“Leva-se vinte anos para estudar o Budismo, mas se a pessoa estiver preparada aprende em dois dias”. Quem estava falando era um jovem lama, de uns trinta anos, ladeado por dois discípulos canadenses. Estava na varanda de um mosteiro, a paisagem embaixo descortinava-se numa grande planície plantada, a terra dividida em espaços retangulares, preparada com cuidado para as chuvas que se aproximavam. Varas de bambu com panos coloridos, graficamente preparados com mantras, balançavam ao sopro do vento, espalhando paz no campo. Podiam-se ver as mesmas bandeiras em redor da grande stupa, ou templo budista, onde os devotos realizavam suas preces. As comunidades tibetanas se espalharam pelos Himalaias e é comum se ver bandeiras coloridas em toda essa região, incluindo o Butão. Os lamas viajam pela região levando os ensinamentos de Buda. Numa das palestras a que assisti, o lama se despediu dizendo: “Amanhã estarei dando aulas no Butão.” Os tibetanos falam pouco, não se ouve vozerio como na Índia, são discretos, e quando aprendem o inglês, resumem-se ao essencial.
A meta é o encontro com o estado de Vazio, onde as preocupações, conflitos e ansiedades não têm vez. É o encontro do homem com ele mesmo, com a sua própria interioridade, além do bem e do mal, do prazer e da dor, na busca do equilíbrio perfeito entre o corpo, a emoção e a mente. Procuram viver nesse estado de não envolvimento emocional, ou melhor, de não permanência nas conseqüências da emoção e nos embaraços criados pela mente. Todos explicam a mesma coisa de forma diferente, mas sempre estão prontos a ajudar as pessoas interessadas. Vem gente de longe para participar dos cursos e entrar em contato com os lamas.
Há várias técnicas de meditação, variando de acordo com as necessidades dos discípulos, mas todas levam ao mesmo ponto: o estado de atenção necessário a uma plena consciência das coisas. Todas insistem no não pensamento. Sentir, olhar e perceber o presente sem interferências do passado ou do futuro. Os nossos sofrimentos vêm de nós mesmos, dos nossos conflitos mentais e do acúmulo de imagens conflitivas na mente. Quando aprendemos a olhar a mente de forma direta, quando a esvaziamos por completo, percebemos um estado de Serenidade e Paz, que seria o estado natural do ser humano.
O caminho do meio, pregado por Buda há 2.500 anos, conduz a um estado de alegria sem excessos e à Felicidade a que tem direito a pessoa durante o seu curto tempo de permanência na terra. Mas, de um modo geral, esse tempo é gasto em várias atividades e somente uns poucos se aproximam da beleza desses momentos como um privilégio especial. Os ensinamentos dos lamas, quando se referem à observação dos próprios pensamentos, assemelham-se às instruções de Krishnamurti. “Olhe dentro de você mesmo, observe os movimentos de seu ego, suas reações à vida diária.”
Quando tomamos consciência de que tudo está na nossa própria mente, quando compreendemos como surgem, permanecem e acabam os nossos pensamentos, sentimos que eles são realmente os geradores de todos os nossos altos e baixos. O momento presente é sempre belo e cheio de luz. Somos nós que criamos a nossa própria dor.
*Fotos de Heloisa Oliveira
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Lindas fotos!
ResponderExcluirLindo texto!