Neste domingo de sol, saímos das Pampulha para visitar duas exposições no centro de Belo Horizonte, no Museu Inimá de Paula, situado na tradicional Rua da Bahia. Visitamos primeiro a exposição de Monica Sartori, artista da Geração 80, que já expôs em Sala Especial na Bienal de São Paulo. Monica é minha vizinha, moramos no mesmo condomínio, o Retiro das Pedras. Em seguida, visitamos a exposição de Vitor Brecheret, no primeiro andar do Museu.
Percorremos a
exposição apreciando como a artista se expressa com maestria através da linha.
São linhas paralelas, sinuosas, sensíveis.
Agora, Monica
transforma a linha, percorre vales e montanhas e nos mostra as flores do cerrado.
São flores
campestres, que nascem espontaneamente, sem ninguém plantar ou regar. São
simples e belas, nascem no campo e apreciam o sol nascendo e se pondo,
totalmente ao sabor da natureza e dos ritmos de nascimento e morte.
Monica sempre viveu
no Retiro e as flores do cerrado são suas companheiras de vida.
Ali no Retiro, os
campos se estendem a perder de vista. As linhas de Mônica continuam vibrando em
música, desta vez espalhando flores pelo caminho.
Sua exposição faz
bem à alma.
Descendo para o
primeiro andar do Museu Inimá de Paula, visitamos a exposição de Victor
Brecheret, que também procura, como Monica Sartori, uma ligação com a natureza,
a terra e suas origens. Monica revela ao público as flores do cerrado, que
surgem espontâneas, sem ninguém plantar. Brecheret pertence a uma outra
geração, anterior, estudou na Itália. Ali encontrou outros modernistas em plena
atividade. Sua arte é uma síntese do modernismo que se instalou no Brasil,
aliado às nossa origens indígenas. Brecheret era escultor, mas também grande
desenhista. Seu trabalho contínuo e ininterrupto transmite a força de um
artista genuinamente brasileiro que estudou e transmitiu as tradições dos povos
originários. Sua simplicidade de linhas e formas estavam perfeitamente
expressadas pela arte dos indígenas, arte simples e despojada. Os indígenas
viveram há milênios nas florestas, mas não se inspiraram nas plantas e nas
flores de seu meio ambiente.
São padrões
geometrizados que se enquadram perfeitamente nos padrões da arte construtiva.
Quando Brancusi nos
trouxe a pureza das formas, Brecheret encontrou nas origens brasileiras esta
mesma característica.
Percorrendo a exposição
podemos sentir perfeitamente esse encontro da arte europeia com a arte simples
e despojada dos indígenas brasileiros.
“Eu nunca te
encontraria se antes não estivesses comigo” (Saint Exupery)
Este despojamento
do supérfluo, próprio do modernismo, dialogava de forma penetrante com as
características vindas da Europa.
Brecheret se
debruçou no estudo dos indígenas e percorreu o mundo maravilhoso dos habitantes
das nossas florestas.
Conheci em 1951 a
arte de Brecheret que foi premiada na I Bienal de São Paulo. Nossas origens
brasileiras ressurgem das florestas, levantando a bandeira da simplicidade de
formas.
Nas palavras de Maria
Izabel Branco Ribeiro, curadora da exposição: “Brecheret não registrava as
peculiaridades dos diferentes grupos indígenas, mas o mundo novo que
vislumbrava.”
Visualizando as
duas exposições, percebemos que existe uma ligação entre elas, que não se expressa
em estilos diversos, mas têm uma ligação profunda com as nossas origens. A
pesquisa da terra e da vegetação do cerrado, caracterizado pelos desenhos de
Monica Sartori se encontram com a arte de Brecheret sob o mesmo teto, no Museu Inimá
de Paula, apesar de pertencerem a épocas diferentes. Elas têm em sua origem
mais profunda o “eterno agora”, a busca incessante do ser humano em torno da
mesma ideia: Quem somos, de onde viemos e para onde vamos?
*Fotos de Marília
Andrés
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