Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
UAKTI E BEATLES
Nas décadas de 1970 e 80, eu
tinha meu atelier em BH na garagem da casa de minha mãe. Ao lado, no porão da
mesma casa, o grupo UAKTI ensaiava suas músicas. Eu escutava os acordes, me
embalava naqueles sons criativos, que muitas vezes me conduziam a vôos mais
altos na pintura. Naquela ocasião eu pesquisava o cosmos e me abria para as
filosofias da Índia. Encantava-me
perceber a ligação da pintura com a música e sentir o papel da arte no
despertar do século XXI, unindo oriente e ocidente.
Os Beatles, rompendo
preconceitos, seguiram o caminho das Índias. Deixaram o conforto de Londres
para se dirigirem ao Oriente, buscando uma linguagem mais abrangente para sua
música. Meditando à beira do Ganges, perceberam a grandeza de sua proposta de
paz e chegaram com uma renovação completa da música contemporânea.
A apresentação do CD UAKTI x
BEATLES aconteceu no Palácio das Artes em Belo Horizonte , a
platéia superlotada com os apreciadores dos dois grupos musicais, vindos de
terras diferentes, mas unidos no mesmo objetivo de criação.
A melodia dos Beatles se
entrosava perfeitamente com os tambores, flautas, marimbas, chocalhos,
proporcionando um espetáculo de grande beleza e suspense.
Marco Antônio Guimarães subiu
ao palco e apresentou sua trajetória e sua admiração pelos Beatles, desde a
infância.
Os Beatles são ícones
internacionais e estimularam a criatividade de muitos artistas. Eu mesma, num
intervalo de muitas abstrações, dialoguei com os sons que me vinham da
vizinhança do UAKTI e criei na minha fase de arte coletiva, um quadro a 4 mãos
cujo tema era o famoso grupo inglês. Agora acompanho o espetáculo que se
desenrola no grande teatro do Palácio das Artes, me emocionando a cada passo e
a cada encontro. No final do espetáculo, que contou com a participação de
Regina Amaral e Josefina Cerqueira, esposas de Artur e Paulo, uma surpresa: os
filhos dos músicos foram chamados ao palco e se apresentaram cada um por sua
vez. Alexandre e Artur criaram um duo sobre
a canção "Black Bird".
Assistimos a apresentação da
filha de Décio Ramos tocando percussão e da filha de Paulinho Santos cantando
Yesterday.
Foi de grande importância a
apresentação dos filhos dos músicos e veio constatar o fato de que a arte vai
se prolongando no tempo e criando novas
mensagens e caminhos.
Lembro-me de uma homenagem a
George Harrison com a presença do músico indiano Ravi Shankar. A jovem filha de
Ravi regia a orquestra e o filho de George Harrison tocava guitarra. A arte
promove cada vez mais este encontro de grupos diversos e etnias diferentes, nos
grandes palcos do mundo e também nos pequenos repertórios. A grande síntese
está acontecendo e pode ser vista em cada cena que se desenrola espontaneamente
na criação dos artistas.
O caminho para a realização
da unidade planetária e unidade cósmica ultrapassa países e raças para se manifestar
de forma intensiva através de todas as artes, de modo especial a música.
Transcrevo aqui trechos da
reportagem de Cinthya Oliveira do jornal HOJE EM DIA sobre o show UAKTI-
BEATLES
“O desejo de registrar um
trabalho de homenagem aos Beatles é algo natural para um músico, segundo o
percursionista Paulo Sérgio Santos. “Todo mundo tem um momento de visitar a
obra dos Beatles. É uma influência que todo músico teve em sua vida, seja
melódica ou harmônica”, afirma Santos.
A idéia do projeto partiu do arranjador Marco Antônio Guimarães, um fã dos Beatles desde a juventude, quando chegou a ter uma banda cover dos ingleses.
