terça-feira, 12 de maio de 2015


KANDINSKY EM BELO HORIZONTE

 Percorri a exposição de “Kandinsky, tudo começa num ponto” no centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Belo Horizonte. Observei com muita emoção os quadros deste grande artista, pioneiro da Arte Abstrata. Ao lado de trabalhos de seus contemporâneos e de artistas que o influenciaram, a exposição apresenta a obra de Kandinsky de forma holística, para entendermos como essas influências ecoam, ainda hoje, na arte contemporânea. Vestimentas xamânicas foram incluídas na exposição, assim como pinturas de outros artistas que conviveram com ele na ocasião.

Há mais de 30 anos quando estava escrevendo o livro “Os Caminhos da Arte”, estudei a obra de Kandinsky e o seu livro “O Espiritual na Arte” foi uma referência para mim naquela ocasião. Segue o capítulo escrito na época para o meu livro:

“Kandinsky, considerado o primeiro pintor abstrato, procurou, por meio da arte, o encontro com o seu mundo interior. Empenhou-se na redescoberta da poesia na pintura e na musicalidade das cores. Desligou-se das representações tradicionais do espaço à procura de outra dimensão situada no inconsciente. Pintou símbolos fantásticos, ligados às antigas civilizações orientais, que o colocaram como intermediário entre o Oriente e o Ocidente. Formas geométricas, triângulos, círculos, misturam-se aos arabescos, estrelas e faixas de cor.
Sua importância, projetando luz sobre o caminho da arte, não se limitou à pintura. Suas ideias, expostas no livro “O Espiritual na Arte”, revelam uma filosofia de vida. Considerava a necessidade interior elemento essencial na obra de arte, sem a qual tudo o mais se esvaziaria: regras , ensinamentos e todos os conceitos teóricos que tentam esclarecer, mas que, quase sempre, fazem secar a fonte criadora do artista.
Segundo Kandinsky em “O Espiritual na Arte”, a conceituação a todo custo, de escolas e tendências, a pretensão de querer encontrar numa obra regras e certos meios de expressão particulares de uma época, só pode servir para desorientar-nos e finalmente reduzir-nos ao silêncio. O artista deve ser cego frente à forma, reconhecida ou não, do mesmo modo que deve ser surdo aos ensinamentos e desejos de seu tempo. Seu olho deve estar aberto para sua própria vida interior, seu ouvido, sempre atento à voz da necessidade interior.
Refletindo sobre os problemas artísticos de seu tempo, a efervescência de ideias e conceitos e a rapidez com que eram consumidos e abandonados, Kandinsky refugiou-se no seu interior. Ali encontrou a resposta que lhe permitiu lançar diretrizes para sua arte e para sua vida.

Se a criatividade é uma das forças propulsoras do homem, se ela é uma forma de energia que integra e equilibra, não poderá se firmar nos conceitos exteriores, nas fórmulas, no sucesso, nas promoções. O êxito artístico, considerado por muitos como um fim a ser alcançado a todo custo, muitas vezes bloqueia e paralisa o desenvolvimento do ser humano em sua totalidade. Para encontrar essa totalidade, o artista afasta, como Kandinsky, seus olhos das contingências exteriores e os volve para seu interior. Os grandes artistas nos oferecem o exemplo de suas lutas e buscas, conscientizando-nos da necessidade de ampliar as fronteiras da arte para níveis mais altos. Kandinsky, além de pintor e professor, estava também preocupado em estudar a integração entre as diversas artes. Considerava a música uma propriedade do ser humano, e procurou o relacionamento existente entre as cores o os sons.” (Os Caminhos da Arte, Editora C/Arte)

*Fotos da internet

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