sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

LIVRO OBJETO

A Editora C/Arte, sempre à frente das iniciativas de vanguarda, inaugurou em novembro uma galeria de arte, com uma bela exposição de livros intitulada “Livrobjeto”.

Ali os livros tomaram formas diversificadas dependendo da criatividade de cada artista. Os visitantes podem não somente contemplar os objetos, como também tocá-los com uma luva. O Livro –objeto, ou livro do artista, contém mensagens, frases, textos, desenhos, memórias.
Deixa de ser um relato pessoal, para se transformar em pensamento poético, como o livro feito em lona de Marcos Coelho Benjamim ou os dizeres caligráficos de Maria do Carmo Freitas. Percorrendo a mostra encontramos a busca do vazio de Isaura Pena e as miniaturas de livros que não sei de Waltércio Caldas. Logo na entrada, o livro de Jorge dos Anjos, com as impressões gravadas em ferro quente sobre feltro, pode ser visto e manipulado. Ao fundo, Cláudia Renault reflete a transparência do vidro na madeira e Paulo Bruscky realiza suas experiências com peças de um computador. Arlindo Daibert é lembrado como pioneiro dessa arte, resgatando os castelos de Santa Teresa de Ávila. Daniel Escobar faz uma releitura dos guias de Belo Horizonte e Hilai Sami Hilal trabalha o livro em cobre, como as rendeiras do nordeste.

Destacamos a apresentação de Vera Casa Nova, introduzindo o público à exposição.

“Livro=objeto ; objeto=livro

O óbvio se instala diante do que olhamos. Um livro sob a forma de códice: díptico, tríptico, políptico; outras formas, cuja dobradura, pela dobradiça, vem a ser um desdobramento . Uma tautologia que não se reduz à repetição da forma.Volume de registro de artistas com sua dynamis particular. Tabuinha de inscrição transformada em escultura. Objeto semiótico. Transparência de signos da vida do artista, com suas faltas, desejos e afetos. Poemas que se dão a ver. Diagramas possíveis. A página consútil em relevo, com suas narrativas infinitas, da literatura ao cinema, à fotografia, à pintura, à gravura, à escultura.

Marcas, impressões do gesto, da palavra escrita no corpo da matéria escolhida, experiências do dentro e do fora. Invenção dos restos, dos dejetos, dos fragmentos .

Livro-jogo: jogo de forças, de efeitos, livro do acaso. Diferença que se realiza na história”.

A exposição é uma experiência muito boa. Mostra caminhos diversos com técnicas variadas trazendo à tona um caráter intimista e poético, uma revelação da alma de cada artista ali presente.


*Imagens:
1 - Jorge dos Anjos, Sem Título, madeira, ferro e presilhas, 2009.
2 - Hilal Sami Hilal, Caderno da Série Seu Sami, cobre/corrosão, papel feito a mão, 2007/2009
3 - Marcos Benjamim, Sem Titulo, grafismo sobre lona, 2008
4 - Isaura Pena, Sem Titulo, nanquim sobre papel, 2007/2009
5 - Paulo Bruscky, Intersigne VIII, técnica mista, 1993
6 - Arlindo Daibert, As Sete Moradas, fragmentos de livro sobre papelão, 1992

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