Ele passou cerca de um ano trabalhando na adaptação das músicas para a peculiar sonoridade do Uakti. “Tive que respeitar bem a melodia porque, quando se adquire os direitos autorais, há uma exigência de que a música não pode ser muito modificada”, diz Guimarães, que selecionou as composições de que mais gostava e as que funcionavam melhor com os instrumentos do grupo.”
A idéia do projeto partiu do arranjador Marco Antônio Guimarães, um fã dos Beatles desde a juventude, quando chegou a ter uma banda cover dos ingleses.
Ele passou cerca de um ano trabalhando na adaptação das músicas para a peculiar sonoridade do Uakti. “Tive que respeitar bem a melodia porque, quando se adquire os direitos autorais, há uma exigência de que a música não pode ser muito modificada”, diz Guimarães, que selecionou as composições de que mais gostava e as que funcionavam melhor com os instrumentos do grupo.”
Fotos de Sylvio Coutinho e de
arquivo
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E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
NUNO RAMOS
Contemplo o trabalho do artista contemporâneo Nuno Ramos.
Peço uma cadeira para sentar e ficar quieta, simplesmente olhando para aquela
seqüência de triângulos que se justapõem, de formas geométricas em terceira
dimensão. Sombras e luzes, pretos e brancos, reflexos no espelho d’água onde as
formas submergem. A arte contemporânea permite o uso do espaço para construir e
realizar memórias escondidas nos subterrâneos do inconsciente. Foi justamente
realizando e concretizando essas memórias que Nuno Ramos produziu, com o
auxílio fundamental do arquiteto Alen Roscoe um trabalho de grande impacto.
“Pare e olhe, não fique se dispersando em conversas. Pare ,
olhe, observe, sinta o presente em toda a sua beleza e intensidade.”
Estas palavras me vêm de dentro, é necessário chegar até o
trabalho do jovem artista Nuno Ramos com total despojamento de idéias
pré-concebidas. Sentar e contemplar foi o que fiz e o significado da obra foi
me despertando momentos de reflexão. O primeiro toque me sugeriu serenidade e paz,
uma paz originada, não da sugestão do conteúdo, mas da forma. Conteúdo e forma
são importantes na realização de qualquer trabalho de arte, mas o que me tocou
logo de início foi a harmonia dos triângulos e retângulos, das sombras e luzes.
A demolição de 3 casas motivaram o
artista a produzir essa obra monumental. Veio do sofrimento, da perda, do
sentimento de compartilhar a dor, de transmutá-la e transformá-la em arte, como
uma flor de lótus que emerge do lodo. Esses momentos de vida são importantes se
vivenciados em toda a sua intensidade. Conduzem o artista a uma criação que se
liga intrinsecamente à sua própria vida, suas memórias e experiências. Na obra
de Nuno, exposta na Galeria Celma Albuquerque, senti o impacto da transmutação e
superação de uma experiência dramática vivida pelo artista.
Sobre a experiência artística,
temos uma página admirável do grande poeta que foi Rainer Maria Rilke:
"Versos não são, como tanta gente imagina, simplesmente sentimentos - são
experiências: é preciso ver muitas cidades, homens e coisas, conhecer o vôo dos
pássaros e o gesto das flores, quando se abrem pela manhã; voltar em pensamento
aos caminhos das regiões desconhecidas, aos encontros inesperados, às
separações já de longe previstas, às doenças da infância carregadas de
profundas e graves transformações, aos dias fechados ou de sol, às manhãs de
vento ao mar, às noites de travessia e de fuga. E tudo isto não basta. É
preciso, também, as memórias das vivências passadas e mesmo estas não bastam.
Pois é preciso também saber esquecê-las, quando são muitas, e ter-se a imensa
paciência de esperar que voltem novamente. E, quando então tudo tiver retornado
dentro de nós, como o sangue, a brilhar e a gesticular sem se distinguir de nós
mesmos, só então pode acontecer que, na hora rara, a primeira palavra de um poema
se levante no meio daquelas experiências e delas prossiga."
*Fotos da internet
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