o benefício do melhor que um
homem poderia ter-lhe dado e é forçada, em vez disto, a aceitar algo imperfeito
e artificial, de segunda mão, superficial e comum.”
“Nós não
somos apenas aquilo que sabemos de nós, mas um imenso MAIS que não sabemos;
nossa momentânea personalidade é somente uma bolha sobre o oceano de nossa existência”.
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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