Uma experiência de integração de dois grupos musicais de BH trouxe para a platéia da sala Juvenal Dias no Palácio das Artes um espetáculo inédito.
Dois grupos jovens, Alexandre Andrés e o grupo Quebra Pedra de Leonora Weissmann já com características próprias, buscaram alcançar o que tem de comum neste encontro de vozes e criar uma nova composição musical.
A música é, de todas as artes, a que mais se integra com o outro em busca de complementação e é justamente desta busca e deste encontro que surge a beleza de um concerto, de uma orquestra, de uma banda. Conjugar energias para o crescimento do grupo pressupõe amadurecimento e humildade.
Neste diálogo criativo é necessário que haja entre os músicos a consciência da unidade na multiplicidade que é o objetivo final de tudo que existe no planeta.
O resultado desta experiência em torno da música e da canção brasileira, onde várias linguagens se agregam, é de uma riqueza extraordinária.
Alexandre Andrés vem desenvolvendo um trabalho criativo intenso, tanto na música instrumental quanto nas canções, feitas em parceria com o letrista Bernardo Maranhão e registradas no seu primeiro CD “Agualuz”. Nesse trabalho autoral ele conta com a participação do baixista Gustavo Amaral, e do percussionista Adriano Goyatá. O CD já percorre o Brasil num caminho de sucesso, e Alexandre apesar de jovem já é considerado como um compositor de alta qualidade.
Alexandre tem seu estúdio numa fazenda no campo das Vertentes, município de Entre Rios de Minas.
Os pais de Alexandre são músicos famosos, apresentam-se nos palcos brasileiros e internacionais levando um pouco da vibração das paisagens mineiras para outras terras. Artur e Regina encontraram na “Fazenda das Macieiras” o lugar adequado para suas criações musicais e agora o jovem Alexandre também se inspira na poesia do Campo das Vertentes. Assisti a um ensaio dos jovens músicos no galpão onde Artur e Regina também fazem seus ensaios e percebi nos bastidores da arte a força e a serenidade necessárias a um trabalho de qualidade.
A música deste grupo de jovens vai surgindo neste recanto de Minas, lugar onde à noite pode se ouvir o zumbido dos insetos e o coaxar dos sapos. A música faz parte da história dessa região e até hoje se manifesta em novas vocações que vão surgindo. Ali podemos ver as veredas e os “corguinhos vários” de Guimarães Rosa homenageado por Alexandre e Bernardo Maranhão com o titulo Rosa do CD Água Luz. As terras e os costumes dessa região de Minas têm muita coisa em comum com o sertão de Guimarães Rosa as terras se assemelham e se continuam
“E há o riacho ávido, corguinhos vários, grégio o gado pastando. Após o escurecer, vão-se assim vaga-lumes ou o assombravel luar ou o céu se impõe de estrelas. Às duas margens da noite, totais grilos e a simultaneidade dos sapos, depois e antes do em-si-estremecer das cigarras”. Alexandre é leitor de Guimarães Rosa, e compõe sua musica no Campo das Vertentes que é um começo do sertão.
A contemplação de tudo isso é gratuita, não existe necessariamente a posse da natureza. Tudo que existe de mais belo no mundo é de graça, não precisamos comprar um pedaço de céu para ver as estrelas, nem ser proprietário do por-do-sol para admirá-lo
O grupo Quebra Pedra apresentou seu primeiro CD com a participação de Leonora Weissmann (voz) juntamente com Rafael Martini (piano e voz), os dois percussionistas: Mateus, Edson e o baixista Pedro.
O primeiro CD do grupo está começando um caminho de sucesso. Ali várias linguagens musicais brasileiras e mundiais se encontram sintonizando influencias ainda não ouvidas na canção brasileira. Alexandre lançou o CD Agualuz em 2008 e por sua vez Leonora também lançou em 2008 seu primeiro CD no mesmo ano. Os dois grupos de jovens começaram a se encontrar e perceber afinidades.
Assim como Alexandre, Leonora também pertence a uma família de artistas. Sobrinha de Frans Weissmann, filha de Selma Weissmann e Manuel Serpa, ela cresceu no meio das artes.
Como artista plástica sua carreira já está delineada com exposições em S.Paulo ,Belo Horizonte,e uma participação num encontro de jovens artistas na África . Hoje, ela toma direções mais abrangentes em sua relação Arte e Vida,realizando a síntese das artes em seu dia a dia: pratica ioga, faz meditação e sabe conjugar duas linguagens diferentes a música, arte do tempo, e a pintura arte do espaço.
O desenvolvimento de vários aspectos da personalidade auxilia na abertura de consciência e Leonora intuitivamente percebe esta ligação da arte com a vida.
A comunicação feita com o grupo de Alexandre mostra uma possibilidade nova para esses jovens, surgindo como o canto dos pássaros na arte brasileira, numa verdadeira floresta de sons que mostram a interdependência de todas as coisas. Entre violões, guitarras piano, vozes, baixos, tambores, percussão, os dois grupos se apresentam debaixo de aplausos.
Neste momento a música e a vida são integradas numa só voz.
*Fotos: Silvio Coutinho e outros
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