Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
CÉLIA LABORNE, ARTISTA MÚLTIPLA
Conheci Célia Laborne desde criança, quando da
criação do Minas Tênis Clube. Célia morava em frente, era nadadora oficial do
Minas, conquistando ali várias medalhas.
Aquela coragem de se jogar nas águas da piscina, percorrer
espaços, conquistar prêmios, não era para qualquer adolescente da época. Lembro-me
de ficar sentada na arquibancada, torcendo por aquela nadadora mirim que, aos
12 anos de idade, conquistava troféus.
Mais tarde fui encontrar Célia na Escola de belas
Artes Guignard, onde ela se inscreveu na primeira turma. Célia era muito
sensível, desenhava flores e paisagens do parque e dava preferência às aguadas
transparentes. O elemento água preponderava em seus trabalhos muito elogiados
pelo mestre Guignard.
Transparência, sensibilidade, observação da
natureza, das árvores, dos céus de Minas. As aquarelas e o desenho de linha com
lápis duro, estimulados pelo mestre, caminharam juntos com outra forma de
expressão da artista, a palavra escrita e falada. Surgiram versos espontâneos,
líricos. O lirismo próprio de nossas montanhas, transbordava nos versos e nas
cores, conjugando as duas formas de arte numa só inspiração.
Célia guardava os versos, que lhe vieram muito antes
da pintura, desde os 13 anos de idade. Eram seus, o seu colóquio com os níveis
mais profundos de consciência, uma abertura para o campo imensurável da poesia.
Seus poemas surgiram da necessidade de expressão de uma jovem de Minas Gerais
que, das montanhas lançava o seu canto.
Ser artista é um caminho neste planeta, um caminho
de abertura de consciência, um diálogo com Deus.
Seus textos espiritualistas despertaram a atenção de
pessoas ligadas à mesma sensibilidade, muitas vezes residindo em lugares
distantes. Foi do Oriente que ela assimilou a profundidade dos pensamentos
filosóficos e poéticos.
Célia foi cronista de vários periódicos da cidade de
Belo Horizonte e sua coluna ficou conhecida através do jornal “Estado de
Minas”, onde ela ocupava o espaço denominado “Vida Integral”. Célia foi a
primeira e quase única jornalista que divulgou as filosofias orientais e as
técnicas de meditação, relaxamento e a importância da respiração. Seus
seguidores são múltiplos, e sua mensagem transpôs as fronteiras de Minas, para
alcançar outros espaços mais amplos. Atravessou os mares, foi bem recebida em
Portugal, na Europa e nos Estados Unidos. Em Florianópolis eles se
transformaram em vídeo, através da iniciativa de um seguidor.
A mensagem de Célia é poética e espiritual, e
penetra num espaço pouco explorado pelos poetas modernistas. Situa-se numa
linha bem própria, estudando mestres de Yoga tais como Vivekananda, o primeiro
a introduzir a Yoga no mundo ocidental. Sua mensagem é ecumênica, abrange
religiões, filosofia e as ci~encias mais modernas tais como a física quântica.
Ela partiu do estudo mais denso para os mais sutis.
Seu universo está situado em níveis mais altos de
consciência, naquele espaço onde a palavra toca a alma das pessoas para
ajuda-las a transcender o cotidiano.
O cotidiano é importante, mas existe um espaço além,
onde muitas vezes a palavra não consegue penetrar.
Os textos de Célia nos conduzem para este espaço
além do noticiário dos jornais. Célia é jornalista e poeta e continua divulgando
suas mensagens através de seu blog “Vida em Plenitude”.
Ali a palavra é o toque mágico que nos conduz ao
infinito, para uma dimensão transcendente, além da Terra.
Todos nós devemos um pouco a esta mensageira da paz
e da harmonia entre os seres vivos.
Abaixo, segue um dos poemas de Célia Laborne:
Quem será Este que apenas antevejo e já me transfigura? E amplia em mim doação e paz – como um aroma a indicar amanhecida flor?
Quem é Ele que
ainda não o vi e já o pressinto como o mais caro, amorável e luminoso?
Comandando o tempo e o espaço, Ele chega...
Quem é Este que
ainda não toquei e já vibra em mim e se comunica e se transmite?
Quem é Este que o
silêncio desvenda?
Quem se oculta
atrás de tanta força e harmonia e sabe fazer-se pequeno em minhas palavras?
Quem se vai
tornando dádiva nas minhas humílimas mãos que transbordam em oferenda?
Ah! O Teu nome que
é flor e canto e vento leve e suave cor... Teu nome mutável, maleável que se
instalou em mim como seiva e fruto!
Este nome repercute
e vibra para encher minhas horas e meus dias e dizer-me tudo sobre Teus
caminhos.
Ah! O Teu nome
violento, sem fronteiras, campo de amor e de conquista. O Teu nome que só o
silêncio conhece...
Esse nome
indecifrável que me acorda e se funde no meu próprio nome para fazer-me viva. O
Teu nome que me dissolve e recria.
Enquanto o ouço
desdobram-me como flor à espera da revelação...
Já não sou a voz, a
palavra, a ideia, o gesto, mas e tão só, o instrumento dócil da entrega.
Entretanto, assim
sendo, cresço em harmonia e tudo em mim se alarga e se faz ilimitado.
Sou o rio por onde
navega o Criador da fonte; por isso posso identificar-me à vida, à luz, ao
amor.
Agora, já não canto
meu canto, entoo o hino do que está em mim.
*Fotos da internet
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