segunda-feira, 26 de outubro de 2009

VISITA A INHOTIM

Um carrinho aberto conduzia as pessoas para uma visita ao parque de Inhotim. Os jardins planejados inicialmente por Roberto Burle Marx iam mostrando a beleza e exuberância da flora brasileira. Sentada no banco de frente do carro observava os patos nadando no lago e formando círculos nas águas.
A arte contemporânea de Inhotim não está fechada no ambiente frio de um museu tradicional. Ela pertence a todo o espaço ajardinado, surpreendendo o visitante com o inesperado.
Cheguei sozinha e me deram como guia uma mocinha que me acompanhou a pé até a instalação de Rivane Neuenschwander. Pelo caminho me ofereceu algumas jabuticabas apanhadas na hora. Esta recepção descontraída logo me pôs à vontade para percorrer as alamedas do parque.
Rivane instalou sua proposta numa pequena casa de fazenda de 1874, a mais antiga construção remanescente da propriedade rural que deu origem a Inhotim. A casa foi restaurada para ser palco de uma instalação bastante original: pequenas bolas de isopor moviam-se aleatoriamente sobre um forro transparente, ativadas por circuladores de ar, formando nuvens no céu.
Lembrei-me de Guignard que nos mandava observar os movimentos das nuvens no céu.
Na instalação de Valeska Soares a música e a dança criavam um espaço de sonho. As figuras apareciam e desapareciam em um ritmo poético. Nessa dança virtual o visitante fazia parte do evento, ele se via nos espelhos e percorria a pista do cassino ali projetada como palco. Sentia-se jovem e dançarino, recuando no tempo em que as moças dançavam nas boates com as saias rodadas e os rapazes de terno branco. Ouvia-se uma música dos anos dourados, que ali foram relembrados, revividos e perpetuados. Valeska nos conduzia ao passado e nos fazia retornar ao presente num ciclo de grande beleza e poesia. A instalação de Valeska foi projetada para o Museu de Arte da Pampulha, mas ganhou em Inhotim um espaço maior, participante e envolvente.
O carro já nos esperava para uma nova viagem. Penetramos em uma trilha dentro da Mata Atlântica, podendo respirar o cheio da vegetação, o zumbido dos insetos e observar o entrelaçado do cipó abraçando as árvores. O percurso dentro da mata já nos permitia entrar em comunhão com a natureza.
Ali, foi construído um galpão onde ouvimos a música instrumental conjugada com vozes femininas e masculinas. Sentamos para apreciar a estranha música intitulada “Revoada de corvos”, e por alguns momentos ali ficamos, dentro daquela atmosfera mágica onde os sons da natureza formavam uma orquestra. Os dois artistas Janet Cardiff e George Bures Miller tem uma presença muito forte em Inhotim e sensibilizam o visitante para um vôo espacial com esta revoada de pássaros. O despertar sensorial nos fez sentir melhor a Mata na viagem de volta.
Finalmente, Chris Burden com suas esculturas de barras de ferro, construídas no sistema de improvisação, proporcionavam um impacto para o visitante. Ali, ele podia penetrar na instalação, tocar com as mãos o ferro, sentir sua aspereza. As barras foram jogadas ao acaso, através de guindastes, sem projetos premeditados, e foram fixadas no chão de cimento fresco, formando uma floresta de ferro. O processo de criação dessas esculturas nos fazia lembrar os pintores da Action Painting.
Inhotim é uma jóia da arte contemporânea. Parabéns a Bernardo Paz por essa iniciativa de abrir ao público seus jardins e seu acervo. A arte contemporânea precisa de espaço, e ali, no meio de plantas e árvores frondosas, ela está recebendo generosamente o aconchego necessário para sua realização.

*Fotos de Maria Helena Andrés e Marília Andrés Ribeiro

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