sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DUAS EXPOSIÇÕES NO PALÁCIO DAS ARTES



Uma viagem pelo São Francisco nas passarelas do sonho

A exposição de Ronaldo Fraga vai nos conduzindo na semiobscuridade da sala, para os cenários da população ribeirinha do Rio São Francisco, povoada de lendas e superstições. Andamos por lugares onde o peixe é sobrevivência, e as redes nos contam histórias de nosso povo simples.
Escutamos a voz de Maria Betânia e lemos os versos de Bené Fonteles, o artista de Brasília que sempre esteve à frente das reinvindicações ambientais.
Crianças, jovens e adultos se divertem com o aspecto lúdico da mostra, onde o espectador participa pescando os peixes da região frente a uma projeção de vídeo tirada do fundo do rio.
Enquanto escrevo, passa um cartaz anunciando “Terça Poética”.
Aqui no Palácio das Artes, as artes se integram, poesia, música, pintura e agora a coleção de roupas de Ronaldo Fraga, inspiradas no rio São Francisco. O rio vai contando histórias de assombração.
Ele nos mostra também uma coleção de malas de tamanhos variados que remetem sempre aos viajantes pobres, carregando seus pertences pelo rio. Viajar de barco é também prazeroso. A orla do São Francisco vira capital da sanfona, nos diz um jornal de São Paulo.
“Um ônibus transformado em palco móvel percorre bairros e distritos de Juazeiro e Petrolina em mini shows que atraem centenas de pessoas e transformam as margens do Velho Chico em capital do forró Jazz Sanfoneiro por uma semana. “Enquanto Ronaldo Fraga nos mostra em Belo Horizonte, a riqueza cultural desta região do  Brasil,acontece este festival em Pernambuco e na Bahia, de onde participam artistas internacionais e brasileiros com abertura de Hermeto Pascoal e homenagens a Dominguinhos e Oswaldinho do Acordeon.

Crianças aprendem a gostar de música erudita

Crianças da periferia escutam atentas às aulas. Aprendem o nome dos instrumentos, a variedade de sons. A música vai sendo compreendida por aquela platéia jovem, e os ouvidos vão se acostumando com a diversidade de sons correspondentes aos instrumentos. No palco, a orquetra filarmônica de MG segue as explicações da professora. Cada instrumento é representado por um animal e assim as crianças aprendem música. A música é a forma de harmonização e as crianças da periferia precisam deste toque iniciático. O Palácio das Artes está aberto a todas as classes sociais. As aulas são gratuitas e os visitantes também podem participar e fotografar. Lá embaixo, no subsolo, visito uma exposição de artes plásticas, organizada pela equipe do “Valores de Minas”. Ali também as aulas são dadas diretamente, no local da exposição. Vou percorrendo a mostra e fotografando. A professora explica: o principal objetivo destas aulas é despertar a auto estima no aluno. “Eles transformam em cerâmica os fantasmas do inconsciente”.
Ali estão, reproduzidos por mãos adolescentes, pequenas esculturas representando o medo, o ciúme, a inveja, a competição.
Lembro-me do que vi na Índia, nas escolas de Krishnamurti. Ali também um grupo de adolescentes discutia o significado das palavras que perturbam o comportamento das pessoas. A discussão do grupo em torno das palavras que identificam os defeitos básicos do ser humano vai dismistificando os seus significados e ajudando a melhorar o comportamento. Aqui, no Palácio das Artes a cerâmica feita por alunos jovens dos bairros pobres também é uma forma direta e prazerosa de colocar a arte como auto- conhecimento. Vou fotografando e registrando o que eu vejo, o “bem e o mal”, feito por uma equipe de 5 alunos, e uma Medusa em forma gigante, também trabalho coletivo. Realmente, no mundo violento em que vivemos, a arte continua a oferecer espaço para um aprendizado de vida.

*Fotos de Maria Helena Andrés

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