Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 12 de maio de 2015
KANDINSKY EM BELO HORIZONTE
Percorri a exposição de
“Kandinsky, tudo começa num ponto” no centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de
Belo Horizonte. Observei com muita emoção os quadros deste grande artista,
pioneiro da Arte Abstrata. Ao lado de trabalhos de seus contemporâneos e de
artistas que o influenciaram, a exposição apresenta a obra de Kandinsky de
forma holística, para entendermos como essas influências ecoam, ainda hoje, na
arte contemporânea. Vestimentas xamânicas foram incluídas na exposição, assim
como pinturas de outros artistas que conviveram com ele na ocasião.
Há mais de 30 anos
quando estava escrevendo o livro “Os Caminhos da Arte”, estudei a obra de
Kandinsky e o seu livro “O Espiritual na Arte” foi uma referência para mim
naquela ocasião. Segue o capítulo escrito na época para o meu livro:
“Kandinsky, considerado
o primeiro pintor abstrato, procurou, por meio da arte, o encontro com o seu
mundo interior. Empenhou-se na redescoberta da poesia na pintura e na
musicalidade das cores. Desligou-se das representações tradicionais do espaço à
procura de outra dimensão situada no inconsciente. Pintou símbolos fantásticos,
ligados às antigas civilizações orientais, que o colocaram como intermediário
entre o Oriente e o Ocidente. Formas geométricas, triângulos, círculos,
misturam-se aos arabescos, estrelas e faixas de cor.
Sua importância,
projetando luz sobre o caminho da arte, não se limitou à pintura. Suas ideias,
expostas no livro “O Espiritual na Arte”, revelam uma filosofia de vida.
Considerava a necessidade interior elemento essencial na obra de arte, sem a
qual tudo o mais se esvaziaria: regras , ensinamentos e todos os conceitos
teóricos que tentam esclarecer, mas que, quase sempre, fazem secar a fonte
criadora do artista.
Segundo Kandinsky em “O
Espiritual na Arte”, a conceituação a todo custo, de escolas e tendências, a
pretensão de querer encontrar numa obra regras e certos meios de expressão
particulares de uma época, só pode servir para desorientar-nos e finalmente reduzir-nos
ao silêncio. O artista deve ser cego frente à forma, reconhecida ou não, do
mesmo modo que deve ser surdo aos ensinamentos e desejos de seu tempo. Seu olho
deve estar aberto para sua própria vida interior, seu ouvido, sempre atento à
voz da necessidade interior.
Refletindo sobre os
problemas artísticos de seu tempo, a efervescência de ideias e conceitos e a
rapidez com que eram consumidos e abandonados, Kandinsky refugiou-se no seu
interior. Ali encontrou a resposta que lhe permitiu lançar diretrizes para sua
arte e para sua vida.
Se a criatividade é uma
das forças propulsoras do homem, se ela é uma forma de energia que integra e
equilibra, não poderá se firmar nos conceitos exteriores, nas fórmulas, no
sucesso, nas promoções. O êxito artístico, considerado por muitos como um fim a
ser alcançado a todo custo, muitas vezes bloqueia e paralisa o desenvolvimento
do ser humano em sua totalidade. Para encontrar essa totalidade, o artista
afasta, como Kandinsky, seus olhos das contingências exteriores e os volve para
seu interior. Os grandes artistas nos oferecem o exemplo de suas lutas e
buscas, conscientizando-nos da necessidade de ampliar as fronteiras da arte
para níveis mais altos. Kandinsky, além de pintor e professor, estava também
preocupado em estudar a integração entre as diversas artes. Considerava a
música uma propriedade do ser humano, e procurou o relacionamento existente
entre as cores o os sons.” (Os Caminhos da Arte, Editora C/Arte)
*Fotos da internet
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